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Dia dos Povos Indígenas: quando a autonomia floresce nas margens do Médio Xingu

Dia dos Povos Indígenas: quando a autonomia floresce nas margens do Médio Xingu

No Dia Internacional dos Povos Indígenas, projetos conduzidos por lideranças do Médio Xingu mostram que a autonomia floresce quando tradição e futuro navegam na mesma canoa

O rio Xingu carrega histórias antes mesmo que o mundo tivesse mapas. Suas águas conhecem o som das cantigas, o peso dos remos e o silêncio das decisões tomadas à sombra das mangueiras. É nesse território de memória e movimento que, neste 9 de agosto, Dia Internacional dos Povos Indígenas, surgem histórias que falam de futuro: aldeias que assumem as próprias rédeas, constroem soluções, fortalecem sua voz e cuidam umas das outras — como sempre fizeram, mas agora com novas ferramentas, recursos e reconhecimento.

O que floresce ali vai muito além de políticas públicas ou ações pontuais. É a autonomia se materializando em iniciativas concretas — da perfuração de poços ao fortalecimento institucional, da gestão territorial à cooperação entre etnias. E, nesse processo, tradição e futuro caminham lado a lado.

Na aldeia Cupi, do povo Xipaya Kuruaya, a Associação Bitatá protagoniza um feito que vai mudar a rotina de centenas de pessoas: levar água potável a 12 aldeias das Terras Indígenas Trincheira Bacajá e Apyterewa. Mais de 300 indígenas serão beneficiados. Mas não é apenas uma obra de infraestrutura. É um gesto ancestral de solidariedade.

“A gente viu que nossos parentes de outras aldeias estavam precisando de água e decidimos fazer um projeto que ajudasse eles também”, diz o cacique Antonio Xipaya. “Aprendemos como elaborar e prestar contas de um projeto, e isso fortaleceu nossa associação para fazer ainda mais.”

O projeto integra o Programa de Fortalecimento Institucional (PFI), do Plano Básico Ambiental do Componente Indígena (PBA-CI), ligado à Usina Hidrelétrica Belo Monte. Ele recebe financiamento do Plano de Desenvolvimento Regional Sustentável do Xingu (PDRSX) — política pública que busca reduzir desigualdades e que, aqui, se traduz em acesso à água limpa e dignidade.

A força dessa autonomia também se manifesta na Associação Indígena Tato’a, que agora executa programas de gestão territorial e fortalecimento institucional na Terra Indígena Apyterewa, em São Félix do Xingu. Após a recente desintrusão do território pelo Governo Federal, a reocupação tornou-se prioridade — e as próprias lideranças tomaram as rédeas do processo, em diálogo com a FUNAI e o Ministério dos Povos Indígenas.

O acompanhamento técnico segue nas mãos da Norte Energia, com repasses e avaliações trimestrais. Para Sabrina Brito, gerente Socioambiental da empresa, essa transição é histórica:

“Estamos acompanhando uma transformação. As lideranças estão cada vez mais preparadas para coordenar projetos estratégicos, com visão de longo prazo, garantindo a sustentabilidade dos seus territórios e das futuras gerações.”

foto de bruno bahia e sabrina brito, ambos da norte energia - remete a matéria Dia dos Povos Indígenas: quando a autonomia floresce nas margens do Médio Xingu
Bruno Bahiana (superintendente Socioambiental e do Componente Indígena) e Sabrina Brito, ambos da Norte Energia – Foto: Divulgação

No Médio Xingu, a autonomia não é conceito teórico. Ela está na água que volta a brotar, no território protegido por quem o conhece desde antes dos mapas e nas mãos que plantam futuro para as próximas gerações.

E é isso que este Dia dos Povos Indígenas nos convida a enxergar: que a verdadeira sustentabilidade não vem de fora — ela nasce onde há enraizamento, respeito e escuta. Ela nasce onde o rio encontra quem sabe guiá-lo.