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Ciência confirma os benefícios da natureza para a saúde mental

Ciência confirma os benefícios da natureza para a saúde mental

Documento inédito estrutura dados globais e embasa projeto pioneiro de saúde pública em Goiás tendo a natureza como aliada terapêutica

Um mapa inédito de evidências globais acaba de estruturar o conhecimento científico sobre os benefícios da natureza para a saúde humana, reafirmando seu papel estratégico na promoção do bem-estar e da saúde planetária. A exposição a ambientes naturais, de acordo com o levantamento, aprimora a atenção e a clareza mental, combate estresse, ansiedade e depressão, melhora o sono, regula a pressão arterial e previne doenças crônicas não transmissíveis, como cardiovasculares e diabetes tipo 2.

Além dos ganhos individuais, a natureza fortalece a coesão social e o senso de pertencimento comunitário. Os resultados são notáveis em diferentes faixas etárias: crianças expostas a ambientes verdes demonstram melhor desenvolvimento cognitivo e motor, enquanto idosos colhem benefícios relevantes para a saúde mental e para a qualidade de vida.

Os dados foram compilados no primeiro “Mapa das Evidências da Efetividade Clínica das Intervenções Baseadas na Natureza (IBN)”, um documento robusto que reúne 312 revisões sistemáticas publicadas em bases internacionais desde 2010. O objetivo central do relatório é responder aos desafios crescentes da urbanização, da poluição e da perda de biodiversidade, destacando o papel estratégico das IBN na promoção da saúde mental e da saúde planetária.

Esta iniciativa pioneira é fruto de uma colaboração entre o Consórcio Acadêmico Brasileiro de Saúde Integrativa (CABSIN) e o Centro Latino-Americano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde (BIREME-OPAS/OMS). O Mapa das Evidências terá acesso aberto e gratuito, sendo disponibilizado no site da BIREME a partir de novembro de 2025.

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O potencial benéfico da natureza para a saúde mental vem sendo evidenciado em pesquisas recentes. | Foto: Josephine Baran | Unsplash

O que são as Intervenções Baseadas na Natureza (IBNs)?

As IBNs compreendem um conjunto diversificado e crescente de práticas que integram o contato com o ambiente natural ao cuidado com a saúde. Elas são classificadas em três grandes grupos:

  1. Imersão na natureza: Envolve práticas profundas em ambientes naturais, incluindo o conceito japonês de banhos de floresta (shinrin-yoku), banhos de mar, terapias em ambientes naturais e programas estruturados em áreas selvagens.
  2. Intervenções no espaço urbano: Abrange a integração da natureza em contextos urbanos e institucionais. Exemplos incluem a criação de jardins terapêuticos em hospitais, o incentivo ao uso de parques urbanos, a organização de hortas comunitárias, a implementação de corredores verdes, o desenvolvimento de florestas-escola e, até mesmo, a simples inserção de plantas de interior em ambientes de trabalho.
  3. Ações na natureza: Focam em atividades físicas e lúdicas realizadas ao ar livre, como grupos de exercícios em parques e praças e atividades de brincadeiras na natureza para crianças.

O Mapa de Evidências demonstra que a pesquisa científica sobre essas ações tem crescido exponencialmente em escala global, atingindo um pico de mais de 50 revisões publicadas somente em 2022. O levantamento também ressalta a diversidade de países envolvidos na produção desse conhecimento. A China lidera o ranking com 155 estudos, seguida de perto pelo Reino Unido (132), Estados Unidos (120), Austrália (116) e Canadá (110).

Transformando Evidência em Política Pública

Sendo uma iniciativa fundamental do CABSIN, o Mapa de Evidências não é apenas um relatório; ele serve como base científica robusta para o inovador Projeto Saúde e Natureza, conduzido pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Goiás (SEMAD).

O projeto goiano visa aplicar as IBNs de forma estruturada, atendendo, em sua fase inicial, 375 participantes – distribuídos em 25 participantes de 15 municípios – que apresentem sintomas leves a moderados de ansiedade, depressão e insônia.

A implementação do projeto ocorrerá em três fases sequenciais:

  1. Mapa de Evidências: Lançamento ontem, no dia 16 de outubro de 2025, durante o 3º Congresso Mundial de Medicina Tradicional, Complementar e Integrativa (MTCI), e disponibilização pública no site da BIREME-OPAS/OMS em novembro de 2025.
  2. Banho de Natureza em cinco parques estaduais de Goiás: Esta etapa crucial envolverá a capacitação de 40 facilitadores especializados em práticas de banho de natureza. Posteriormente, será implementado um ensaio clínico rigoroso nos parques estaduais de Goiás. O protocolo de intervenção estruturada terá duração de oito semanas, com sessões semanais de 90 a 120 minutos, incluindo coleta de dados clínicos e psicométricos e a posterior sistematização dos resultados em relatórios técnicos e publicações científicas.
  3. Expansão para dez áreas verdes municipais: Fase de replicação e validação do protocolo em diferentes territórios municipais, com previsão de conclusão até o segundo semestre de 2026.

Andréa Vulcanis, Secretária Estadual de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Goiás, sublinha a relevância da pesquisa para a agenda governamental: “Os resultados desse Mapa de Evidências reafirmam a necessidade de se investir em políticas e práticas que reconectem a saúde humana ao ambiente natural. Ao promover intervenções baseadas na natureza, criamos condições de maior bem estar, prevenção de doenças e fortalecimento comunitário, em sintonia com a agenda da saúde planetária”.

“Este mapa de evidências representa um marco para a Saúde Integrativa no Brasil”, destaca Dr. Ricardo Ghelman, coordenador geral do projeto e fundador do CABSIN. O médico, que também é consultor da Organização Mundial de Saúde no Brasil em Medicina Tradicional, Complementar e Integrativa (MTCI) e presidente principal do 3º Congresso Mundial de MTCI, argumenta: “Ao demonstrar cientificamente os benefícios das intervenções baseadas na natureza, fornecemos subsídios cruciais para a formulação de políticas públicas que integrem a natureza como recurso terapêutico no SUS”.