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Estrelas próximas ao Sol podem provocar colisões entre planetas e até os ejetar do Sistema Solar em bilhões de anos, aponta estudo; entenda

Estrelas próximas ao Sol podem provocar colisões entre planetas e até os ejetar do Sistema Solar em bilhões de anos, aponta estudo; entenda

Descobertas simularam um cenário em que a Terra não seria consumida pela expansão solar, mas atingida por uma catástrofe gravitacional

Se a humanidade sobreviver por alguns bilhões de anos, poderá enfrentar uma ameaça inesperada: estrelas em trânsito pelas vizinhanças do Sol podem causar colisões planetárias ou a ejeção de planetas inteiros, segundo artigo publicado na revista Icarus.

As descobertas apontam para um cenário em que a Terra não seria consumida pela expansão solar, mas atingida por uma catástrofe gravitacional.

A Via Láctea abriga centenas de bilhões de estrelas, todas em movimento ao redor do centro galáctico. Em períodos suficientemente longos — a escala de tempo preferida pelos astrônomos — é inevitável que alguma estrela se aproxime mais do Sol do que Proxima Centauri, nossa vizinha estelar mais próxima.

Cálculos baseados nos dados da sonda europeia Gaia indicam que cerca de 33 estrelas passam relativamente perto do Sol a cada milhão de anos. Mas, para que esses encontros tenham efeitos significativos, a aproximação precisa ser muito maior.

— Quando a distância chega a algumas centenas de vezes a separação entre a Terra e o Sol, aí sim pode começar a desestabilizar as órbitas — explicou Nate Kaib, astrônomo do Planetary Science Institute, nos Estados Unidos.

Milhares de simulações

Para estimar as chances de um encontro próximo, Kaib e Sean Raymond, astrônomo do Laboratório Astrofísico de Bordeaux, na França, realizaram milhares de simulações de computador. O trabalho modelou, ao longo de cinco bilhões de anos, os efeitos gravitacionais de estrelas com diferentes massas, velocidades e órbitas sobre os oito planetas do Sistema Solar e Plutão.

Segundo Kaib, o horizonte de tempo tão extenso é necessário porque os efeitos podem levar dezenas de milhões de anos, ou mais, para se manifestar.

— Você não vê as consequências por muito, muito tempo — afirmou.

Os resultados indicam que a maior ameaça seria uma estrela massiva, passando a baixa velocidade e muito perto do Sol, o que amplificaria seu impacto gravitacional. Mas esse alinhamento é extremamente raro.

— A maioria dessas passagens não tem consequência nenhuma para o nosso Sistema Solar — disse Kaib.

Mesmo assim, cerca de 0,5% das simulações resultaram em colisões entre planetas ou na ejeção de um deles.

Vulnerabilidade de Mercúrio

Mercúrio apareceu como o corpo mais suscetível a ser desestabilizado. De acordo com Raymond, isso ocorre porque o planeta já segue uma órbita instável. Pesquisas anteriores apontam que Mercúrio tem cerca de 1% de chance de colidir com Vênus ou com o Sol, mesmo sem nenhuma interferência externa.

— Esses sobrevoos estelares jogam uma “bola curva gravitacional” em uma situação que já é precária — explicou Raymond.

Em uma das simulações, Mercúrio colidiu com Vênus e o planeta resultante — apelidado informalmente de “Mérvenus” — acabou se chocando com a Terra.

— Isso seria muito ruim para a vida no planeta — comentou Kaib.

As simulações também mostraram que Plutão, por estar na periferia do Sistema Solar, é mais vulnerável. Em cerca de 4% dos cenários, ele foi ejetado. Para Jacques Laskar, astrônomo do Observatório de Paris, que não participou do estudo, esse resultado faz sentido.

— Plutão pode ser perturbado com muito mais facilidade — afirmou.

Segundo Hanno Rein, astrofísico da Universidade de Toronto, os novos cálculos ajudam a compor um quadro mais completo da história dinâmica do Sistema Solar.

— Agora estamos incluindo outras estrelas no modelo — disse Rein.

Mas será que algo assim já aconteceu? Para Kaib, é improvável. Um encontro tão próximo teria deixado marcas evidentes nas regiões externas e geladas do Sistema Solar.

Ainda assim, em outras partes da Via Láctea, o cenário pode ter sido diferente. Segundo Raymond, estrelas errantes podem ter moldado a arquitetura de muitos sistemas planetários, provocando colisões ou transformando mundos inteiros em planetas errantes.

— Estatisticamente, pelo menos alguns desses sistemas devem ter sido alterados por esses encontros — concluiu.