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Estudos: não há relação entre uso de telas e déficit de atenção em crianças

Estudos: não há relação entre uso de telas e déficit de atenção em crianças

Quem convive com crianças pequenas muito provavelmente já se perguntou se o excesso de telas — como a do tablet, da TV, do smartphone ou do computador — pode prejudicar o desenvolvimento daquele indivíduo. Inclusive, o senso comum tende a relacionar essa exposição com aumento de casos de hiperatividade e de déficit de atenção, mas dois estudos da Nova Zelândia não conseguiram estabelecer uma relação causal entre as telas e estas duas condições.

Ambas as pesquisas integram o projeto Growing Up in New Zealand (GUiNZ), um estudo longitudinal que acompanha mais de 6,8 mil crianças nascidas entre 2009 e 2010 no país. Os estudos foram liderados pela professora Maria Corkin, da Escola de Psicologia da Universidade de Auckland.

Estudos da Nova Zelândia não identificaram relação direta entre uso de telas e casos de déficit de atenção em crianças (Imagem: Reprodução/Twenty20photos/Envato Elements)

A conclusão é que, por si só, o simples fato de crianças interagirem com telas não fará com que elas tenham qualquer alteração cognitiva durante o desenvolvimento. Por outro lado, situações associadas ao uso de telas podem trazer problemas de visão e prejudicar o desenvolvimento infantil saudável, a exemplo de crianças que fazem suas refeições com a TV ligada.

Certos comportamentos podem afetar o desenvolvimento das crianças

Publicado na revista Journal of Applied Developmental Psychology, um dos estudos investigou como o uso das telas, entre crianças com idade pré-escolar (entre 2 e 4 anos), pode afetar o desenvolvimento das funções executivas e desencadear sinais de desatenção ou de hiperatividade.

Vale explicar que funções executivas são consideradas habilidades cognitivas, como pensamento flexível, capacidade de controlar respostas impulsivas e memória. Para a pesquisadora Corkin, são as funções executivas que garantem o desenvolvimento de habilidades sociais nos anos pré-escolares e podem impactar na vida adulta.

“Os anos pré-escolares são um período de aumento da neuroplasticidade em que as funções executivas se desenvolvem rapidamente”, comenta. Entender mais sobre o uso de telas e os reflexos nas funções executivas pode, inclusive, ajudar no desenvolvimento das habilidades essenciais das crianças.

Após análises, o estudo observou apenas duas características do ambiente doméstico que foram associadas a uma menor desenvoltura das funções executivas: o fato da TV permanecer ligada, no mesmo cômodo em que está a criança, por longos períodos, independentemente de estarem assistindo ou não; e fazer refeições em frente à TV.

“Assistir à TV, muitas vezes, pode significar que as crianças não estão envolvidas em outras atividades. Por exemplo, se as famílias comem frequentemente em frente à TV, a oportunidade de conversas entre pais e filhos pode ser limitada. As conversas à mesa do jantar podem ajudar no desenvolvimento inicial da linguagem das crianças e no subsequente desenvolvimento das habilidades das funções executivas”, reflete Corkin.

Uso de telas não afeta o desenvolvimento das habilidades cognitivas em crianças (Imagem: Reprodução/Stem.T4L/Unsplash)

“Minimizar a TV no ambiente de uma criança e maximizar o envolvimento dos pais no uso da tela da criança, por meio de visualização conjunta, pode ajudar a manter o tempo de tela baixo e potencialmente ajudar no desenvolvimento das funções executivas durante os anos pré-escolares”, completa Corkin. No entanto, o estudo não conseguiu identificar se havia um tempo limite de tela para desencadear alguma relação negativa com desenvolvimento de funções executivas ou à atenção.

O que contribui para o maior tempo de exposição das crianças a uma tela?

Outra pesquisa da Nova Zelândia foi publicada na revista Journal of Child and Family Studies. Nesse estudo, os pesquisadores analisaram o tempo que as crianças passavam em frente a uma TV. Para isso, foram usadas informações compartilhadas pelos próprios pais, através de questionários. Para crianças na faixa etária de dois anos, o levantamento descobriu que a maioria das crianças (66%) passava apenas uma hora ou menos de tempo por dia.

Este período de exposição é muito próximo do que é recomendado pelo Ministério da Saúde local, que recomenda que estas crianças permaneçam menos de uma hora por dia em frente a uma TV. No entanto, cerca de 12% das crianças passam três ou mais horas por dia nas telas, o que pode ser motivo de preocupação.

Para Corkin, quando o tempo “padrão” de telas é ultrapassado, vale observar os seguintes questionamentos: se a TV permanece ligada em momentos onde a criança não está assistindo; falta de regras do tempo de permanência; e exposição a conteúdos feitos para outras faixas etárias. De forma geral, as crianças que assistiam às telas com os pais tinham níveis gerais de tempo de tela mais baixos.

Para conferir o primeiro estudo, publicado na revista Journal of Applied Developmental Psychology, clique aqui. Para acessar o segundo artigo, publicado na revista Journal of Child and Family Studies, clique aqui.