Anchor Deezer Spotify

Dormente ferroviário de plástico reciclado é alternativa sustentável para os modelos no mercado

Dormente ferroviário de plástico reciclado é alternativa sustentável para os modelos no mercado

O projeto foi desenvolvido na Escola de Engenharia de São Carlos como uma inovação para os modelos atuais da estrutura e une sustentabilidade, segurança e resistência

Um projeto de dormente ferroviário polimérico em colmeia foi desenvolvido na Escola de Engenharia de São Carlos (EESC) da USP. A inovação é uma alternativa para os modelos atuais da estrutura e une sustentabilidade, segurança e resistência. Os dormentes ferroviários são peças que desempenham a função de base para o caminho dos trens. Além disso, fazem com que a distância entre os trilhos se mantenha no tamanho padrão e suporte a força aplicada, que é dissipada sobre as pedras britadas presentes na estrada.

Benedito Moraes Purquério –
Foto: ResearchGate / GmbH

Três tipos de dormentes são comumente utilizados: o de madeira, que demanda desmatamento e tratamento com substâncias tóxicas, o de concreto, mais pesado e de fácil trincamento, e o de aço, cujo custo é alto e acarreta poluição sonora.

A tecnologia começou a ser desenvolvida há cerca de 20 anos, a partir de uma demanda recebida por Benedito Purquerio, professor aposentado do Departamento de Engenharia Mecânica da EESC. Na época, o professor foi procurado por uma empresa que buscava uma alternativa para as desvantagens dos materiais citados. “Optaram por essa possibilidade porque outros países já estavam fazendo isso, usando material reciclado para produzir estruturas poliméricas”, conta. O componente principal do dormente desenvolvido na USP é o plástico — material sintético presente no dia a dia, cuja produção excessiva, descarte incorreto e tempo de decomposição merecem atenção.

Colmeia

Um dos diferenciais do projeto é a sua formação interna, feita na estrutura de colmeia. Essa forma garante mais resistência e durabilidade, além de evitar um fenômeno conhecido como rechupe ou rechupagem, segundo o professor.

Esse efeito ocorre durante o processo de resfriamento e produção das peças, caracterizados como vazios inoportunos na estrutura, os quais diminuem sua durabilidade, por exemplo. De acordo com Purquerio, essa ocorrência é mais comum em dormente brutos e maciços.

A escolha do formato tem inspiração na natureza, como o abrigo construído pelas abelhas. “Quando se deseja alta resistência e baixo peso, nós usamos essa estrutura”, explica. As dimensões externas do dormente seguem as exigências da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), mas seu interior é composto de pequenas formas hexagonais.

A inovação é mais leve quando comparada às demais disponíveis no mercado. “Particularmente os dois terços de cada extremidade são preenchidos com um granito sintético, para atingir o peso mínimo e trazer resistência e amortecimento das vibrações”, demonstra.

Devido à aposentadoria de Benedito Purquerio, a inovação segue em andamento nas mãos do professor Carlos Fortulan, também do Departamento de Engenharia Mecânica da EESC. Ele complementa: “O próprio vazado auxilia na refrigeração e possibilita que se usem equipamentos de menor dimensão. É pouco suscetível ao trincamento e às intempéries do tempo”.

Sustentabilidade

Carlos Alberto Fortulan
– Foto: ResearchGate / GmbH

Por ser produzido a partir de plástico reciclado, a tecnologia também é uma alternativa para a reciclagem desse material — que pode levar de décadas a centenas de anos para se decompor naturalmente. “No caso do dormente tem essa vantagem, porque ele admite até um certo nível de impurezas, como pedaços de cascalho ou arame”, comenta Fortulan.

Segundo o Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil 2022, por exemplo, aproximadamente 64 quilos de resíduos plásticos foram produzidos por pessoa naquele ano. O professor associado acredita que o projeto tem alta capacidade de trazer esses restos de volta ao processo de fabricação, sob a forma do dormente.

Especificações

Em relação ao público-alvo, Benedito Purquerio destaca as empresas que possuem leitos ferroviários: “Elas vão se interessar e acredito que o retorno desse meio de transporte vai acontecer em breve”. Em 2025, o governo federal apresentou o Plano Nacional de Ferrovias, com a proposta de conceder cinco iniciativas de estradas para trens à iniciativa privada. Para Carlos Fortulan, cooperativas de reciclagem são um setor de interesse intermediário, já que seriam uma das fontes da matéria-prima do dormente.

A patente se encontra na fase 5 do nível de maturidade tecnológica, ou seja, em testes com protótipo cujas configurações físicas estão próximas da versão final. Segundo o professor que supervisiona o trabalho atualmente, é preciso que alcance a escala real de mercado para ser comercializado. “É necessária agregação de máquinas reais, de grande envergadura. E essa etapa não é tão barata”, finaliza.

*Sob supervisão de Cinderela Caldeira e Paulo Capuzzo