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Desaparece uma das oito ararinhas-azuis reintroduzidas em refúgio de proteção em Curaçá

Desaparece uma das oito ararinhas-azuis reintroduzidas em refúgio de proteção em Curaçá

Depois de 22 anos extintas na natureza, em 11 de junho, oito ararinhas-azuis foram soltas num Refúgio de Vida Silvestre criado especificamente para a reintrodução da espécie, em Curaçá, na Bahia. As aves estão acompanhadas de um grupo de araras maracanãs, capturadas na vida selvagem para servirem de guias para as ararinhas-azuis nesse primeiro momento, já que possuem hábitos de alimentação e vida semelhantes.

Todavia, na semana passada, uma das ararinhas-azuis debandou do grupo e não voltou para a área de alimentação, localizada próximo ao recinto externo onde elas passaram pelo processo de aclimatação.

“No dia 25 de agosto, 75 dias após a soltura, uma ararinha-azul (n. 005) não foi observada próxima ao recinto de soltura pela manhã. O sinal do seu transmissor também não foi detectado. O sinal das demais continua funcionando, assim como das maracanãs”, revelou Camile Lugarini, coordenadora executiva do Plano de Ação Nacional para a Conservação da Ararinha-azul.

Ainda segundo a bióloga, diariamente é feito o monitoramento das aves. Todas as ararinhas-azuis possuem transmissores acoplados a um colar, assim como anilhas e microchips. “Além disso, duas das oito maracanãs soltas juntamente com as ararinhas-azuis possuem transmissores do mesmo modelo utilizado para a ararinha-azul”, diz.

Além da tentativa de reencontrar o sinal de localização da ararinha, representantes do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e da Association for the Conservation of Threatened Parrots (ACTP), instituição alemã, parceira do governo brasileiro no programa de reintrodução da espécie, estão também buscando ainda algum vestígio de possível predação da ave em terra.

“Alguns fatores podem ser a causa da não detecção, como destruição do radiocolar, mau funcionamento do equipamento ou distância dos receptores do sinal”, explica Camile.

Nas comunidades locais e também através do WhatsApp foi divulgada a notícia do sumiço da ararinha-azul com o pedido de ajuda, caso alguém aviste a ave deve entrar em contato com os responsáveis pelo programa de reintrodução.

“Qualquer informação sobre o paradeiro da ararinha-azul é muito importante para nós e para a conservação da espécie na natureza”, reforça a especialista.


Cartaz divulgado com informação do sumiço de uma ararinha

Situação já ocorreu antes
Esta não é a primeira vez que uma ararinha-azul se separa do grupo no refúgio de Curaçá. A coordenadora executiva do plano de conservação para a espécie conta que em outras cinco ocasiões desde a soltura, em junho, três indivíduos se dispersaram.

“Em duas ocasiões houve a recaptura do indivíduo e soltura com o grupo. Nas outras, houve a volta natural para o bando”, diz Camile. Mas ela ressalta que a coesão do grupo e a fidelidade ao local de soltura são importantes para o sucesso da reintrodução, especialmente no primeiro ano após a soltura. “Isso faz com que os indivíduos estejam menos sujeitos à predação, morte por falta de água ou alimento ou captura”.

Infelizmente, sem o sinal e nem visualização há quase uma semana dessa ararinha, a bióloga teme que as chances de predação ou outro evento sejam cada vez maiores.

As ararinhas-azuis
Espécie endêmica do Brasil, ou seja, ela só existe em nosso país e em nenhum outro lugar do mundo, no século passado a ararinha-azul (Cyanopsitta spixii) foi vítima do tráfico ilegal de aves e a cobiça de grandes colecionadores internacionais que as levaram ilegalmente para outros países. O último indivíduo voando livre, na natureza, foi observado por volta do ano 2000.

As oito ararinhas-azuis soltas em Curaçá nasceram em cativeiro no criatório particular da ACTP. Elas chegaram na Bahia em março de 2020, num grupo de 52 indivíduos (leia mais aqui).

Atualmente há no refúgio de vida silvestre 13 casais reprodutivos, dois casais não reprodutivos, 12 ararinhas sendo preparadas para a soltura e três filhotes nascidos já aqui no Brasil, em 2021 (contei sobre o nascimento do primeiro deles nesta outra reportagem).

Enquanto isso, na sede da ACTP, na Alemanha, existem 157 ararinhas-azuis. Apenas no ano passado, nasceram lá 52 filhotes. A expectativa é que 20 indivíduos sejam trazidos ao Brasil ainda este ano.

Desaparece uma das oito ararinhas-azuis reintroduzidas em área de proteção em Curaçá, na Bahia

As ararinhas soltas em Curaçá

*Texto atualizado às 15h50 para incluir mais informações enviadas pela bióloga Camile Lugarini


Suzana Camargo
Jornalista, já passou por rádio, TV, revista e internet. Foi editora de jornalismo da Rede Globo, em Curitiba, onde trabalhou durante 6 anos. Entre 2007 e 2011, morou na Suíça, de onde colaborou para publicações brasileiras, entre elas, Exame, Claudia, Elle, Superinteressante e Planeta Sustentável. Desde 2008 , escreve sobre temas como mudanças climáticas, energias renováveis e meio ambiente. Depois de dois anos e meio em Londres, vive agora em Washington D.C.