ICID III reforça protagonismo do Semiárido na cena climática

A Eco Nordeste segue com a série que conecta o Nordeste à política climática com destaque para a III Conferência Internacional em Clima e Desenvolvimento em Regiões Áridas, Semiáridas e Subúmidas Secas
De 15 a 19 de setembro de 2025, Fortaleza será palco da III Conferência Internacional em Clima e Desenvolvimento em Regiões Áridas, Semiáridas e Subúmidas Secas (ICID III), no Centro de Eventos do Ceará. Antes disso serão realizados cursos no Campus Dom Luís da Unichristus, no bairro Meireles. O evento reúne especialistas, gestores, estudantes e representantes de instituições nacionais e internacionais para debater soluções diante da urgência das mudanças climáticas nas regiões secas.
Para o economista Antônio Rocha Magalhães, ex-secretário de Planejamento do Ceará e do Ministério do Planejamento e diretor das duas primeiras conferências (1992 e 2010), a ICID III é uma oportunidade única de integrar ciência e políticas públicas. Ele afirma que “esse evento é muito importante porque reúne cientistas e tomadores de decisão do mundo inteiro para discutir problemas e soluções para as regiões secas do mundo. Globalmente essas regiões representam 45% da área e 35% da população do Planeta, e a maior parte da pobreza do mundo. A ICID pretende subsidiar a agenda da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP30), que será em Belém do Pará em novembro”.

O presidente da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), Eduardo Sávio Martins, engenheiro civil, professor da Universidade Federal do Ceará (UFC) e especialista em gestão de recursos hídricos, reforça o papel estratégico das regiões semiáridas. Ele afirma que “o evento será um marco para colocar as terras secas no centro da agenda climática, assim como as suas edições anteriores, a ICID 1992, antes da Rio 92, e a ICID 2010, antes da Rio+20”.
Para ele, a iniciativa, que reunirá participantes de diversos países da África, Europa, Américas e outras regiões, também servirá para fortalecer a troca de experiências e soluções. “O objetivo é, claro, levar à COP30 uma mensagem forte e articulada de que não haverá a preservação das florestas sem cuidar também das regiões áridas e semiáridas, que abrigam milhões de pessoas e desempenham um papel especial na estabilidade climática do Planeta”, destaca Martins.
Entre os participantes internacionais estão Sophie Jacquel, da Embaixada da França, que atua em ciência, educação e cooperação internacional; Abdelfettah Sifeddine, geólogo e representante do IRD no Brasil, especialista em variabilidade climática; e Pierre Marraccini, da CIRAD, com experiência em pesquisa agrícola e desenvolvimento sustentável em regiões tropicais. Entre os especialistas nacionais que ministrarão as capacitações estão Alexandre Araújo Costa, da Universidade Estadual do Ceará (UECE), José Maria de Lima (UFC), Maria de Fátima Silva (IRD) e Carlos Alberto Souza, da Universidade Federal do Piauí (UFPI).
Antes da conferência principal, nos dias 12 e 13 de setembro, serão realizadas as capacitações que integram a programação preparatória da ICID III. Os treinamentos são organizados pela Embaixada da França no Brasil, Instituto de Pesquisa para o Desenvolvimento (IRD), Cooperação Internacional em Pesquisa Agronômica (CIRAD) e Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme). As atividades estão distribuídas em seis eixos temáticos, detalhados a seguir.
Eixos temáticos das capacitações
Eixo I – Clima, Solos e Meio Ambiente
Aborda clima, solos e meio ambiente com foco em soluções sustentáveis e adaptação às mudanças climáticas. Os cursos incluem Oceanos e Clima: Fundamentos de Modelagem Numérica, Crise Ecológica Planetária e Limites Planetários, Solos e Desertificação: Monitoramento do Solo, Avaliação de Sua Saúde e Restauração, Tempo, Clima e Saúde: Riscos Atuais e Futuros, A presença de caudas pesadas nas variáveis hidrometeorológicas: conceitos, desafios de inferência e consequências, Erosão dos Solos no Nordeste: Abordagens Comparativas das Taxas Naturais e Antrópicas e Cidades, Clima e Saúde.
Eixo II – Recursos Hídricos
Foco na gestão e qualidade da água em regiões áridas e semiáridas, com cursos como Qualidade da Água: Dados de Satélite, Simulação da Alocação de Água e Gestão das Secas, Monitoramento Hidrológico com a Missão Espacial SWOT: Aplicações aos Recursos Hídricos e Seca e Desertificação: Integrando a Diversidade e a Complexidade para Construir Soluções Sustentáveis.
Eixo III – Agricultura e Sustentabilidade
Aborda práticas sustentáveis de produção e conservação ambiental, com foco em agroecologia e bioeconomia. Os cursos incluem Sustentabilidade do Sistema Agrossilvipastoril de Sequeiro em Regiões Semiáridas: Um estudo de caso em Tauá, no Ceará e Territórios e sistemas alimentares sustentáveis no semiárido: novas perspectivas através da resiliência hídrica e a transição agroecológica.
Eixo IV – Base de Dados e Inteligência Artificial
Capacitações em tecnologias de dados e inteligência artificial aplicadas ao contexto ambiental e climático, com o curso Análise e integração de dados: Galaxy para o Sistema Terrestre.
Eixo V – Gênero e Ciência
Integração entre conhecimentos científicos e perspectiva de gênero, com o curso Os sistemas de abastecimento hídrico sob a ótica de gênero.
Eixo VI – Comunicação e Divulgação Científica
Formação em comunicação científica e jornalismo ambiental, com o curso Treinamento em Jornalismo e Divulgação Científica.
Como participar
A programação completa dos treinamentos da ICID III, com informações sobre inscrições, estão disponíveis no site oficial capacitacao-icid.funceme.br. O público inclui pesquisadores, estudantes, profissionais de diferentes áreas e representantes da sociedade civil interessados em aprofundar o debate sobre as regiões áridas e semiáridas no contexto das mudanças climáticas.
A ICID III é realizada em parceria com o Governo do Ceará, Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e o Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), uma instituição vinculada ao governo federal que apoia a formulação de políticas públicas de ciência, tecnologia e inovação para a promoção de estudos estratégicos, análises de cenários e apoio técnico a programas e projetos de interesse nacional. A parceria fortalece a presença das regiões áridas e semiáridas nas discussões globais sobre clima e desenvolvimento sustentável.