China inicia testes com reator nuclear que gera menos lixo radioativo
A China está prestes a inaugurar seu reator nuclear experimental alimentado por tório. A tecnologia, que circula sal fundido em vez de água, produz energia nuclear relativamente segura e barata, além de menos resíduos radioativos em comparação aos reatores tradicionais. Se tudo der certo, o país pretender ser o primeiro a comercializar esta tecnologia, que impulsionará as suas metas climáticas.
Conforme divulgado pelo governo local de Gansu, a construção do reator experimental de tório em Wuewi, nos subúrbios do Deserto de Gobu, foi finalizada no final de agosto e deve entrar em operação de teste ainda neste mês. Embora seja pouco radioativo, o tório pode ser encontrado na natureza ou como resíduo da indústria de mineração da própria China.
O engenheiro nuclear da Organização Australiana de Ciência e Tecnologia Nuclear, Lyndon Edwards, disse que o tório é muito mais rico que o urânio; então, daqui a 50 ou 100 anos, quando as reservas de urânio começarem a diminuir, o tório será a alternativa. “Mas esta tecnologia levará décadas, então precisamos começar agora”, acrescentou Edwards.
Segundo Ritsuo Yoshioka, ex-presidente do Fórum Internacional do Sal Fundido no Japão e que trabalhou em parceria com pesquisadores japoneses, a China lançou um programa de reator de sal fundido em 2011, investindo cerca de US$ 500 milhões. Por enquanto, o reator só tem capacidade de produzir 2 megawatts de energia, o suficiente para alimentar mil casas. Mas, se tudo der certo nestes primeiros testes, espera-se construir um reator de 373 megawatts até 2030.
Esta não é a primeira vez que um país testa o tório como combustível em outros tipos de reatores: Estados Unidos, Alemanha e Reino Unido já passaram por isso — a Índia planeja fazer o mesmo em breve. O problema é o tório ser mais caro para refinar do que o urânio. Pesquisadores do Instituto de Física Aplicada de Xangai disseram que o reator chinês reproduz um pouco do projeto norte-americano Oak Ridge, mas avança em inovações de fabricação, materiais e instrumentação da última década.
O reator utilizará sais de flúor para produzir um líquido incolor e transparente quando aquecido a 450 °C. O sal fluoretado, então, funciona como um líquido refrigerador, extraindo o calor do núcleo do reator. Este tipo de reator é considerado um dos maios seguros, pois opera a pressões menores do que os reatores nucleares comuns, reduzindo as chances de explosões.
Ainda levará alguns meses até que os novos reatores estejam totalmente operacionais, mas, até lá, eles funcionarão como um ensaio para o futuro. Os reatores de sal fundido são apenas uma das tecnologias nucleares nas quais a China tem investido. “No movimento em direção à neutralidade de carbono, a China pode eliminar progressivamente as caldeiras (usinas elétricas) e modernizá-las com reatores nucleares”, ressaltou David Fishman, gerente de projetos da Lantau Group Energy Consulting, em Hong Kong.