Descarbonizar dá lucro: por que a transição energética virou vantagem competitiva global, segundo a Schneider Electric
Dados econômicos, pressão do mercado financeiro e políticas públicas mostram que empresas que descarbonizam crescem mais
A transição energética deixou de ser um conceito climático distante e se tornou um movimento econômico que tende a dominar o mercado a médio e longo prazo. Este é o argumento utilizado pelo diretor de Negócios Sustentáveis da Schneider Electric na América Latina, Mathieu Piccin. Segundo ele, a descarbonização já é uma estratégia de crescimento, e não mais um custo para as empresas.
Piccin conversou com a reportagem durante a Conferência das Partes, a COP30, em Belém, no último mês de novembro. Para ele, a inversão de lógica no mercado se consolidou nos últimos anos, impulsionada tanto pelo aumento de eventos climáticos extremos quanto pela maior cobrança do mercado financeiro.
“Sustentabilidade não é um custo superior. As instituições financeiras já entendem que a transição ecológica é parte da mitigação de riscos sistêmicos”, afirma Piccin, destacando que bancos e fundos globais têm condicionado crédito e investimentos à adoção de metas de carbono mais ambiciosas.
Europa
Os dados citados pelo executivo reforçam uma tese que permeou a conversa. “A Europa reduziu sua pegada de carbono em 36% desde 1990, e nesse mesmo período a economia cresceu”, diz. O decoupling ambiental, que é a separação entre crescimento econômico e emissões, deixa claro que prosperidade e sustentabilidade são compatíveis quando políticas públicas e tecnologia avançam juntas.
Ao mesmo tempo, o custo de ignorar a crise climática já se tornou um problema. Piccin cita levantamentos recentes. “Os desastres climáticos geraram mais de 3 trilhões de dólares em impactos desde 2020”. O número, que inclui prejuízos em infraestrutura, agricultura, seguros e logística global, demonstra que a falta de ação é hoje o risco financeiro mais caro.
Segundo Piccin, a transição energética acelerou porque deixou de ser apenas uma pauta exclusivamente ambiental. Hoje, é um motor de eficiência econômica.
Ele afirma que grandes corporações, inclusive data centers e setores altamente intensivos em energia, já buscam fornecimento 100% renovável por dois motivos. “Reduzir custo e atender à demanda de consumidores e investidores”, aponta.
“Há milhares de indústrias adotando metas baseadas na ciência, e muitas já compram energia renovável porque faz sentido financeiro e estratégico”, diz Mathieu Piccin.
No Brasil, o cenário é ainda mais favorável. Graças a décadas de políticas públicas em hidrelétricas, biomassa, eólica e solar, o país tem uma das matrizes elétricas mais limpas do mundo — o que oferece vantagem competitiva na corrida global pela descarbonização.
Para Piccin, empresas que não reduzirem suas emissões enfrentarão maior custo de capital, restrições de crédito, exigências regulatórias e perda de competitividade internacional. “Se o negócio não for sustentável do ponto de vista ambiental e social, ele se expõe a riscos regulatórios, de mercado e de acesso a capital”, alerta.
A própria regulação brasileira já começou a incorporar essa dinâmica. A Comissão de Valores Mobiliários exige transparência climática em empresas listadas, e bancos públicos e privados ampliaram o financiamento vinculado a metas ambientais.
Mathieu participou de sua primeira COP em Belém e destaca a importância de encontros multilaterais para alinhar ambições. “Essas reuniões fazem diferença. Se não tivessem acontecido, a situação das emissões globais estaria muito pior”. Ele lembra que a Europa só chegou ao nível atual de descarbonização graças a políticas consistentes guiadas pelo Acordo de Paris.
