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Em meio à seca na Europa, Semana Mundial da Água discute soluções para consumo consciente

Em meio à seca na Europa, Semana Mundial da Água discute soluções para consumo consciente

World Water Week 2022 começa nesta terça-feira (23) em Estocolmo, na Suécia, defendendo que padrões de consumo mais responsáveis ​​são a chave para preservar a água no planeta

O consumo e a produção que movem a economia global ainda hoje em dia dependem do uso do meio ambiente e dos recursos naturais de uma forma que continua a ter impactos destrutivos no planeta. O progresso econômico e social atingido ao longo do último século para a humanidade foi também acompanhado pela degradação ambiental – que está colocando em risco os próprios sistemas dos quais nosso desenvolvimento futuro e, de fato, nossa própria sobrevivência, dependem.

Já o consumo e a produção sustentáveis, mais necessários e urgentes do que nunca antes, ​​consistem em fazer mais e melhor com menos. Trata-se também de dissociar o crescimento econômico da degradação ambiental, aumentar a eficiência dos recursos e promover estilos de vida sustentáveis, em linha com o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 12 (ODS 12), da Organização das Nações Unidas (ONU), que trata do “consumo e produção responsáveis”.

E a água tem papel fundamental nisso. Apesar de cobrir 71% da superfície da Terra, menos de 3% da água do mundo é doce (potável), dos quais 2,5% estão congelados na Antártida, Ártico e geleiras. A humanidade deve, portanto, contar com 0,5% para todas as necessidades do ecossistema natural e da população mundial. Ainda hoje, mais de 1 bilhão de pessoas ainda não têm acesso à água potável.

Principal conferência sobre questões globais deste tema, a Semana Mundial da Água (World Water Week 2022), que começa nesta terça-feira (23) em Estocolmo, na Suécia, chama atenção para essa realidade com um olhar voltado à conscientização de que padrões de consumo mais responsáveis ​​são a chave para preservar a água no planeta.

Realizado todos os anos desde 1991, o evento, organizado sem fins lucrativos pelo Instituto Internacional da Água de Estocolmo (SIWI, na sigla em inglês) atrai uma mistura diversificada de participantes de várias formações profissionais e de todos os cantos do mundo que, juntos, procuram desenvolver soluções para alguns dos maiores desafios relacionados à água, como pobreza, crise climática e perda de biodiversidade.

A conferência acontece em um momento oportuno, enquanto partes da Europa têm fortes prejuízos com um clima que alterna secas e chuvas torrenciais, chamando atenção para a importância da conservação da água. Por alguns meses, a Europa virou um grande sertão: na semana passada, o calor na Sicília, na Itália, por exemplo, chegou aos 43ºC. A seca levou ao racionamento de água na Itália e no Reino Unido, dias antes de tempestades provocarem destruição e mortes.

A Europa está sofrendo uma seca severa há semanas, com ondas de calor causando diversos problemas. Os níveis de rios e lagos estão caindo, o que gera grandes transtornos para embarcações. A queda no nível da água também está revelando alguns “tesouros” arqueológicos que normalmente ficam submersos.

Os mais sinistros são as “pedras da fome”, pedras que marcam o nível baixo de água e foram gravadas nos anos em que grandes secas precederam tempos de escassez e fome – a mais antiga é do século 15. A maioria ficou visível no leito do rio Elba, que vai da República Tcheca até a Alemanha. Em uma delas, de 1616, está escrito: “se me vir, chore”.

As pedras da fome são comuns na Alemanha — Foto: Getty Images

As pedras da fome são comuns na Alemanha — Foto: Getty Images

A pior estiagem da Europa em muitos anos é vista pelos cientistas como consequência do aquecimento global.

O valor da água em discussão

O grande tema da Semana Mundial da Água deste ano é “Vendo o invisível: o valor da água“. A conferência propõe uma reflexão: atualmente, a humanidade varia muito em suas atitudes em relação à água. Algumas pessoas pensam nela como um recurso a ser explorado em seu benefício. Outros o apreciam por seu próprio valor inerente ou como objeto de veneração espiritual ou religiosa. Há quem queira tirar vantagem política, diplomática ou militar desse recurso, enquanto outros a usam para criatividade artística, recreação e prazer, ou veem a água como formadora de relações entre as pessoas e seu ambiente.

Alguns pensam que a água pode ser propriedade, outros que é um bem público universal. E muitos não refletem sobre o assunto: apenas consideram sua disponibilidade contínua como garantida. Em suma, todas as pessoas do mundo valorizam a água de alguma forma diferente – ainda que seja não dando a ela a importância merecida. Isso porque esse recurso tem um alcance imenso, que vai desde garantir necessidades básicas até apoiar o progresso econômico, mitigar as mudanças climáticas, gerar energia e muito mais.

A água e sua gestão adequada geram benefícios em toda a sociedade. Assim como toda atividade humana tem uma pegada de carbono, também tem uma pegada hídrica, que abrange desde alimentos, bens manufaturados, energia, transporte e gestão ambiental, que dependem da água e dos ecossistemas naturais. Se suas pegadas hídricas e seus impactos nesses ecossistemas forem melhor calculados, compreendidos e valorizados, eles poderão ser mais bem sustentados no futuro.