Como você pode começar hoje a combater a mudança climática
Efeitos da crise climática já são sentidos no Brasil, e todos podem contribuir para diminuir esse impacto. Escolhas diárias individuas têm um peso real sobre o planeta.
As mudanças climáticas são um dos maiores desafios do século 21. Seus efeitos como ondas de calor mais intensas, secas prolongadas, chuvas extremas, perda de biodiversidade e elevação do nível do mar já são sentidos em diferentes partes do mundo.
No Brasil, não é diferente: enchentes no Sul e queimadas no cerrado e na Amazônia são exemplos de um cenário que tende a se agravar se não houver uma transformação em nossa relação com o meio ambiente.
E ao contrário do que muitos pensam, o enfrentamento à crise climática não depende apenas de políticas públicas ou de grandes corporações. Embora governos e empresas tenham responsabilidade central na redução das emissões de gases de efeito estufa, cada pessoa também pode contribuir para diminuir sua pegada de carbono. As escolhas diárias do que compramos, comemos, como nos deslocamos e o quanto desperdiçamos têm um peso real sobre o planeta.
“Ter dias mais sustentáveis, buscar dias com menos emissões de carbono, pode ser realmente uma atitude que muitas vezes acaba parecendo pequena perante aos grandes conglomerados, mas toda atitude individual faz com que aumente a consciência da própria pessoa, daqueles ao seu entorno, como familiares e amigos, tendo um efeito bastante importante”, diz Marcus Nakagawa, diretor presidente da Associação Brasileira dos Profissionais pelo Desenvolvimento Sustentável (Abraps) e autor do livro 101 dias com ações mais sustentáveis para mudar o mundo.
A seguir veja ações práticas e possíveis de serem implementadas no dia a dia que ajudam a frear o aquecimento global e a construir uma cultura mais sustentável.
1. Repense a forma de se locomover
O transporte é uma das maiores fontes de emissões de CO₂ (dióxido de carbono), isso inclui o uso de carros e também o transporte aéreo.
Pesquisa da Confederação Nacional do Transporte (CNT), mostra que, enquanto um ônibus urbano com capacidade para 70 passageiros emite aproximadamente 0,24 quilograma de CO₂ por tonelada por quilômetro útil (CO₂/TKU), um carro a gasolina, com ocupação média de duas pessoas, emite 1,49 kg CO₂/TKU, correspondendo a uma emissão cerca de 520,8% maior em relação ao ônibus.
Na comparação feita pelo estudo mostra ainda que se um ônibus com 70 passageiros percorrer 100 quilômetros, sua emissão é de 126 quilogramas de CO₂. Para transportar a mesma quantidade de pessoas em carros, seguindo a média de duas por veículo, seriam necessários 35 automóveis, com a emissão chegando a 782,25 quilogramas de CO₂, ou seja, 6,21 vezes maior.

Já o setor aéreo é responsável por cerca de 3% das emissões globais de carbono, provenientes principalmente da queima de querosene em voos.
Assim, os especialistas orientam sempre que possível, prefira caminhar, pedalar ou usar o transporte coletivo em vez do carro particular. Se o deslocamento de automóvel for inevitável, compartilhar caronas é uma opção que reduz o número de veículos nas ruas, contribuindo com o meio ambiente.
“Um dos maiores vilões são as viagens de avião, que muitas vezes podem ser minimizadas por meio de reuniões online ou por meio de viagens de ônibus, quando é no próprio território. Já com relação aos carros, na medida do possível, tente abastecer o veículo com o etanol, evitando combustíveis fósseis. E buscar, quando possível, um transporte coletivo”, acrescenta Nakagawa.
2. Reduza seu consumo
O consumo excessivo é outra das principais causas da degradação ambiental. Produzir, transportar e descartar produtos exige o uso de recursos naturais, energia e água, sendo a indústria do vestuário responsável por 10% das emissões globais de carbono. Por isso, antes de comprar uma roupa nova, vale se perguntar: eu realmente preciso disso?
Optar por itens duráveis, reutilizáveis e produzidos de forma mais ecológica também ajuda a reduzir a demanda por matérias-primas e as emissões associadas à produção. Uma boa prática é priorizar marcas que adotem compromissos ambientais e transparentes.
Comprar de pequenos produtores locais, além de fortalecer a economia regional, reduz as emissões associadas ao transporte de longa distância.
“O primeiro passo é evitar ser mero consumidor de tendências. Consumir de forma consciente e quando possível valorizar iniciativas que sejam locais ajudam a otimizar o uso dos recursos naturais como um todo”, diz Talita Martins, conselheira consultiva do Instituto Brasileiro de ESG (IBESG) e professora do MBA em Sustentabilidade, ESG e Inovação da Trevisan Escola de Negócios.
3. Cuidado com o desperdício de alimentos
Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que cerca de 46 milhões de toneladas de comida são desperdiçadas todos os anos no país, o que representa 30% de toda a produção brasileira.
Isso significa que muito mais do que os alimentos, todos os recursos usados no cultivo, transporte e armazenamento também são jogados fora. Além disso, o lixo orgânico gera metano, um gás de efeito estufa.
Planejar as compras, aproveitar integralmente os alimentos e armazenar corretamente frutas, verduras e legumes para que eles durem mais são passos simples que fazem a diferença. Compostar em casa os restos orgânicos também é uma alternativa eficiente já que a ação transforma resíduos em adubo natural e reduz o volume de lixo enviado a aterros sanitários.
Mas não é só isso, optar por alimentos naturais ao invés de ultraprocessados também ajuda a proteger o planeta. “Os alimentos ultraprocessados têm cadeias produtivas longas e intensivas em energia, embalagens e transporte. Reduzir seu consumo implica diminuir a demanda por sistemas industriais de alto impacto e, ao mesmo tempo, incentivar práticas alimentares mais locais e naturais”, explica Nathalia Weber, diretora da CCS Brasil, organização sem fins econômicos que promove a cooperação entre governo, indústria e sociedade para o desenvolvimento das atividades de Captura e Armazenamento de Carbono no Brasil.
4. Diminua o consumo de carne
O Brasil fechou o ano de 2024 com 238,2 milhões de bovinos, número 12% superior à população estimada do país no mesmo ano, de 212,5 milhões. O levantamento é da Pesquisa da Pecuária Municipal (PPM) do IBGE.

Esses animais, ao longo da vida, liberam gases como metano e óxido nitroso causadores do efeito estufa. Assim, reduzir o consumo de carne, mesmo que um dia na semana ou substituir esse alimento em algumas refeições, já pode gerar um impacto positivo ao meio ambiente.
“A produção de carne bovina está entre as atividades que mais geram emissões de gases de efeito estufa, principalmente devido ao metano liberado pelo gado e às mudanças no uso do solo associadas à pecuária extensiva. Diminuir o consumo não significa eliminar, mas valorizar a moderação. Escolher melhor a origem dos alimentos e reduzir excessos já traz ganhos ambientais relevantes”, acrescenta Weber.
5. Economize energia elétrica e água
A energia elétrica usada no Brasil é majoritariamente vinda de fontes renováveis, como hidrelétricas. O consumo excessivo de eletricidade tem um impacto ambiental, principalmente em períodos de seca, quando é necessário recorrer a termelétricas movidas a combustíveis fósseis.
Trocar lâmpadas incandescentes por LED, desligar aparelhos da tomada quando não estão em uso e ajustar o termostato da geladeira e do ar-condicionado são medidas simples que fazem a diferença. Além disso, instalar painéis solares, sempre que possível, é outra forma de reduzir a dependência da rede elétrica tradicional e contribuir para a transição energética.
Como sabemos, a água é um recurso finito, e seu uso inadequado agrava tanto crises hídricas quanto a emissão de gases de efeito estufa, já que o tratamento e o bombeamento dela exigem energia.
Fechar a torneira enquanto escova os dentes, consertar vazamentos, reduzir o tempo no banho e captar água da chuva para usos domésticos, como lavar o quintal, são atitudes simples que ajudam a preservar esse bem.
6. Diminua o uso de plásticos descartáveis
Os plásticos são grandes vilões ambientais. Eles demandam petróleo para serem produzidos e podem levar séculos para se decompor. Sacolas reutilizáveis, garrafas e copos duráveis e recipientes de vidro ou metal substituem o plástico descartável.
Separar o lixo corretamente e enviá-los para a reciclagem também são atitudes simples que ajudam.
“Mudanças simples dos hábitos são tentar, na grande maioria das vezes, fazer a reciclagem, jogar os resíduos nos locais certos e também buscar garantir que o seu prédio ou condomínio estejam fazendo as atividades corretas de descarte de resíduos”, acrescenta Nakagawa.
7. Busque entender mais sobre o assunto
Ainda segundo os especialistas ouvidos pela reportagem da DW, para que as pessoas tenham essas iniciativas individuais que fazem a diferença para o planeta, é preciso que elas entendam os efeitos das mudanças climáticas no dia a dia de toda a população. É a partir dessa consciência, que os comportamentos se tornam mais responsáveis.
“Mais do que a consciência, é preciso ter a atitude de engajar outras pessoas, de educar, de saber e conhecer mais sobre o tema, de votar corretamente em políticos, legisladores, executivos que cuidem do nosso planeta, que entendam isso como prioridade, entendam isso como uma emergência climática”, acrescenta Nakagawa.
