Cientistas temem que o aumento do turismo espacial prejudiquem a atmosfera e contribuam para as mudanças climáticas
Em 2021, o mundo vem acompanhando o burburinho em torno da “corrida espacial bilionária”. Três dos homens mais ricos do mundo – Jeff Bezos da Amazon, Elon Musk da SpaceX e Richard Branson do Virgin Group – estão efetivamente competindo entre si para fazer curtas viagens recreativas ao espaço sideral. E embora eles possam estar investindo um bom dinheiro em algo produtivo, isso também pode já estar causando danos irreparáveis ao planeta.
Qual é o impacto das viagens espaciais?
Se você pensava que viagens de carro ou avião eram meios de transporte de alto impacto, imagine o que é necessário para lançar um foguete ao espaço.
Um único voo de turismo espacial com duração de cerca de uma hora e meia que a Virgin Galactic planeja oferecer a seus cidadãos endinheirados pode gerar tanta poluição quanto um voo transatlântico de 10 horas.
O Falcon 9, da SpaceX, funciona com querosene, enquanto o foguete da NASA usa hidrogênio líquido – e ambos emitem uma grande quantidade de CO2 e cloro para a atmosfera. Cada lançamento de foguete, que transporta cerca de quatro passageiros, emite aproximadamente 200 a 300 toneladas de dióxido de carbono por viagem.
Quando lançados, os foguetes emitem enormes quantidades de energia, o que faz com que os gases do efeito estufa obstruam a atmosfera e prendam o calor. Então, ao entrar no espaço, as emissões vão direto para a alta atmosfera, onde permanecem por dois a três anos.
As emissões de carbono dos foguetes aumentaram 5,6% ao ano e, com mais pessoas procurando viajar para o espaço, espera-se que elas subam rapidamente. Na verdade, prevê-se que o mercado de turismo espacial cresça 17,15% ao ano na próxima década.
Muito pouco se sabe, mas…
Os foguetes poluem as camadas superiores da atmosfera – a estratosfera e a mesosfera, que começam a uma altitude de cerca de 10 e 50 quilômetros respectivamente. Esses poluentes estão sendo emitidos em lugares onde normalmente nada se emite. Qual seriam, então, os potenciais danos envolvidos?
Esse é o ponto: muito pouco se sabe. Até agora, o impacto dos lançamentos de foguetes na atmosfera tem sido insignificante, mas é simplesmente porque não houve tantos lançamentos – ainda.
Embora a quantidade de combustível queimado atualmente pela indústria espacial seja menos de 1% do combustível queimado pela aviação, o fato é que as coisas estão mudando de uma forma que deveríamos observar com mais atenção. Isto porque a previsão é a de que o número de voos de turismo espacial dispare na próxima década para 360 por ano em 2030 – e essa estimativa ainda está bem abaixo da taxa de crescimento projetada pelas empresas de turismo espacial, como a Virgin Galactic – sim, a demanda é extremamente alta.
Perigo à vista?
A estratosfera já está mudando à medida que o número de lançamentos de foguetes aumenta sorrateiramente. A longo prazo, por exemplo, a injeção de poluentes pode alterar a corrente de jato polar e mudar os padrões das tempestades de inverno. No entanto, a comunidade científica ainda não tem ideia e nem dados suficientes para dizer em que ponto os lançamentos de foguetes começarão a ter um efeito mensurável no clima do planeta – mas eles terão.
Assim como a crise climática começou de forma relativamente lenta à medida que a quantidade de carbono liberada na atmosfera aumentava, a poluição na estratosfera só pode começar a causar danos alguns anos depois. Ou seja, já é fundamental que o trabalho científico comece agora a avaliar os riscos futuros. No entanto, ao tudo indica, estamos seguindo o mesmo percurso perigoso, mas desta vez, em níveis estratosféricos – literalmente e sem redundância.