Cogumelos mágicos: o papel dos fungos na restauração de florestas tropicais temperadas

Quando plantados em solos saudáveis, os fungos podem estimular o crescimento de árvores e outras plantas em 64%
As florestas tropicais temperadas são um ecossistema raro que cobre menos de 1% da superfície terrestre, restrito a condições frias e húmidas que são facilmente afetadas pelas mudanças climáticas. Devido ao seu papel essencial na biodiversidade, especialistas trabalham na restauração desses ambientes ao redor do globo.
Pesquisadores do Reino Unido agora focam na restauração das florestas de seus territórios nacionais. Para isso, os especialistas estão avaliando soluções entre os ecossistemas remanescentes, localizados nas Ilhas Hébridas na Escócia, que resistem às ações antrópicas há milhares de anos.
Cientistas conseguem datar o surgimento dessas florestas na costa oeste da Grã-Bretanha e da Irlanda, diz David Satori, pesquisador do Royal Botanic Gardens, ao The Guardian, porque “há cerca de 10.000 anos, houve um pico enorme de pólen de aveleira”. Liquenologistas escoceses estimam que essas florestas em particular possam ter existido desde 7.500 a.C.
“É mais antigo do que qualquer floresta de pinheiros [no Reino Unido]. Mais antigo do que qualquer bosque de carvalhos antigo que temos no sul”, diz Satori. “Uma das florestas mais antigas das Ilhas Britânicas.”
Atualmente, esse ecossistema é localizado em uma reserva natural de apenas 49 hectares, cobertos por aveleiras.
A floresta em questão também é a casa de fungos peculiares, que, segundo os especialistas, podem ser a chave para a conservação do ecossistema como todo.
O projeto de restauração foi incentivado pelo governo britânico em 2023, após o sucesso do best-seller de Guy Shrubsole, “The Lost Rainforests of Britain” — “As florestas tropicais perdidas da Grã-Bretanha”.
Além disso, uma nova pesquisa liderada pela Universidade de Leeds mostra que o Reino Unido pode desempenhar um papel globalmente significativo na reversão do declínio dessas florestas tropicais.
Pesquisas prévias já comprovaram a eficácia dos fungos na restauração de ecossistemas. Segundo um estudo de 2022, por exemplo, a plantação de fungos micorrízicos em microbioma de solo nativo com fungos saudáveis pode estimular o crescimento de árvores e outras plantas em 64%.
No entanto, o problema disso é que ninguém sabe como esses fungos funcionam — sendo parte do grupo dark funghi, nomenclatura dada a espécies de fungos não identificadas, mas que podem ser encontradas ao redor de todo o mundo.
Diferentemente de outros tipos de fungo, que podem ser observados na natureza ou cultivados em laboratório, os dark funghi são quase invisíveis. O único vestígio de sua existência no meio ambiente são seus traços de DNA, que estão espalhados em quase toda a superfície terrestre.
Portanto, pelos próximos dois anos, Satori e outros pesquisadores documentarão fungos do solo na floresta Ballachuan e mais de 20 outros locais para estabelecer o primeiro mapa de comunidades micorrízicas nas zonas de florestas tropicais temperadas da Grã-Bretanha.
O trabalho de Satori é apoiado pela Sociedade para a Proteção de Redes Subterrâneas (Spun), uma organização de pesquisa fundada em 2021 para analisar comunidades de fungos micorrízicos e defender sua proteção.
Além do estudo, vários esforços para restaurar as florestas tropicais estão em andamento nas Ilhas Britânicas.
Grande parte da floresta tropical temperada do Reino Unido está fragmentada nesses pequenos pedaços em terras pertencentes a diferentes agricultores e propriedades.
Satori afirma que a restauração exigirá a reconexão desses fragmentos em toda a paisagem, de modo a criar pontes que permitam não apenas que fungos, mas também animais e insetos, se desloquem pela terra. “Ter essas paisagens interconectadas será definitivamente a melhor maneira de avançar”, afirma. “É uma visão de longo prazo.”