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COP29 entra em semana decisiva para o clima e o futuro do Planeta

COP29 entra em semana decisiva para o clima e o futuro do Planeta

Tensão política e falta de consenso colocam negociação climática na conferência da ONU em risco

Tensões geopolíticas têm dominado a COP29 em Baku, Azerbaijão, com ativistas climáticos pressionando os líderes nacionais a focarem na missão central do evento: garantir o financiamento para os países mais vulneráveis. A primeira semana de negociações do evento, batizado de “COP da Paz” pelo governo do Azerbaijão, foi marcada por distúrbios, incluindo o cancelamento da viagem de uma ministra francesa e a retirada da delegação da Argentina, que está sob uma presidência de postura negacionista em relação ao clima de Javier Milei.

Na semana passada, a França anunciou a retirada de sua ministra de Transição Ecológica, Agnès Pannier-Runacher, que lideraria a delegação do país no evento. A ausência da dirigente segue a decisão do presidente Emmanuel Macron de não participar das discussões climáticas este ano. O encontro da ONU teve um início turbulento com um incidente diplomático, quando o presidente do Azerbaijão, Ilham Aliyev, criticou a França por supostos “crimes” nos territórios ultramarinos, em meio a tensões sobre o apoio francês à Armênia no conflito de Nagorno-Karabakh, uma disputa territorial e étnica de longa data entre Armênia e Azerbaijão.

A retirada da Argentina das negociações também aumenta a tensão, especialmente sobre o financiamento climático para países em desenvolvimento, ao enfraquecer a posição da América Latina nas negociações, afetando a solidariedade regional em questões de justiça climática em um momento crucial. Isso porque a emergência climática exige uma abordagem colaborativa global, e tem sido tratada por muitos países latino-americanos como uma questão de justiça social, especialmente em relação às nações mais vulneráveis da região.

Em meio a tensões e pouco clareza inicial sobre a agenda do encontro, na primeira semana da COP29, houve poucos avanços significativos, mas discussões destacaram a urgência de ações climáticas globais. Um ponto alto foram as intervenções de líderes como Ban Ki-moon, Christiana Figueres, o cientista brasileiro Carlos Nobre e da própria sociedade civil organizada, pedindo a reforma nas cúpulas climáticas da ONU para torná-las mais eficazes. A ideia é que o processo atual de negociação seja simplificado, que as reuniões sejam realizadas com mais frequência, dando mais voz aos países em desenvolvimento, e apenas em países que possam demonstrar um apoio claro à ação climática.

Não sem razão. De acordo com um levantamento da Kick Big Polluters Out, rede que reúne mais de 450 organizações de ação climática, pelo menos 1.773 lobistas do setor de combustíveis fósseis receberam acesso à COP29, em Baku, revelando a presença massiva de poluidores nas negociações climáticas anuais, tendência que tem sido observada consistentemente nas reuniões da ONU à medida que cresce a pressão para redução do uso de petróleo, gás e carvão, principais vilões da emergência climática, em todo o mundo. O presidente do Azerbaijão, Ilham Aliyev, inclusive fez declarações em defesa do gás natural, dificultando o consenso sobre a transição energética, tema-chave das negociações.

As manifestações climáticas durante a COP29 em Baku, que tendem a ganhar fôlego no final da primeira semana, foram restritas devido à natureza autoritária do governo anfitrião, com protestos sendo realizados dentro do local, em vez de marchas externas. Ativistas chegaram a realizar um comício em uma sala plenária e formaram uma cadeia humana fora das salas, mas sem cantar ou gritar, em conformidade com as regras que buscam evitar “perturbar as negociações”. Muitos manifestantes expressaram frustração com a redução do espaço para protestos, especialmente no contexto de repressão política no Azerbaijão.

Após um panorama com progressos limitados sobre o financiamento climático e ações para redução de emissões, a COP29 entra em semana decisiva para o clima e o futuro do Planeta. Análise do editorial do britânico The Guardian aponta que a COP29 está sendo uma das mais fracas, com poucas expectativas de avanços significativos, especialmente em relação ao financiamento para países em desenvolvimento e ao compromisso com a redução de emissões. Para a segunda semana, o desafio será garantir compromissos mais claros e ação concreta para evitar o aquecimento global superior a 2°C. A conferir.