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Fruta recordista em Vitamina C ajuda a restaurar a floresta amazônica

Fruta recordista em Vitamina C ajuda a restaurar a floresta amazônica

Pouco conhecida, a Camu-camu é típica da região amazônica e tem 20 vezes mais vitamina C do que a acerola

Casca roxa, opaca e grossa, polpa macia e uma propriedade surpreendente: a fruta possui 20 vezes mais vitamina C do que a acelora. Esta é a camu-camu (Myrciaria dubia), originária da região amazônica, que surpreende pelas propriedades nutricionais. Com teor de vitamina C de 2,7g em 100g de polpa, em média, equivale a quase 40 vezes ao da polpa de laranja ou 60 vezes ao suco de limão.

Pouco conhecida pela maioria da população, a fruta vem sendo usada em um projeto de restauração de florestas no Sudoeste do Pará, que tem como objetivo possibilitar alternativas para o enriquecimento nutricional da fauna e também o cultivo comercial voltado à população local.

Mudas do camucamuzeiro vêm contribuindo para ajudar a restaurar áreas da região amazônica do Médio Xingu, em uma parceria entre a Universidade Federal do Pará (UFPA) e a Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) da Norte Energia. Pesquisadores estudaram técnicas para melhorar a forma de coletar sementes, produzir mudas e realizar os plantios de diversas espécies, incluindo o camu-camu.

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Foto: Túllio M FrancaCC BY-SA 4.0, via Wikimedia Commons

NO total, cerca de 45 mil mudas, de aproximadamente 35 espécies nativas da região amazônica foram manejadas durante a execução do estudo e replantadas, restaurando até o momento 80 hectares – o equivalente a 112 campos de futebol.  Uma parte das mudas foi doada para a UFPA, para as comunidades locais envolvidas no projeto e para Secretaria de Meio Ambiente de Vitória do Xingu (PA) para ações de plantio na região, fomentando assim a produção sustentável. Já foram investidos mais de R$ 7 milhões no projeto, que vai até o final deste ano.

“Essa pesquisa foi uma troca de conhecimento muito importante, principalmente para mim, que venho de outra região, e para mostrar aos moradores que podem explorar melhor, de forma sustentável, tudo que temos aqui de biodiversidade”, disse o pesquisador Arthur Pace Stehling.

O trabalho alia o conhecimento dos ribeirinhos em sua execução e acontece em 12 regiões ao longo da Volta Grande do Xingu. Iniciado em abril de 2021, o projeto já proporcionou a coleta de aproximadamente uma tonelada de sementes, de diversas espécies, pelos moradores da região. “Em qualquer parte do mundo a pesquisa é um norteador de conhecimento, mas também de tecnologia. Quando unimos projetos de ciência e tecnologia e podemos contribuir para a capacitação de moradores da comunidade local, além resultados técnicos, também conseguimos gerar o que a comunidade precisa a curto prazo. O projeto permitiu formar capital humano e atender as necessidades das comunidades”, concluiu o professor Emil José Hernandez, doutor e coordenador do curso de Biologia da UFPA.

camu-camu
Foto: Universidade Federal do Pará (UFPA)

Morador da comunidade Kaituká, Marloson Lima da Silva atuou como auxiliar técnico ao longo do estudo, recebendo apoio financeiro e capacitação para trabalhar na coleta das sementes e no replantio.

“Meu entendimento era o de um ribeirinho. Hoje, eu consigo enxergar de forma diferente com o aprendizado que recebi. Estamos entrando em um ciclo de preservação, porque o mundo está pedindo e a gente tem que se habituar a isso para deixarmos um legado para nossos filhos e netos”, resumiu.

Sobre o camu-camu

Apesar de seus inúmeros benefícios à saúde e de ser um fruto com grande potencial econômico, a camu-camu ainda não é amplamente consumida no Brasil.

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Foto: Universidade Federal do Pará (UFPA)

A fruta tem despertado o interesse de diversos setores industriais como fármaco, cosmético, conservante natural e alimentício. Da casca extrai-se corante natural. Além disso, o tipo de vitamina C encontrado no camu-camu não é destruído pelo calor.  A produção de polpa se destina à exportação para países como a França e Japão, onde é utilizada na elaboração de bebidas alimentícias, preparo de sorvetes, geleia, doces, licores, novo sabor para refrigerantes, bem como na confecção de cápsulas e pastilhas de vitamina C.