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Como as flores sabem que é primavera? A ciência explica

Como as flores sabem que é primavera? A ciência explica

O segredo não está no calor, mas na medida precisa da luz do dia, que sincroniza as flores com a volta dos polinizadores; entenda

A primavera se anuncia não apenas pelo calor e pelos dias mais longos, mas por uma verdadeira explosão de cores e aromas nos jardins e parques. É como se um sinal invisível fosse dado, e as plantas, quase que em uníssono, decidissem florir. Mas como elas sabem que é a hora certa? A resposta está em um sofisticado relógio biológico que nada tem a ver com a temperatura.

Para a maioria das plantas, a primavera é a época ideal para “fazer a festa”. Após um inverno frio, escuro e desafiador, recursos como água, luz solar e calor tornam-se abundantes. É o momento de retomar o crescimento e investir toda a energia acumulada na missão da reprodução.

No entanto, o verdadeiro gatilho para a floração não é o aumento do termômetro, que pode ser imprevisível, e sim a duração do dia. É o que explica o botânico Gregory Moore, da Universidade de Melbourne, em artigo para o site The Conversation. As plantas possuem um pigmento verde chamado fitocromo, que age como um sensor de luz preciso. Esse pigmento existe em duas formas que se alternam dependendo da exposição à luz, permitindo que a planta nivele o fotoperíodo, o comprimento do dia e da noite, com incrível exatidão. É como se cada planta carregasse um calendário interno infalível.

Uma parceria evolutiva de sucesso

A explosão de flores na primavera não é uma coincidência em relação ao comportamento da fauna. As plantas com flores (angiospermas) evoluíram há cerca de 100 a 120 milhões de anos, em um mundo já habitado por insetos e onde as aves começavam a se diversificar. Elas perceberam uma oportunidade de ouro.

Ao desenvolver cores vibrantes, formas intrigantes e aromas irresistíveis, as flores se tornaram anúncios eficientes para atrair polinizadores. Insetos e aves, por sua vez, encontram nelas uma fonte de alimento. Essa parceria é muito mais eficiente do que a estratégia de plantas mais antigas, como as coníferas, que dependem do vento para espalhar seu pólen, um método aleatório e que gera muito desperdício.

Os insetos são uma ajuda evolutiva importante para as flores na reprodução — Foto: RE Walsh/ Unsplash
Os insetos são uma ajuda evolutiva importante para as flores na reprodução — Foto: RE Walsh/ Unsplash

Portanto, florir na primavera é uma jogada de mestre da evolução: coincide perfeitamente com o retorno das aves migratórias e com o pico de atividade dos insetos após a letargia do inverno. A sincronia garante que o pólen seja transportado de forma direcionada e que as sementes sejam dispersas por agentes que podem levá-las a distâncias maiores.

Um plano B para garantir o sucesso

Algumas espécies contam com um mecanismo extra de segurança. Elas produzem um hormônio inibidor (ácido abscísico) antes do inverno, que as mantém em dormência. Esse hormônio é sensível ao frio, então, com o aquecimento gradual da primavera, seus níveis caem. A combinação da redução do inibidor com o sinal do fotoperíodo é um gatilho quase infalível para o desabrochar.

Se a primavera é tão vantajosa, por que algumas plantas, como o ipê-roxo ou o crisântemo, florescem no outono ou no inverno? A natureza sempre encontra exceções à regra.

Para essas “contrárias”, a estratégia é uma questão de sobrevivência e nicho ecológico. Elas podem estar evitando a competição acirrada por polinizadores na primavera ou podem ter se especializado em atrair um polinizador específico que está mais ativo em outra estação.

Em alguns ecossistemas, florir fora de época é a única maneira de garantir sucesso reprodutivo. Assim, a cada primavera, testemunhamos o resultado de milhões de anos de evolução: um espetáculo de cores e vida que é, acima de tudo, uma demonstração de precisão biológica e timing perfeito.