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Cientistas investigam o porquê de algumas pessoas serem imunes à covid-19

Cientistas investigam o porquê de algumas pessoas serem imunes à covid-19

Em 2023, já estamos há mais de três anos de distância da primeira infecção conhecido pelo covid-19, com centenas de milhões de casos varrendo o mundo desde então. Todos conhecemos alguém que já passou pela doença uma ou mais vezes, isso quando nós mesmos não fomos os infectados — mas, mais raramente, há quem nunca enfrentou o patógeno. São essas pessoas que a ciência busca, agora, investigar.

Um dos problemas na mesa é que não sabemos o que confere essa imunidade tão excepcional a alguns humanos sortudos. Genes? Muitos cuidados com o isolamento? Sorte? Até agora, a maioria das pesquisas focou, compreensivelmente, no entendimento do próprio vírus e na fabricação de imunizantes eficientes, com o financiamento e colaboração sendo direcionados a isso. Com tantas áreas a pesquisar, pouco sobrava para estudar os naturalmente imunes.

Algumas pessoas têm imunidade ao coronavírus naturalmente, mas não sabemos o porquê (Imagem: Racim Amr/Unsplash)

Foco das pesquisas e a imunidade

Agora que a situação da pandemia está mais calma, alguns pesquisadores estão buscando pistas genéticas que possam explicar como certas pessoas nunca foram infectadas pelo SARS-CoV-2, como os responsáveis pelo COVID Human Genetic Effort (Esforço Genético Humano COVID, em tradução livre), iniciativa americana que recrutou indivíduos expostos ao vírus, mas que seguiram ilesos. Eles incluem profissionais de saúde e pessoas que moraram no mesmo ambiente que infectados.

A mira dos cientistas são mutações do DNA que possam explicar uma resistência maior ao patógeno, como diferenças nos receptores celulares ou enzimas corporais, parte do caminho que o vírus precisa seguir para conseguir entrar em nossas células. A mutação também poderia estar, por exemplo, na resposta imune a infecções definida por genes específicos. Ainda não sabemos.

Estudos como esse, que analisam o genoma humano em busca de mudanças que podem explicar resistência a doenças, já são realizados há muito tempo. Já temos informações acerca de diferenças genéticas que conferem maior imunidade ao HIV e o norovírus, por exemplo, um conhecimento que pode ser usado em esforços de prevenção das patogenias.

O segredo para descobrirmos quais mutações tornam algumas pessoas imunes ao SARS-CoV-2 pode estar nos genes (Imagem: ktsimage/Envato)

Controvérsias, problemas e o futuro

Mesmo assim, as coisas não são tão simples. Apesar de sabermos as mutações que protegem certos indivíduos do norovírus, não temos uma vacina ou tratamento contra o vírus, e esforços de modificação genética como os “bebês CRISPR”, que nasceram com genoma editado em 2018, são controversos do ponto de vista ético e até mesmo ilegais. Como utilizar esse conhecimento?

As mutações podem ocorrer, também, em uma série de genes, e não apenas em um, acumulando fatores que dão essa imunidade maior à covid-19. Modificar muitos genes em nosso corpo pode acabar gerando efeitos adversos indesejados, dificultando o uso desse conhecimento na prática, mesmo na fabricação de remédios. Talvez consigamos aprender como o vírus infecta pessoas e causa doenças, mas isso siga sendo interessante apenas cientificamente, e não seja útil clinicamente.

No momento, o SARS-CoV-2 segue infectando pessoas por todo o mundo, mutando e gerando variantes, então talvez a nossa preocupação deva continuar mais focada nas vacinas, que já salvaram milhões ou até bilhões de vidas até agora. Enfrentamos, atualmente, o problema da covid longa, que segue deixando pessoas com sequelas ainda não totalmente desvendadas, que podem até limitar as atividades diárias dos afetados.

Conhecer quais genes dão imunidade à covid-19 pode ser só uma curiosidade científica, não servindo para criar tratamentos melhores (Imagem: Sabrina Belle/Pixabay)

Talvez seja melhor estudar, por enquanto, as mutações que deixam algumas pessoas mais suscetíveis a tais sintomas, que tornam a covid-19 uma doença crônica. Esse foco dependerá de como o vírus se desenvolverá no futuro e como poderemos mitigá-lo — enquanto isso, esperamos pelos resultados das análises genômicas.