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Falta de acesso a alimentos saudáveis e excesso de ultraprocessados podem levar a doenças crônicas

Falta de acesso a alimentos saudáveis e excesso de ultraprocessados podem levar a doenças crônicas

Marcos Anderson Lucas da Silva explica os conceitos de desertos e pântanos alimentares, caracterizados como locais em que há escassez de alimentos saudáveis e abundância de ultraprocessados

O local onde moramos pode afetar diretamente nossa rotina alimentar e, consequentemente, nossa qualidade de vida. Em determinadas regiões, o acesso a produtos de consumo saudáveis é escasso, ao mesmo tempo em que produtos ultraprocessados estão em abundância. Essas são as definições, respectivamente, de desertos e pântanos alimentares.

Desertos e pântanos

Entender ambos os termos é muito importante para solucionarmos questões nutricionais no País. Marcos Anderson Lucas da Silva, doutorando no Programa de Nutrição em Saúde Pública e pesquisador do Nupens, ambos da Faculdade de Saúde Pública da USP, comenta que os desertos correspondem à falta de alimentos essenciais à saúde humana. O acesso a produtos como frutas, legumes, verduras, arroz e feijão é limitado ou inexistente, por conta da falta de estabelecimentos que os comercializem. Em regiões mais afastadas dos centros urbanos, os moradores precisam percorrer longas distâncias para chegar a um local que venda alimentos saudáveis, enquanto em áreas urbanas isso ocorre em bairros periféricos e de baixa renda.

Marcos Anderson Lucas da Silva – Foto: Lattes

Por outro lado, os pântanos fazem alusão a localidades com abundância de oferta de alimentos ultraprocessados, nocivos à saúde humana quando consumidos em excesso. “Fast-foods, lanchonetes e lojas de conveniência são exemplos de estabelecimentos que possuem elevada disponibilidade de alimentos ultraprocessados. Diferentemente dos desertos, que são mais comuns em periferias, os pântanos podem ocorrer em centros comerciais ou bairros de classe média”, detalha Anderson.

Situação no Brasil

As situações retratadas, relacionadas à distribuição alimentar no País, são comuns em solo brasileiro. Um mapeamento do Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome, em parceria com o Grupo de Políticas Públicas da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz e a Fundação de Estudos Agrários Luiz de Queiroz da USP, identificou que cerca de 25 milhões de brasileiros residem em áreas de desertos alimentares, entre os 91 municípios com mais de 300 mil habitantes analisados. Esse dado corresponde a 32,3% da população total dessas cidades.

Em relação aos pântanos alimentares, a pesquisa relata que cerca de 15 milhões de brasileiros residem nesses locais. O valor corresponde a 19% do total de habitantes nesses 91 municípios. As porcentagens divulgadas mostram um cenário preocupante no estado nutricional brasileiro. “A escassez de opções saudáveis nos desertos alimentares e o excesso de alimentos ultraprocessados nos pântanos alimentares criam um ambiente que favorece principalmente o desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis, como a obesidade, que, por sua vez, eleva o risco de diabetes tipo 2, hipertensão arterial e doenças cardiovasculares”, afirma o pesquisador.

Iniciativas

Para resolver esses problemas complexos, relacionados à distribuição de alimentos, é necessário a formulação de políticas e iniciativas conjuntas, de forma não isolada. Anderson comenta que um projeto atual, que visa a solucionar essas questões, é o Programa Alimenta Cidades. A iniciativa busca combater os desertos e pântanos alimentares, buscando ampliar o acesso regular e permanente da população, principalmente em situação de vulnerabilidade, a alimentos in natura e minimamente processados. O programa apoia a implantação e a qualificação de equipamentos públicos de alimentação e nutrição, como bancos de alimentos e cozinhas solidárias.

Outra medida que tem gerado discussão e repercussão nessa temática é a nova cesta básica de alimentos. “Agora a cesta tem como princípio as recomendações do Guia Alimentar para a População Brasileira, está alinhada à Reforma Tributária, com isenção total dos impostos aos alimentos que a compõem, deixando-os mais baratos”, afirma o pesquisador. Anderson ainda complementa que a combinação entre campanhas de estímulo à produção e consumo locais, melhorias estruturais e desoneração tributária fortalecem o acesso a alimentos saudáveis, promovem escolhas alimentares de melhor qualidade e têm grande potencial de diminuir o consumo de ultraprocessados.

*Sob supervisão de Cinderela Caldeira