Dessalinização com estanho derretido gera água doce e metais valiosos

Uma nova tecnologia verde, que pode funcionar inteiramente à base de energia termossolar, consegue dessalinizar a água do mar diretamente e sem gerar milhões de metros cúbicos de salmoura como subproduto.
A escassez de água potável é um problema bem conhecido, mas as atuais usinas de dessalinização que ajudam a resolvê-lo descartam aproximadamente 140 milhões de metros cúbicos de salmoura por dia. A salmoura normalmente contém elementos metálicos concentrados, mas os métodos existentes para recuperação desses metais consomem muita energia e geram outros tipos de resíduos perigosos.
Toranosuke Horikawa e colegas do Instituto de Ciências de Tóquio, no Japão, idealizaram então uma técnica para dessalinizar a água do mar, ou a salmoura diretamente, usando metal em estado líquido – especificamente, estanho fundido.
A equipe demonstrou que esta tecnologia transforma a salmoura dessalinizada de um passivo ambiental em um recurso valioso: Além de produzir a tão desejada água doce a partir da água do mar, o processo recupera os metais gerados no processo, que passam a representar uma fonte adicional de receita para a usina.
“A tecnologia proposta para a coleta e recuperação de elementos metálicos da salmoura de dessalinização da água do mar também pode ser usada para destilar águas subterrâneas poluídas com arsênio sem consumir grandes quantidades de energia ou produzir resíduos,” observou o professor Masatoshi Kondo, coordenador da equipe. A contaminação das águas subterrâneas com arsênio é um problema generalizado que afeta a água potável de milhões de pessoas em várias regiões.

[Imagem: Toranosuke Horikawa et al. – 10.2166/wrd.2025.100]
Dessalinização com estanho líquido
O processo consiste em pulverizar a salmoura ou a água salgada sobre uma superfície de estanho derretido, com uma temperatura por volta de 300 °C. Ao entrar em contato com o metal líquido, a água evapora instantaneamente, gerando água doce, enquanto elementos valiosos como sódio, magnésio, cálcio e potássio permanecem no estanho.
Quando o depósito de estanho derretido satura, ele é vazado para um recipiente auxiliar, onde passa por um processo de resfriamento lento, que faz com que diferentes elementos metálicos precipitem a temperaturas específicas, permitindo sua recuperação. Nessa destilação fracionada, o potássio começa a precipitar primeiro, seguido pelo sódio, cálcio e, finalmente, magnésio, permitindo a recuperação direcionada de cada metal.
Esta tecnologia se alinha a múltiplos objetivos de desenvolvimento sustentável, proporcionando um caminho para proteger recursos de água doce e metais sem gerar resíduos secundários ou emissões significativas de carbono. No geral, a abordagem baseada em estanho líquido oferece uma solução promissora que transforma desafios ambientais em oportunidades valiosas, além de ser energeticamente eficiente.
“A principal fonte de energia para esse tipo de dessalinização da água do mar pode ser a energia solar concentrada, já que o calor é a principal fonte de energia necessária para esse processo de dessalinização. Ao contrário dos métodos convencionais, não é necessário um grande consumo de eletricidade, permitindo o desenvolvimento de um processo sustentável,” disse o professor Kondo.
Artigo: Liquid metal technology for collection of metal resources from seawater desalination brine and polluted groundwater
Autores: Toranosuke Horikawa, Mahiro Masuda, Minho Oh, Masatoshi Kondo
Revista: Water Reuse
DOI: 10.2166/wrd.2025.100