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Entenda a relação entre as ondas de calor e as mudanças climáticas

Entenda a relação entre as ondas de calor e as mudanças climáticas

Cientistas afirmam que, com o aumento global da temperatura, as ondas de calor estão se tornando mais frequentes, intensas e duradouras

No início de agosto, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, o IPCC, divulgou a primeira parte do novo relatório da organização, o AR6, que está previsto para ser finalizado em 2022. O documento é categórico: cientistas estão observando alterações no clima da Terra em todas as regiões e por todo o sistema climático. Muitas das mudanças que foram observadas são sem precedentes nos últimos milhares de anos, e algumas que já estão em curso, como o aumento do nível do mar, são irreversíveis por centenas ou milhares de anos.

Com este documento, o IPCC deixa ainda mais claro o que cientistas do clima vêm alertando ao longo dos últimos anos. As mudanças climáticas estão acontecendo no tempo presente e não são mais previsões para o futuro. Por isso, eventos extremos que estão cada vez mais frequentes no cotidiano e que invadem o noticiário internacional não são mera coincidência. Eles já fazem parte do conjunto de alterações climáticas impulsionadas pela emissão desenfreada de gases de efeito estufa. Dentro deste contexto, as ondas de calor, que levaram recentemente a temperaturas extremas nos Estados Unidos, Canadá, Japão e sul europeu, incluindo a Grécia, também estão cada vez mais intensas e frequentes.

De acordo com o professor do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (IF-USP), Paulo Artaxo, “as ondas de calor estão muito mais frequentes por causa das mudanças climáticas globais”. Segundo ele, no mundo todo, a frequência se elevou por fator quatro. “A intensidade aumentou muito significativamente. É um dos efeitos previstos pelos modelos climáticos associados ao aumento global da temperatura”, diz.

No novo relatório do IPCC, a previsão é que o aumento da temperatura global em relação aos níveis pré-industriais chegue a 1,5ºC nas próximas duas décadas, sendo que a meta estipulada no Acordo de Paris é manter essa variação da temperatura até o final do século. Cientistas climáticos alertam há anos que o aumento da temperatura global terá como consequência eventos extremos mais intensos e frequentes, como as ondas de calor. Em 2020, cientistas registraram pela primeira vez na história uma onda de calor na Antártica Oriental, fenômeno que ocorreu entre os dias 23 e 26 de janeiro daquele ano.

O caso do continente gelado é um exemplo que deixa claro como as consequências de ondas de calor impactam todo o ambiente ao redor. Em centros urbanos, como nos Estados Unidos, na Europa e no Japão, o desconforto trazido pelas temperaturas elevadas pode causar problemas graves de saúde, podendo até levar as pessoas a óbito. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), uma onda de calor tem relação direta com o aumento de mortes.

Segundo a instituição, o fenômeno está entre os mais perigosos desastres naturais, mas raramente recebe a devida atenção porque os óbitos e a destruição causados por ele nem sempre ficam tão óbvios. Entre 1998 e 2017, cerca de 165 mil pessoas morreram por causa de ondas de calor.

Em ambientes naturais, como na Antártica, fica evidente como os ecossistemas também são impactados por esse tipo de fenômeno. Os animais não estão adaptados a temperaturas tão altas, e o clima cada vez mais quente é o responsável pelo derretimento do gelo, que aumenta o nível do mar.

De acordo com o professor de Ciências Atmosféricas do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP, Tercio Ambrizzi, as ondas de calor são motivo de grande preocupação. “Esses eventos estão entre as condições meteorológicas mais ameaçadoras para a vida humana. Ondas de calor causam maior mortalidade do que outros desastres naturais devido à larga escala e à falta de preparação da população para lidar com elas”, afirma Ambrizzi.