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Estudo investiga se insetos sentem dor, e moscas dão pistas

Estudo investiga se insetos sentem dor, e moscas dão pistas

Nova publicação complementa outras pesquisas que têm apontado ao longo dos anos o quanto os insetos podem sentir dor assim como os seres humanos

Uma pesquisa publicada na revista científica Proceedings of the Royal Society B: Biological Sciences traz mais evidências de que os insetos podem sentir dor assim como os seres humanos. O estudo liderado pela neurobióloga Matilda Gibbons, da Universidade Queen Mary (Londres), aponta que a nocicepção – a detecção pelo sistema nervoso sensorial de estímulos desagradáveis como queimaduras, cortes e pressão – desencadeia uma variedade de respostas fisiológicas e comportamentais nos insetos, e uma delas pode ser a percepção da dor.

O estudo complementa outras pesquisas que têm apontado ao longo dos anos o quanto os insetos podem sentir dor. Em 2019, experimentos revelaram que as drosófilas, também conhecidas como moscas-das-frutas, podem apresentar sintomas de dor crônica, depois que os pesquisadores removeram uma perna dos insetos. Mesmo estando totalmente curada, os pesquisadores descobriram que a perna contralateral da mosca se tornou hipersensível.

Os estudos ressaltam como detectar a dor em outros tipos de vida não é tão simples quanto apenas observar uma reação negativa diante de um contato prejudicial. Para registrar conscientemente uma sensação de dor é necessário um sistema fisiológico complexo, que se conecta ao cérebro e possivelmente até às emoções.

Nos mamíferos, os receptores de dor enviam um alerta ao cérebro no momento de um estímulo negativo, enquanto os neurônios geram a sensação subjetiva, física e emocional da dor. No caso dos insetos, esses sistemas ainda precisam ser totalmente identificados.

“Uma marca registrada da percepção humana da dor é que ela pode ser modulada por sinais nervosos do cérebro”, diz Gibbons. “Os soldados às vezes não percebem ferimentos graves no campo de batalha, já que os próprios opiáceos do corpo suprimem o sinal nociceptivo. Assim, perguntamos se o cérebro dos insetos contém os mecanismos nervosos que tornariam plausível a experiência de uma percepção semelhante à dor, em vez de apenas nocicepção básica”, conclui.

Segundo a pesquisadora, a literatura científica traz várias linhas de evidência para sugerir que esse mecanismo está presente em insetos. Embora eles não tenham os genes para os receptores opioides que regulam negativamente a dor em nós, eles produzem outras proteínas durante eventos traumáticos que podem ter o mesmo propósito.

Como os insetos são um grupo grande e variado, é bem possível que a complexidade de sua regulação da nocicepção e potenciais sentimentos de dor também variem muito entre eles.