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Creche do Amazonas é premiada ao criar jardim sensorial para autistas

Creche do Amazonas é premiada ao criar jardim sensorial para autistas

Projeto, de Manaus (AM), venceu a 3ª edição do Prêmio Escolas Sustentáveis e levou o prêmio de R$ 17,5 mil. Conheça a iniciativa!

Plantas comestíveis, areia, pedras coloridas… As crianças que entram no jardim sensorial da Creche Municipal Magdalena Arce Daou, em Manaus (AM), têm uma experiência sinestésica completa, como seus cinco sentidos explorados! O projeto faz parte do IncluARTE — SustentART, uma iniciativa cujo objetivo é promover ações sustentáveis, artísticas e inclusivas.

A ideia foi premiada na 3ª edição do Prêmio Escolas Sustentáveis, organizada pela Santillana, Organização de Estados Ibero-Americanos para a Educação, a Ciência e a Cultura (OEI) e a Fundação Santillana. Além do prêmio de R$ 17,5 mil, a instituição de ensino também representará o Brasil na etapa internacional da competição.

O que é o IncluARTE — SustentART?

O projeto, que envolveu crianças de 11 meses a 4 anos, nasceu com o intuito de transformar territórios degradados pelos impactos ambientais, uma vez que a Creche Municipal Magdalena Arce Daou está localizada à beira de um Igarapé poluído. A iniciativa incluiu:

Oficinas de terrários

Construção de brinquedos sustentáveis

Hortas

Jardins comunitários

Atividades de conscientização ambiental, como a coleta de material reciclável

A ação também foi instigada por uma realidade muito comum na comunidade. “Percebemos que muitas mães estavam bem abaladas com o diagnóstico precoce de TEA dos filhos e se viam desamparadas, precisando de um acolhimento”, destacou Maria Raquel Santos, professora da creche municipal, em entrevista à CRESCER.

Ao mesmo tempo, os pequenos também necessitavam de apoio. “Eles eram muito tímidos e sensíveis”, revelou a educadora. A partir daí, a creche se mobilizou para colocar essas crianças em contato com a arte e a sustentabilidade.

Os alunos saíram a caminho do Igarapé para coletar tampinhas e garrafas de plástico que pudessem se transformar em trabalhos artísticos. Esses tinham um toque especial: eram inspirados em grandes artistas amazonenses.

Crianças desenvolvem atividades sustentáveis em Manaus — Foto: Divulgação
Crianças desenvolvem atividades sustentáveis em Manaus — Foto: Divulgação

O jardim sensorial

Enquanto fazia uma visita a uma escola de ensino fundamental, a professora Maria Raquel ficou encantada com um espaço bem peculiar. A instituição tinha um jardim sensorial utilizado para trabalhar com os sentidos dos adolescentes. “Achei isso muito interessante. Decidi pegar essa ideia e levar para a nossa creche”.

Para dar o pontapé inicial no projeto, a educadora contou com a ajuda da escola que visitou. “Eles prontamente nos ajudaram, fizeram até oficinas de terrário com as crianças”, a professora lembrou. Na creche, o principal objetivo do jardim sensorial era amparar crianças com autismo, especialmente porque elas são mais sensíveis aos estímulos sensoriais.

É claro que as outras crianças também se beneficiaram da proposta. No entanto, no caso dos pequenos com TEA, esse espaço se transformou em um verdadeiro ativador de experiências novas. Era possível tocar a textura do buriti, a casca de jatobá, a palha do próprio açaí e andar na areia; olhar para as inúmeras pedras coloridas; apreciar o sabor de algumas plantas e até sentir aquele cheirinho de terra ou os aromas vindo da horta comunitária.

Maria Raquel cita que o projeto tocou muitas crianças. Como exemplo, ela traz a história de um garotinho que tinha muita dificuldade de andar descalço. “Era impossível. A mãe disse que ele ia para a praia e, simplesmente, entrava em pânico, justamente pelo contato arenoso da areia”, a educadora contou.

Aos poucos, as educadoras da creche foram trabalhando com o aluno a fim de superar essa barreira. Primeiro, foi colocado um plástico para ele pisar no jardim sem tocar na areia. Com o tempo, o plástico não foi mais necessário e o pequeno já se aventurava sozinho no jardim. “Para mim, é algo muito emocionante. Tudo isso é muito concreto e palpável. É uma vitória para mim e para ele”, ela avaliou.

O que fazer com o prêmio?

Com o valor de R$ 17,5 mil do prêmio, a professora pretende aprimorar o projeto ainda mais com a compra de mais materiais. “Queremos ampliar o jardim, colocar mais elementos amazônicos, fazer uma trilha com troncos e até fazer uma trilha suspensa com materiais da nossa região”, ela comentou.

Quanto à experiência de vencer a competição, a educadora define em uma palavra: “extraordinário”. “Como educadores, nós sentimos realizados, pois partimos de uma grande transformação que atravessa os muros concretos da instituição. A creche é um local de desenvolver as potencialidades e as competências dessas crianças, que são o futuro. Vemos que é possível fazer a diferença com poucos recursos”, finalizou.