Anchor Deezer Spotify

Fernando de Noronha apresenta primeiros resultados do Índice de Felicidade Interna Bruta (FIB) no Brasil

Fernando de Noronha apresenta primeiros resultados do Índice de Felicidade Interna Bruta (FIB) no Brasil

Iniciativa inédita no país é conduzida pela Aguama Ambiental, em parceria com o governo do Butão, e mede o bem-estar integral da população do arquipélago. A pesquisa, realizada em setembro de 2025, ouviu 475 moradores da ilha, utilizando o questionário oficial do Butão adaptado à realidade de Fernando de Noronha

Fernando de Noronha acaba de se tornar o primeiro território do Brasil a aplicar oficialmente o Índice de Felicidade Interna Bruta (FIB), metodologia desenvolvida pelo Centro de Estudos do Butão e reconhecida pela Organização das Nações Unidas (ONU) e Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD / UNDP) como indicador essencial para o desenvolvimento sustentável, bem-estar coletivo e equidade social. A iniciativa foi conduzida pela Aguama Ambiental, em parceria com a YOUniversality, fundada por Renata Rocha, e o Centro de Estudos do Butão (CBS & GNH), com apoio da Diretoria de Felicidade da Heineken e da Administração de Fernando de Noronha.

A pesquisa, realizada em setembro de 2025, ouviu 475 moradores da ilha, com 244 respostas válidas, utilizando o questionário oficial do Butão adaptado à realidade de Fernando de Noronha. O objetivo é compreender o nível de bem-estar da população e identificar prioridades para ações coletivas que unem sustentabilidade, qualidade de vida e desenvolvimento local.

O FIB é uma forma de medir o progresso de um país ou uma região. Ao invés de só analisar números da economia, como o PIB, ele considera o bem-estar em vários aspectos que envolvem qualidade de vida. O método avalia 9 dimensões e 33 indicadores: Saúde, Governança, Uso do Tempo (descanso e trabalho), Bem-estar psicológico, Vida em Comunidade, Meio Ambiente, Padrão de Vida, Educação e Cultura.

Resultados

Os resultados foram apresentados no II Festival de Sustentabilidade e Turismo de Fernando de Noronha, na última quinta-feira (16) e mostra que o índice geral de felicidade da população é de 55,27%.

Dos respondentes, 42,6% dos moradores foram classificados como “moderadamente felizes” e 45% como “infelizes”. As dimensões com os melhores índices foram Diversidade Cultural e Resiliência (78,88%), Saúde (60,02%) e Bem-Estar Psicológico (60,08%), enquanto os maiores desafios estão em Boa Governança (30,54%), Uso do Tempo (25,02%) e Diversidade Ecológica e Resiliência (39,97%).

Para Caio Queiroz, CEO da Aguama Ambiental, empresa que atua em Noronha desde 2017 – conta com forte relacionamento com as lideranças comunitárias – e responsável pela implementação do projeto em Noronha, o FIB representa um novo paradigma de desenvolvimento. “A Felicidade Interna Bruta nos convida a repensar o que entendemos por progresso. Mais do que medir o crescimento econômico, o FIB traz um olhar humano e sustentável para o desenvolvimento da região. Esse indicador nos ajuda a entender como a população se sente, quais são suas necessidades e o que realmente importa para garantir qualidade de vida e um futuro equilibrado para os moradores.”, destaca.

Os dados da pesquisa ainda revelam que a população valoriza a cultura e o senso de comunidade, mas espera avanços em temas como governança, políticas ambientais e moradia. As sugestões apontadas pelos próprios moradores incluem melhorar a infraestrutura, promover igualdade econômica e garantir um turismo sustentável que respeite os limites ecológicos da ilha.

O questionário incluiu mais de 200 perguntas que abordaram desde o acesso a serviços públicos e oportunidades de lazer até o sentimento de pertencimento e conexão com a natureza. O levantamento foi operacionalizado por meio de uma plataforma desenvolvida pela Aguama, com tecnologia de inteligência artificial, permitindo o monitoramento contínuo dos indicadores de felicidade e sustentabilidade da ilha.

Próximos passos

Os próximos passos incluem um plano de co-criação entre poder público, setor privado e comunidade local para transformar os resultados em políticas públicas e projetos de impacto social e ambiental.

“Noronha tem o potencial de se tornar referência mundial em felicidade e sustentabilidade. O FIB é mais do que um indicador, é um convite à ação coletiva para construir uma sociedade mais equilibrada e próspera”, complementa.

Queiroz afirma ainda que a intenção é que o FIB dê passos ainda mais largos, abrindo caminho para se consolidar no país como uma nova métrica de impacto socioambiental aplicável a empresas, investidores e gestores públicos.

Por dentro do FIB e a relação com a ONU

O FIB nasceu no Butão, em 1972, quando o rei Jigme Singye Wangchuck declarou que a “Felicidade Interna Bruta é mais importante que o Produto Interno Bruto”. Desde então, tornou-se filosofia nacional do país asiático e, em 2012, foi reconhecido pela Organização das Nações Unidas (ONU) como um novo paradigma de desenvolvimento sustentável.

Diferente do PIB, que mede apenas a riqueza produzida, o FIB adota uma perspectiva holística e integra dimensões sociais, culturais, ambientais e espirituais. A metodologia se apoia em quatro pilares: boa governança, desenvolvimento socioeconômico sustentável, preservação cultural e conservação ambiental, e se desdobra em nove domínios, como saúde, bem-estar psicológico, educação, vitalidade comunitária, resiliência cultural, diversidade, padrão de vida, resiliência ecológica, entre outros. O índice utiliza notas que vão de 1 a 5 – quanto mais próximo de 5, maior a felicidade.

O mapeamento feito pela Aguama mostra como os domínios do FIB se conectam às metas globais, incluindo os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, que integram a Agenda 2030.

Segundo Caio, o bem-estar psicológico, por exemplo, está relacionado aos ODS 3 (saúde e bem-estar) e 16 (instituições eficazes). Já a resiliência ecológica tem vínculos diretos com os ODS 13 (ação climática), 14 (vida na água) e 15 (vida terrestre). “A convergência entre as duas agendas reforça a capacidade do índice de gerar diagnósticos que orientem políticas públicas, investimentos privados e projetos de impacto socioambiental”, enfatiza Queiroz.

No Butão, políticas públicas somente são aprovadas após análise de impacto sobre os domínios do FIB. Se aplicado em escala no Brasil, o índice pode ajudar a reduzir riscos reputacionais, qualificar métricas ESG e abrir espaço para instrumentos financeiros vinculados a resultados socioambientais.