Raquel Farias explica que a temperatura de um planeta depende de vários parâmetros, como a distância até a estrela hospedeira, a excentricidade orbital, ou seja, o quanto sua órbita difere de um círculo, a emissividade, o albedo (porcentagem de radiação refletida pela superfície) e a presença de uma atmosfera. “Nossa intenção era averiguar como cada parâmetro influencia na estabilização da temperatura de um planeta rochoso, como a Terra”, aponta.
Todos os exoplanetas estudados estão dentro da nossa galáxia, a Via Láctea, e estão dentro da chamada Zona Habitável (ZH) de suas estrelas, explica Raquel Farias. A ZH é definida como a região ao redor da estrela dentro da qual é possível a existência de água no estado líquido na superfície de um planeta rochoso. “Foram analisados os exoplanetas rochosos Kepler-186 f e Kepler-422 b, e exoluas hipotéticas em torno dos exoplanetas gigantes HD 128 356 b, HD 147 513 b, HD 45 364 c, HD 165 155 b e HD 221 287 b”, descreve. “Estudamos a influência de vários parâmetros orbitais e atmosféricos individuais na temperatura de exoplanetas usando um modelo publicado anteriormente por um dos autores do artigo, Rafael Pinotti, e modelamos a temperatura de exoplanetas reais e de exoluas hipotéticas com base nos dados de observação disponíveis.”
“Dessa forma, modelamos um planeta com todas as características reais da Terra, o qual chamamos de ‘Terra hipotética’ e variamos cada parâmetro individualmente, para obter a sua influência específica na temperatura”, afirma a pesquisadora. “Em seguida, usamos o modelo para calcular a temperatura de exoplanetas reais, como também adaptamos o modelo simulando a presença de exoluas em torno de exoplanetas orbitando diferentes tipos de estrelas.”
Os pesquisadores verificaram que as temperaturas dos planetas analisados de fato são compatíveis com temperaturas amenas e a existência de água no estado líquido. “Planetas e luas em seu entorno com órbitas mais excêntricas, como esperado, apresentam maior variação de temperatura ao longo do ano e a densidade da atmosfera age no sentido oposto: quanto mais espessa a atmosfera, menor são as oscilações de temperatura ao longo do ano”, diz Raquel Farias. “Além disso, vimos que a amplitude das variações de temperatura em exoluas não pode ser detectada com a tecnologia atual no momento”.
A autora principal do artigo é Beatriz Blanco Siffert, professora do campus Duque de Caxias da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Também participaram do trabalho Raquel Farias, os doutorandos Matias Garcia e Luiz Felipe Melo de Menezes e o pesquisador Marcelo Borges, do Observatório Nacional (ON), o professor Gustavo Porto de Mello, do Observatório do Valongo da UFRJ, e Rafael Pinotti, que trabalha na Petrobras.
Mais informações: e-mail raquelfarias@usp.br, com Raquel Farias