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Conheça a startup que desenvolve biofertilizantes a partir de microalgas

Conheça a startup que desenvolve biofertilizantes a partir de microalgas

Com sede nos EUA, a empresa conta com 15 clientes no país norte-americano majoritariamente de plantações de frutas vermelhas, mas a biotech espera vir para o Brasil e investir em soja e milho

Em um mundo que busca cada vez mais sustentabilidade do campo à mesa, fertilizantes e químicos sintéticos comumente usados na agricultura têm ganhado versões mais ecológicas e benéficas para os ecossistemas. Atenta às novas oportunidades a serem exploradas com ajuda da biotecnologia, uma startup norte-americana resolveu investir em uma solução curiosa: biofertilizantes produzidos a partir de microalgas.

True Algae surgiu nos Estados Unidos a partir da expertise do coreano Yong Woo Park, fundador e diretor de tecnologia da empresa. Woo Park já utilizava sua tecnologia de biorreatores com microalgas na área de saneamento básico na Coreia do Sul e via o potencial de levar essa inovação para agricultura, de modo que grandes culturas pudessem se produzidas em maior escala e sem o uso de químicos nocivos ao ambiente.

“Ele já tinha alguns contatos nos Estados Unidos e resolveu levar essa tecnologia para lá, onde utilizou sua patente no método de cultivo de microalgas para produzir os biofertilizantes a partir dos biorreatores. Essa patente é o que determina o seu conhecimento no que diz respeito à quantidade de nutriente para fazer a alga crescer melhor, além do ph ideal, na quantidade necessária de CO2 que a alga deverá utilizar, entre outras variáveis”, explica Maria Paula Oliveira, líder de desenvolvimento de negócios da True Algae Brasil.

A empresa cultiva a alga do tipo Chlorella, que já tem seus benefícios para fins de agricultura comprovados em diversos estudos, segundo aponta a líder de desenvolvimento da startup. Ela explica que as algas produzem 50% do oxigênio que respiramos e que a empresa auxilia no processo de fotossíntese da espécie. “Nossos fotobiorreatores ajudam as microalgas neste processo a partir do dióxido de carbono que colocamos para elas. Infelizmente, ainda não é possível pegar o CO2 direto do ar, precisamos comprar, assim como as pessoas compram qualquer outro gás”, diz.

Futuramente, a startup espera vir para o Brasil e utilizar o CO2 residual de alguma fábrica para fechar o ciclo e utilizá-lo de alimento para as microalgas.

Para a obtenção dos biofertilizantes, a startup precisou garantir uma amostra da “alga mãe” em uma universidade dos Estados Unidos e, a partir do contínuo trabalho de fotossíntese e de crescimento, ela multiplica, dando origem a novas algas, em um ciclo contínuo. “Elas ficam em uma estufa que dispõe de iluminação natural e precisam somente de água e de eletricidade (para os biorreatores) para se reproduzir. Nessa reprodução, elas produzem um líquido nutritivo e uma biomassa que duplica de tamanho a cada 24h; é uma produção altamente eficiente”, comenta.

Produção: o processo de obtenção dos biofertilizantes a partir das microalgas é feito em blocos modulares que podem ser ajustados conforme a demanda dos clientes. — Foto: Divulgação

Produção: o processo de obtenção dos biofertilizantes a partir das microalgas é feito em blocos modulares que podem ser ajustados conforme a demanda dos clientes. — Foto: Divulgação

O biofertilizante se resume no líquido nutritivo que é produzido a partir da reprodução. Segundo a especialista, este líquido estimula toda a atividade microbiana do solo, servindo como um pré-biótico para toda a vida que está dentro da terra. É neste líquido que as microalgas secretam todos os metabólicos e fitormônios para o processo de desenvolvimento.

Devido a este sistema de produção rápido e de baixo custo, a startup espera alcançar diferentes mercados, incluindo agricultura, alimentação animal, nutrição humana e limpeza ambiental. Hoje, a atuação se resume à agricultura e outros setores já passam por pesquisas.

Há outros ganhos envolvidos. Segundo Maria Paula, muito se fala de um solo saudável ser diverso em matéria orgânica, mas pouco se fala da importância de medir bactérias, fungos positivos e benéficos, por exemplo. “Com a adição de um biofertilizante feito a partir das microalgas, o solo também terá maior quantidade de matéria orgânica, componente que auxilia na regeneração e na produtividade daquela cultura”, diz. A empresa vende 1 gallon (cerca de 3,8 litros) por 20 dólares.

A sede da empresa fica nos EUA, onde a capacidade de produção da fábrica é de 36 toneladas. É no país que a True Algae apresenta seus maiores clientes (sendo 15 no total): produtores de frutas, como morango, que ficam nos estados da Flórida e da Califórnia e que antes faziam uso de químicos em suas produções. Nos Estados Unidos, a empresa trabalha com grandes empresas do ramo Wish Farms e Sweet Life Farms são algumas delas. A biotech também conta com acordos de licenciamento no México.

Além do uso em culturas de “berries”, como são chamadas as frutas vermelhas em inglês, a empresa conta com mais de 30 testes em outras produções: cannabis, castanhas, aspargos e, para chegarem ao Brasil futuramente, os estudos se concentram em culturas maiores como as de milho e soja. Eles já obtiveram um resultado positivo na aplicação do biofertilizante em plantações de soja do país.