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Idosos estão entre os mais afetados pelas mudanças climáticas

Idosos estão entre os mais afetados pelas mudanças climáticas

Apesar dessa vulnerabilidade, a mobilização das pessoas mais velhas também é importante para frear os efeitos da crise climática

Embora todos nós sejamos afetados em algum grau por condições climáticas extremas, são os idosos – especialmente as mulheres mais velhas e aqueles com deficiências –, que tendem a ser os mais vulneráveis. Quem enfrenta mais dificuldades é algo parcialmente determinado pela idade, mas também por condições de saúde pré-existentes, bem-estar mental e circunstâncias sociais e econômicas.

À medida que os extremos climáticos se tornam mais frequentes e intensos devido às mudanças climáticas, a população mundial envelhece. Isso apresenta um desafio global significativo. Em 2030, cerca de uma em cada seis pessoas em todo o mundo terá 60 anos ou mais. Até esse momento, espera-se que esse grupo etário seja de 1,4 bilhão de pessoas e aumente para 2,1 bilhões até 2050.

Infelizmente, muitos idosos carecem dos recursos físicos, mentais, sociais e financeiros necessários para evitar ou minimizar os efeitos do clima extremo, especialmente no sul global. Sabemos que ondas de calor podem ser fatais para os idosos devido à reduzida capacidade de regular a temperatura corporal na terceira idade, por exemplo. Isso piora com condições de saúde crônicas, como doenças cardiovasculares e respiratórias, diabetes e suscetibilidade à desidratação.

Nas últimas duas décadas, as mortes relacionadas ao calor entre pessoas com 65 anos ou mais quase dobraram globalmente, chegando a aproximadamente 300 mil mortes em 2018. O verão europeu de 2022 resultou em 9.226 mortes relacionadas ao calor entre pessoas de 65 a 79 anos, com um aumento significativo para 36.848 mortes para aqueles com 80 anos ou mais.

Não se trata apenas de ondas de calor. Inundações, por exemplo, também podem causar lesões imediatas e morte em idosos. As inundações no Paquistão em 2022 afetaram cerca de 2,3 milhões de idosos. Muitos deles não tinham mobilidade o suficiente para escapar ou eram particularmente vulneráveis à diarreia, à malária e a outras doenças que se espalham rapidamente em áreas alagadas.

Com incêndios florestais, os idosos têm menos probabilidade de receber alertas a tempo devido ao acesso limitado a telefones e outras tecnologias de comunicação digital. Como resultado, eles podem permanecer inconscientes e estar despreparados para enfrentar o perigo iminente, tornando a evacuação difícil. Eles também têm mais probabilidade de sofrer perdas financeiras significativas, já que perdem suas próprias casas, e podem enfrentar dificuldades para se recuperar com rendas limitadas.

Ciclones tropicais, como furacões, têm sido associados ao aumento de hospitalizações entre os idosos. No início de 2023, o Ciclone Freddy atingiu vários países do sul da África. Malawi foi o mais afetado, e embora os idosos tenham sido os mais prejudicados, foram os últimos a receber ajuda.

Os idosos têm muito a contribuir

A ONU reconheceu a ameaça que as mudanças climáticas representam para os direitos humanos dos idosos. O etarismo, que pode levar os idosos a serem negligenciados ou ignorados, agrava o impacto das mudanças climáticas. A marginalização dos idosos é reforçada por suposições tendenciosas de que eles são frágeis, doentes e dependentes, o que justifica ainda mais práticas de exclusão.

No que diz respeito à ação climática, os idosos muitas vezes enfrentam estereótipos de serem “passivos, incapazes e reclusos”. No entanto, eles têm muito a contribuir para enfrentar esse problema global. Conforme a sociedade envelhece, há um número crescente de pessoas aposentadas que são instruídas, ativas e desfrutam de vidas mais longas. Elas possuem recursos econômicos e sociais únicos que podem ser extremamente valiosos para lidar com as mudanças climáticas.

Os aposentados também têm um poder de voto significativo e influência econômica, que podem ser aproveitados para promover políticas climáticas. A ação climática frequentemente é associada aos jovens e cerca de 70% dos menores de 18 anos que responderam a uma grande pesquisa mundial da ONU acreditam que as mudanças climáticas são uma emergência global. Mas seus colegas mais velhos não ficam muito atrás: 58% daqueles com 60 anos ou mais sentem o mesmo. Envolver os idosos e capacitá-los a agir na resolução da crise climática pode ajudar a trazer ainda mais apoio para o movimento climático.

Adultos mais velhos frequentemente possuem conhecimento indígena e local sobre o lugar onde vivem. Suas memórias de eventos passados e desastres fornecem insights valiosos que podem ser cruciais na adaptação e redução do impacto das mudanças climáticas.

Por exemplo, na Bolívia, a HelpAge International utilizou a sabedoria das pessoas idosas para implementar uma técnica tradicional chamada de “camellones” ou “cristas de camelo” para se adaptar aos desafios climáticos. Essas camas elevadas protegeram as colheitas durante enchentes, melhoraram a retenção de água durante secas e também ajudaram a manter a saúde do solo e a produção diversificada de culturas, garantindo uma melhor segurança alimentar.

Muitas pessoas idosas também aspiram deixar um legado, transmitindo seus valores e deixando um planeta preservado para as gerações futuras. Esse desejo as motiva a participar da ação climática, garantindo um mundo melhor para as próximas gerações. Envolver e capacitar os idosos na ação climática, portanto, não apenas oferece uma oportunidade de lidar com a emergência climática, mas também pode contribuir para a construção da resiliência das comunidades locais.

Para que isso aconteça, é necessário superar obstáculos, como o acesso à tecnologia ou a edifícios que não são facilmente acessíveis, para que os idosos possam contribuir com suas habilidades e capacidades. Já existem várias iniciativas em todo o mundo, como The Elders e Senior Environment Corps, bem como grupos específicos como Elders for Climate Action nos Estados Unidos e Seniors for Climate Action no Canadá, que envolvem pessoas idosas em esforços relacionados ao clima.

Mais do que nunca, agora é crucial que alcancemos a velhice com boa saúde para ter a resiliência necessária para lidar com eventos climáticos extremos. Isso não requer apenas tornar as cidades e outras comunidades à prova de clima, mas também reconhecer e aproveitar o valioso conhecimento e a experiência das pessoas idosas na abordagem da crise climática.

Fonte: postado originalmente em inglês no portal The Conversation; traduzido por Revista Galileu