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Gelo da Groenlândia já derreteu no passado com aumento de temperatura

Gelo da Groenlândia já derreteu no passado com aumento de temperatura

Pode parecer surpreendente, mas a Groenlândia — a enorme ilha congelada entre o Oceano Atlântico e o Ártico — nem sempre esteve recoberta por gelo na história do planeta. Há cerca de 416 mil anos, com uma margem de erro de 38 mil anos, esta região era recoberta por uma vasta paisagem de tundra (um tipo de bioma), possivelmente com árvores e mamutes, não sendo apenas gelo.

A descoberta, publicada na revista Science, derruba o mito de que a extensa e profunda camada de gelo permaneceu intacta ao longo dos milhões de anos da Terra, mesmo em períodos que foram considerados naturalmente quentes.

Com a recente descoberta, chega um novo alerta para a Groenlândia: a camada de gelo é mais sensível do que imaginada anteriormente, e que um novo degelo pode ser acelerado pelas mudanças climáticas, causadas pelo impacto da ação humana, nos próximos séculos. Inclusive, este degelo já começou em algum nível.

Investigando a idade do gelo da Groenlândia

A descoberta de que a Groenlândia nem sempre foi apenas gelo foi possível com a análise de amostras de gelo, que foram coletadas pelo exército dos Estados Unidos, durante uma missão secreta na época da Guerra Fria. Em 1966, a equipe perfurou mais de 1,3 km de gelo para extrair amostras de solo e rocha de 3,6 metros de comprimento. Por décadas, o material não foi devidamente estudado, mesmo que contivesse folhas e musgo — coisas “estranhas” para o local de onde foi retirado.

Agora, pesquisadores de diferentes universidades norte-americanos usaram técnicas avançadas de luminescência e análise de isótopos raros para avaliar a amostra. Com isso, foi possível precisar a idade das evidências coletadas, com provavelmente mais de 400 mil anos.

No passado recente, a Groenlândia não estava recoberta por gelo (Imagem: Annie Spratt/Unsplash)

“É a primeira evidência forte de que grande parte da camada de gelo da Groenlândia desapareceu quando [o planeta] ficou quente”, afirma Paul Bierman, cientista da University of Vermont e um dos autores do estudo, em nota.

Impacto do degelo da Groenlândia

Segundo os autores, o degelo da Groenlândia na época teria provocado pelo menos 1,5 m de elevação do nível do mar. Naquele período, as temperaturas eram apenas um pouco mais quentes do que hoje. No entanto, os níveis de dióxido de carbono na atmosfera eram muito menores.

Considerando as atuais características do planeta — marcadas por níveis de dióxido de carbono na atmosfera que são 1,5 vezes maiores —, os cientistas calculam que um novo degelo pode aumentar em até 7 m o nível do mar. Isso impactaria todas as regiões costeiras no mundo, gerando perdas incalculáveis. Agora, ainda é preciso entender como evitar o pior dos cenários estimados. Até 2100, a Groenlândia deve perder mais de 110 trilhões de toneladas de gelo.