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De olho no futuro da moda: como startup baiana transforma desperdício de tecido em peças sustentáveis

De olho no futuro da moda: como startup baiana transforma desperdício de tecido em peças sustentáveis

Ecoloy produz ecobags com soluções escaláveis, inteligentes e sustentáveis, mirando no consumo responsável desde a etapa de produção

Em tempos de crise climática, a busca por soluções capazes de frear os impactos negativos no meio ambiente é cada vez mais urgente. Ocupando um preocupante segundo lugar no ranking dos maiores poluidores globais, ficando atrás apenas das produtoras de petróleo, a indústria da moda se esforça em virar o jogo, tentando lidar com vários fatores, como a produção de roupas, o uso de recursos naturais, a geração de resíduos e a poluição.

Iniciativas como as da Ecoloy inspiram e são capazes de fazer a diferença. A startup baiana direciona seu foco para um movimento que transforma resíduos têxteis em soluções escaláveis, inteligentes e, claro, sustentáveis. Por trás dessa revolução está Loyola Neto, baiano nascido em Ubaitaba, no sul do estado, condecorado cidadão soteropolitano, empreendedor e, acima de tudo, inquieto com os excessos da indústria.

Formado em administração de empresas, com pós-graduações em gestão de negócios e em sustentabilidade, Loyola começou sua trajetória muito jovem. “Tenho uma fábrica há 28 anos, que é a Loygus. É uma confecção que faz camiseta promocional, uniforme leve e abadá. Montei quando tinha 17 anos. Nos tornamos referência no mercado do carnaval, no mercado de eventos. Referência no carnaval de Salvador”, conta ele.

Apesar da grande demanda, a inquietação com o desperdício sempre esteve ali. “Sempre me incomodou a quantidade de resíduo, de sobras na hora de cortar as peças, e aquilo me deixava agoniado. Para aproveitar ao máximo os tecidos, comecei a fazer saquinhos, sacolinhas, encaixando sempre alguma coisa nas laterais — o que a gente chama de apara de tecido — para mitigar o máximo possível a quantidade de resíduo gerado. Passei a fazer isso com a ajuda do Audaces, software que faz planejamento de risco e se tornou nosso parceiro”.

Conheça a Ecoloy: como startup baiana transforma desperdício de tecido em peças sustentáveis — Foto: Divulgação
Conheça a Ecoloy: como startup baiana transforma desperdício de tecido em peças sustentáveis — Foto: Divulgação

O problema não é pequeno. Loyola exemplifica: “Se eu for fazer 5 mil camisas, preciso comprar uma tonelada de tecido. Aí coloco mil quilos em cima da mesa de corte, faço o plano de risco e 15% vira resíduo. Ou seja, corto 5 mil camisas e sobram 150 kg de resto de tecido que acaba nos aterros ou é incinerado.”

A virada de chave veio com o nascimento de seu filho. E com ele, uma reflexão poderosa: “Comecei a bugar. Porque um dia eu vou ser o maior ídolo do meu filho. Meus pais são meus ídolos, mas um dia ele vai descobrir que o ídolo dele é um dos vilões para o mundo em que ele vai viver. Foi daí que nasceu o Tetris Ecológico, um método que desenvolvemos para otimizar ao máximo o uso do tecido no corte”.

Conheça a Ecoloy: como startup baiana transforma desperdício de tecido em peças sustentáveis — Foto: Divulgação
Conheça a Ecoloy: como startup baiana transforma desperdício de tecido em peças sustentáveis — Foto: Divulgação

Em 2019, nascia oficialmente a Ecoloy, fruto de um processo de aceleração focado nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), que trata de consumo e produção responsáveis. “Comecei a entender que tinha que pegar aquilo ali e transformar em um negócio. Veio a pandemia, foi uma loucura, imagine para a minha fábrica. Em 2022, retomei com a Ecoloy. Foi quando apresentei para Audaces o método Tetris”.

Daí surgiu uma das soluções mais potentes da startup: um sistema que une software e hardware, desenvolvido em um projeto de dois anos no Senai Cimatec Park, com a multinacional brasileira Audaces. “Com esse novo software, em vez de 15% de desperdício no corte, teremos apenas 7%. Ele eleva muito o aproveitamento da matéria prima, gerando lucro para quem utilizar e diminuindo a quantidade de resíduos. Foram dois anos de desenvolvimento entre software e uma máquina que vai tornar a indústria de confecção mais sustentável. Todos os trâmites para aprovação e colocar em prática terminam em agosto”, comemora Loyola, que segue no propósito de cuidar do planeta.

Com a cabeça de seu sócio-fundador fervilhando de ideias e o apoio de uma equipe em sintonia com os propósitos da empresa, a Ecoloy não para. A startup criou a Ecobaggy, uma bolsa sustentável e funcional que virou objeto de desejo. “Ela é feita de resíduo têxtil. É um material que vem de uma indústria chamada BMD Textiles, no polo petroquímico de Camaçari. Eles têm tecido de manta asfáltica, manta de cama elástica, manta de cadeira de praia. Esses resíduos vêm para a gente e transformamos nessa bolsa sustentável, que resiste até 30 kg e dura no mínimo 5 anos. Serve para praia, supermercado… e a venda dela ajuda a alimentar nossos projetos”.

Loyola Neto, sócio-fundador da Ecoloy — Foto: Divulgação
Loyola Neto, sócio-fundador da Ecoloy — Foto: Divulgação

E como dizem que a criatividade baiana não tem limites, em julho, a Ecoloy lança um projeto que promete impactar também o mercado da construção civil: o isopor sustentável, produzido a partir de resíduos têxteis, petroquímicos e aditivos naturais, fruto do edital Cidade Zero Carbono, em parceria com a Prefeitura de Salvador, Senai Nacional e Cimatec. “75% da composição é de tecido descartado. Poderá substituir o isopor em diferentes usos, como isolamento acústico e térmico”.

Além da preocupação com questões ambientais, a Ecoloy também promove impacto social, capacitando e empregando pessoas em situação de vulnerabilidade, em parceria com instituições como o Senac, o projeto Pérolas de Cristo e a própria Loygus. No fim das contas, o que a Ecoloy faz é ressignificar. “Nosso propósito é transformar resíduos têxteis em valor sustentável, usando tecnologia e inovação para gerar impacto social e ambiental” é o mote da startup, que trabalha duro para provar que aquilo que muitos chamam de lixo pode — e deve — ganhar novas formas, novos usos e novos significados. Porque, na moda do futuro, desperdício definitivamente não tem vez.