Edu Guedes: por que o câncer de pâncreas é um dos mais temidos?

Diagnóstico é raro, porém tem alta letalidade devido à identificação tardia e ao comportamento agressivo
No último sábado, o chef e apresentador Edu Guedes, de 50 anos, foi operado no Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, para remover um tumor no pâncreas. A doença foi descoberta após complicações de uma infecção renal. O diagnóstico chama atenção para um tipo de câncer raro, porém letal.
De acordo com as estimativas do Instituto Nacional de Câncer (Inca), são esperados 10.980 casos a cada ano da neoplasia, ou seja, 5,07 a cada 100 mil habitantes. Tirando o câncer de pele não melanoma, ele é o 14º mais incidente, responsável por somente 1,6% de todos os diagnósticos oncológicos no país. No entanto, ele responde por cerca de 5% de todas as mortes.
Segundo informações do instituto, o câncer de pâncreas causa poucos sintomas, por isso costuma ser detectado em estágios mais avançados. Isso, aliado ao fato de a doença ter um comportamento agressivo, faz com que o diagnóstico tenha uma das maiores taxas de letalidade – número de mortes em relação ao de casos.
De acordo com o Instituto Nacional de Câncer dos Estados Unidos, o câncer de pâncreas é também o que tem a menor taxa de sobrevida. Somente 13,3% dos pacientes estão vivos cinco anos após o diagnóstico. Com o câncer de mama e de próstata, por exemplo, esse percentual é de 91,6% e 97,9%, respectivamente.
O Inca aponta alguns fatores de risco conhecidos para a neoplasia: idade avançada, sendo mais comum após os 60 anos; obesidade; diabetes tipo 2; tabagismo; consumo excessivo de álcool; baixo consumo de fibras, frutas e vegetais e algumas condições genéticas ou hereditárias, como síndrome de Lynch, câncer pancreático familial e pancreatite hereditária.
Ramon Andrade de Mello, médico oncologista do Centro Médico Paulista High Clinic Brazil e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Cancerologia, explica que, quando a doença se manifesta, alguns sintomas comuns são dor abdominal; perda de peso não intencional; pele e olhos amarelados (icterícia) e vômitos.
— A partir dos exames, o profissional poderá definir se trata-se de uma doença operável ou não. Caso seja operável, a cirurgia pode ser indicada. Outra opção é a realização de quimioterapia seguida de cirurgia e, posteriormente, retornamos com a quimioterapia. Por sua vez, se a doença já estiver disseminada pelo organismo, a quimioterapia é usada isoladamente — diz.
Ele conta que a sobrevida é especialmente curta quando o câncer é detectado já em fase metastática. Isso ocorre quando as células cancerígenas caem na corrente sanguínea e provocam novos tumores em outros órgãos além do inicial. Nesses casos, o paciente vive, em média, de 6 a 11 meses.
Quando a doença pode ser operada, o prognóstico é melhor. No entanto, Conan Kinsey, médico que trata pacientes com a doença no Instituto de Câncer Huntsman, nos EUA, afirma que somente 10% dos pacientes são diagnosticados num estágio em que o tumor ainda pode ser removido por cirurgia. Cerca de 85% já apresentam metástase.
Além disso, o especialista explica que a localização do pâncreas no corpo humano é chamada de “região de alto valor”, o que dificulta a cirurgia. Isso porque o órgão é rodeado por diversos vasos sanguíneos.