Falta de tratado contra poluição é catástrofe para saúde, diz médica que achou microplástico no cérebro

A médica Thais Mauad, que estuda a presença do microplástico no corpo humano, diz que está desanimada com o fracasso das negociações por um tratado global contra a poluição plástica.
“Para a saúde, é uma catástrofe”, afirma. “É um dia de desesperança com a humanidade. A gente está imerso em uma montanha, em um mar de plásticos, e os interesses econômicos acabam prevalecendo”, avalia a professora da USP (Universidade de São Paulo).
Recentemente, os países reunidos em Genebra não chegaram a um consenso e encerraram as discussões sobre um acordo que poderia limitar a produção de plástico. É a sexta reunião da Organização das Nações Unidas sobre o tema que termina sem resultados. Ainda não há uma data marcada para retomar as negociações.
“Não ter um tratado que comece do começo, que é parar a produção de plástico não essencial, é catastrófico. A gente já está com uma exposição muito grande, todos os órgãos humanos e todos os biomas estão contaminados, e isso só tende a piorar”, diz Mauad, que liderou os primeiros estudos a identificarem partículas de plástico em cérebros e pulmões humanos.
Ela avalia que as negociações na ONU pouco consideram os impactos do material à saúde humana e ambiental. “A ciência não é ouvida. Quantas pesquisas já existem mostrando todos os impactos, mas nada disso é verdadeiramente levado em consideração”, afirma.
Há indícios de que a presença do plástico no corpo humano possa estar relacionada a doenças cardiovasculares e disfunções hormonais.
“Como é triste ver que os interesses econômicos de poucos países petrolíferos conseguem bloquear o que a sociedade civil inteira e o que vários países querem”, diz a médica. “E o mesmo está acontecendo na COP do clima, parece que a ciência e as pessoas não têm voz.”