Dormir demais ou de menos pode levar a pessoa à morte
Pesquisa revela que a duração do sono é um dos fatores de risco que aumentam a mortalidade entre homens e mulheres
Muitos são os comportamentos que podem levar alguém à morte. Mas você sabia que dormir demais ou de menos são hábitos que também podem diminuir o tempo de vida? Uma pesquisa realizada com milhares de pessoas na Ásia revela que a duração do sono é um dos fatores de risco que elevam a mortalidade entre homens e mulheres.
O estudo realizado entre 1984 e 2002 e publicado no mês passado, no periódico científico Jama, analisou informações de aproximadamente 322 mil pessoas em países asiáticos, como Japão, China, Singapura e Coreia do Sul.
De acordo com a pesquisa, as mulheres que dormiam mais de oito horas por dia tinham mais chances de desenvolver doenças cardiovasculares. Com relação aos homens, a probabilidade aumentou entre aqueles que dormiam menos de cinco horas ou mais de dez. Ainda foi observado que somente as mulheres com duração de sono igual ou superior a dez horas apresentaram risco de câncer.
Os cientistas, no entanto, afirmam que, para atestar esses riscos em populações que não a asiática, são necessários mais estudos com indivíduos de outras localidades, como as populações norte-americanas ou europeias, por exemplo.
“O problema não está no sono em si, mas no motivo dessas pessoas precisarem dormir mais. Muitas delas são, em maioria, portadoras de apneia do sono ou sofrem de privação do sono, e aí reside o verdadeiro mal”, explicou o médico do sono pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP) e presidente da Associação Brasileira do Sono (ABS) – Regional Paraíba, Rodolfo Bacelar de Athayde, confirmando que o mau controle do sono, além de aumentar a mortalidade cardiovascular, pode ocasionar uma série de doenças.
Segundo o especialista, existem diversas causas para o sono excessivo, sendo as mais comuns a apneia de sono e privação do sono. Outras causas mais raras são a narcolepsia, a hipersonia idiopática e a síndrome de Kleine-Levin, também conhecida como síndrome da “bela adormecida”. Essa última trata-se de um distúrbio que faz com que a pessoa durma por longos períodos por até três semanas consecutivas. “É importante ressaltar que outras doenças podem levar ao sono excessivo sem ser, necessariamente, uma doença do sono, como a depressão e o hipotireoidismo”, frisou o médico, lembrando, ainda, que “algumas medicações usadas para outras doenças também podem resultar na sensação de sono aumentado”.
Os riscos de morte por doenças cardiovasculares também estão relacionados à falta de sono. Dormir pouco pode aumentar a chance de doenças coronarianas, arritmias, insuficiência cardíaca, acidente vascular cerebral e morte súbita. “Além disso, pacientes com tempo reduzido de sono podem sofrer mais facilmente de transtornos psiquiátricos, bem como de piora de outras doenças crônicas, como diabetes”, alertou Rodolfo de Athayde.
Mais da metade da população do Brasil se queixa da qualidade do sono. É o que mostra o Mapa do Sono dos Brasileiros, pesquisa realizada em 2020 pelo Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (Ibope), sob encomenda da farmacêutica Takeda. Segundo o levantamento, 65% dos entrevistados relataram baixa qualidade do sono e apenas 7% afirmaram que procuram a ajuda de um profissional quando isso ocorre.
O presidente da ABS – Regional Paraíba esclarece que as oito horas de sono fechadas não são determinantes para uma boa qualidade do sono, e que isso pode variar de acordo com as especificidades de cada pessoa. “Consideramos as horas ideais de sono aquela que dura entre cinco e nove horas, desde que a pessoa acorde com a sensação de sono renovador. Logo, as horas ideais de sono são algo individual, mas é preciso respeitar esse intervalo”, disse. O especialista também afirma que criar uma rotina, estabelecendo horários regulares para dormir, incluindo os fins de semana, pode minimizar os problemas relacionados ao sono e, consequentemente, os riscos de desenvolver doenças que aumentem a mortalidade cardiovascular.
Algumas medidas para dormir bem
– Interromper o uso de cafeína, nicotina e outras substâncias ou a prática de atividades que podem ser estimulantes até quatro ou seis horas
antes de dormir;
– Evitar refeições pesadas e excesso de líquido antes de ir para a cama;
– Evitar o uso de televisão e celular nos minutos que antecedem a hora de dormir;
– Ajustar a luminosidade do ambiente de dormir;
– Evitar deitar ou cochilar durante o dia – isso rouba horas de sono durante a noite;
– Criar uma rotina de atividades físicas;
– Buscar expor-se à luz solar (ao amanhecer e entardecer) – isso ajuda a regular a melatonina e o relógio biológico;
– Antes de dormir, reservar 30 minutos para resolver os “problemas” do dia a dia e não levá-los para a cama.