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Como componentes de cosméticos danificam o meio ambiente?

Como componentes de cosméticos danificam o meio ambiente?

Qualidade da água e do solo pode ficar comprometida após contato com resquícios de reagentes e demais substâncias químicas descartadas no esgoto

Ao lavar o cabelo com um xampu líquido tradicional, são levados para as redes de tratamento, junto da espuma que escoa pelo ralo, dezenas de agentes nocivos que colocam em risco a saúde humana e da natureza. De maneira semelhante acontece com a maior parte dos itens de consumo da indústria de cosméticos, higiene pessoal e perfumaria.

No sentido de conscientizar e reduzir os impactos causados pelo uso excessivo de químicos, surgiu o conceito “clean beauty”, ou beleza limpa. Dentro deste movimento, existe o incentivo à criação e ao uso de produtos com fórmulas livres, ou seja, feitos à base de componentes orgânicos ou sintéticos que tenham passado por um processo de garantia da segurança ambiental.

As empresas envolvidas com a beleza limpa cumprem o pacto da transparência para preservar a idoneidade da luta. Através da clareza nas divulgações, as marcas constroem um relacionamento com o público e, ao mesmo tempo, os educa. As certificações e os selos de embalagens recicladas e/ou ecológicas são alguns sinais desse compromisso ecológico.

Ingredientes perigosos

As estruturas das composições químicas encontradas nas mercadorias de beleza convencionais não oferecem risco iminente à saúde, de modo geral. Entretanto, as substâncias utilizadas para remoção de impurezas e criação de espuma, por exemplo, podem conter potenciais cancerígenos e alta concentração de componentes que prejudicam a natureza. Saiba como identificar:

  • Parabenos

Esse conservante geralmente é utilizado em produtos de beleza, higiene e remédios. Além de estar associado com distúrbios endocrinológicos e hormonais em humanos, representa um enorme risco para a sobrevivência da fauna e de microrganismos que habitam as áreas por onde os rejeitos sanitários transitam.

  • Petrolatos

Derivado do petróleo, esse solvente orgânico também é conhecido como vaselina, parafina líquida ou óleo mineral. É usado na fabricação de alguns esmaltes e, por ser altamente tóxico, tem o potencial de afetar diversos ecossistemas.

  • Ftalatos

Esse ingrediente desempenha a função plastificante em maquiagens, aerossóis, fragrâncias e esmaltes. O seu impacto ambiental motiva preocupação em nível internacional. A União Europeia, inclusive, só aceita o uso de traços (baixíssima concentração) para evitar a contaminação do solo.

  • Microplásticos

Maquiagem com glitter, lenços umedecidos e esfoliantes com microesferas possuem compostos de plástico não biodegradável que viajam pela rede de esgoto e alcançam rios e oceanos, envenenando a cadeia alimentar aquática.

A grande questão sobre o uso desses produtos está nas estações de tratamento, conforme indicam as informações divulgadas pelo pesquisador em química Eduardo Bessa Azevedo, da Universidade de São Paulo, para o portal Instituto Claro. Em resumo, após os agentes químicos serem despejados no esgoto, não é possível retirar todas as substâncias tóxicas, o que afeta os organismos aquáticos e a rede de abastecimento.

Mudanças no cenário 

A agenda da sustentabilidade tem fortalecido o segmento do clean beauty. Afinal, a lista de novos adeptos cresce diariamente entre clientes, pequenas e médias empresas e, até mesmo, grandes marcas da indústria convencional. Essa mudança no panorama mercadológico segue uma tendência mundial de maior conscientização sobre a responsabilidade social na preservação dos recursos naturais.

Comprovando a intensificação do movimento, já em 2018 o relatório Pink Report, da The Benchmarking Company, sinalizou que nos Estados Unidos os consumidores da Geração Z (73%) priorizavam a compra de produtos orgânicos e naturais. Em 2021, por sua vez, a pesquisa da Nielsen mostrou o crescimento de 8,1% no consumo de produtos do ramo clean beauty, taxa responsável por movimentar 406 milhões de dólares no país.

No Brasil, o novo padrão de comportamento é evidente. Apesar de continuar no pódio entre os países que mais consomem cosméticos e perfumaria, diferentes pesquisas apontam aumento na preferência pelo mercado sustentável. A conjuntura pressiona a indústria a se adaptar com composições ecológicas e estratégias capazes de atender a demanda do consumo consciente.

As marcas de beleza limpa brasileiras, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (ABIHPEC), traçam o seu futuro a partir de quatro pilares: omnichannel, internacionalização, democratização e biotecnologia. Ao imprimir valores dermocosméticos da procedência da matéria-prima até o descarte e reúso de embalagem, especialmente com a logística reversa, se tornam referência de uma economia sustentável.

Essa nova escala industrial prioriza materiais livres de agrotóxicos e o reaproveitamento de produtos e subprodutos 100% recicláveis. Para tanto, faz parcerias com a indústria alimentícia. Como substitutos aos bioplásticos na fabricação dos cosméticos, entram as sementes de abóbora, borra de café, abacates, mandioca e demais recursos de fontes renováveis.

As multinacionais também marcam o seu espaço neste segmento. A inclusão de linhas com fórmulas livres e veganas demonstra o comprometimento com a diminuição dos impactos ambientais. O exemplo mais recente é a WeDo, da Wella, que chegou ao Brasil recentemente.

Imagem – Divulgação