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Campanha se intensifica para ampliar a consciência sobre o cuidado com a saúde mental e a prevenção ao suicídio

Campanha se intensifica para ampliar a consciência sobre o cuidado com a saúde mental e a prevenção ao suicídio

Este mês, em todo o país, a campanha Setembro Amarelo – promovida desde 2014 anualmente, durante o ano todo, pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), com o apoio do Conselho Federal de Medicina (CFM) – é intensificada com o intuito de elevar a consciência sobre a importância de cuidar da saúde mental e de buscar/adotar formas para prevenir o suicídio.

Trata-se da maior campanha anti-estigma do mundo, que, em 10 de setembro, celebra o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio. Este ano, seu slogan é A vida é a melhor escolha.

Embora alguns países – são 38, apenas! – já tenham adotado a prevenção do suicídio como pauta imprescindível em seus programas de governo, muitos ainda se mantêm alheios e/ou encaram o tema como tabu.

“O suicídio é um fenômeno complexo, que pode atingir indivíduos de diferentes origens, sexos, culturas, classes sociais e idades”, destaca a campanha.

Menos suicídio no mundo, mais nas Américas
A partir de pesquisas realizadas nos países signatários, a Organização Mundial de Saúde – OMSidentificou uma realidade estarrecedora: todos os anos, morrem mais pessoas como resultado de suicídio do que devido a doenças como HIV, malária ou câncer de mama – ou, mesmo, em consequência de guerras e homicídios.

Além disso, entre os jovens de 15 a 29 anos, o suicídio foi a quarta causa de morte, perdendo apenas para acidentes no trânsito, tuberculose e violência interpessoal, nessa ordem.

A quantidade de pessoas que tiram suas próprias vidas, varia muito conforme país, região e gênero (foram considerados apenas homens e mulheres), de acordo com levantamento entre 2000 e 2019.

No Brasil, os homens são mais vulneráveis: a cada 100 mil, 12,6% cometem suicídio; a cada 100 mulheres, são 5,4%. Em países de alta renda, as taxas entre os homens são ainda mais altas: a cada 100 mil, 16,6%. Já entre as mulheres, as taxas de suicídio aumentam em países de baixa e média renda: a cada 100 mil, 7,1%.

No mundo, a taxa de suicídio vem diminuindo cerca de 36%, no entanto, os números variam muito conforme a região:
– redução de 17% na região do Mediterrâneo Oriental;
– 47% na região europeia e
– 49%, no Pacífico Ocidental.
Mas, no continente americano (norte, central e sul), entre 2000 e 2019 – portanto antes da pandemia -, essas taxas aumentaram 17%.

De acordo com a última pesquisa realizada pela OMS, em 2019, foram registrados mais de 700 mil casos de suicídio em todo o mundo. E a organização faz um alerta: não se pode esquecer de que há episódios subnotificados, estimados em cerca de um milhão!

Só no Brasil, nesse mesmo ano, foram 14 mil casos de mortes por suicídio, ou seja, a cada dia, em média, 38 pessoas tiraram a própria vida.

Outra característica importante de ressaltar é que praticamente 100% dos casos de suicídio registrados estavam relacionados a doenças mentais, principalmente não diagnosticadas ou tratadas incorretamente. Isso significa que a maioria dessas mortes poderia ter sido evitada se os pacientes tivessem acesso a tratamento psiquiátrico e a informações de qualidade, se tivessem sido acolhidas.

Menos preconceito, mais diálogo e mais justiça social!
Com base nesse cenário e por seus impactos devastadores, o suicídio deve ser urgentemente encarado por todos – sociedade e governos – como um problema de saúde pública.

A partir de pesquisas realizadas nos países signatários, a Organização Mundial de Saúde (OMS) identificou uma realidade estarrecedora: todos os anos, morrem mais pessoas como resultado de suicídio do que devido a doenças como HIV, malária ou câncer de mama – ou, mesmo, em consequência de guerras e homicídios.

É preciso que nos livremos de preconceitos a cerca do tema para podermos dialogar abertamente, nos mantendo alertas, acolhendo e levando acesso e cuidado a todos que precisam.

Informar-se para aprender a ajudar o próximo é a saída mais efetiva para contribuir na luta contra esse problema tão grave. A escuta ativa, sem julgamentos, com empatia, o acolhimento e a prontidão para levar a pessoa a um psiquiatra – que é quem saberá lidar com a situação -, são formas de ajudar a salvar quem pensa em se matar.

Não é possível interferir na vida alheia, mas é possível ficar atento/a e identificar quando alguém precisa de ajuda, oferecendo condições para que essa pessoa encare sua aflição de forma a transformá-la e superá-la, evitando um desfecho trágico.

De qualquer forma, ainda existe uma questão que não é abordada no contexto da campanha Setembro Amarelo: a da injustiça social.

A pandemia intensificou os casos de prejuízo à saúde mental, devido ao isolamento, é verdade. Mas o país já vinha sendo muito mal conduzido economicamente e tinha voltado ao mapa da fome da ONU – do qual saiu em 2014.

A desgraça que vem se abatendo sobre os mais pobres – hoje são 33 milhões de famintos e milhares de pessoas que vivem nas ruas! -, se deve à política econômica liberal de Paulo Guedes e Bolsonaro. A classe dita média também perdeu seu poder aquisitivo, sem falar nos aposentados.

É preciso muito apoio e muita força para manter a saúde mental num cenário de tanta incerteza como o que estamos vivendo no país. Sem emprego, sem saúde, sem educação, sem dinheiro, sem condições mínimas de dignidade, a loucura e o desespero tomam conta.

A importância da posvenção
Com o acompanhamento devido, as pessoas que manifestam a intenção de se matar, podem desistir e nunca tentar o suicídio. Por outro lado, de acordo com informações da campanha, as que já tentaram têm de cinco a seis vezes mais chance de atentar contra a própria vida novamente.

Elas continuam potencialmente capazes de praticar o ato outras vezes. Por isso, a atenção e o cuidado nesse período – que os especialistas chamam de posvenção – são tão importantes quanto a prevenção.

De acordo com a campanha, a posvenção inclui habilidades e estratégias para cuidar de si mesmo ou ajudar outra pessoa a se curar após a experiência de pensamentos e tentativas suicidas.

Como se informar e ajudar
O site da campanha Setembro Amarelo dispõe de material completo para auxiliar quem tem interesse de participar da luta de prevenção ao suicídio e contribuir com esta causa: diretrizes para divulgar e participar da campanha e materiais como logo, panfleto, cartaz, camisetas…

Além de orientar para prevenir (por meio da Cartilha Suicídio), dá orientações para casos de emergência (chamar o Samu pelo 192, imediatamente, por exemplo), informações sobre doenças mentais e suicídio, comenta sobre fatores de risco e sinais de alerta e ainda divulga uma carta para os pais sobre automutilação e suicídio.

Livro e live
Por fim, gostaria de sugerir a leitura do livro Viver é a Melhor Opção, lançado pelo jornalista e ambientalista André Trigueiro em 2015, pela Editora Candeia, mas que continua superatual.

Trigueiro é espírita e luta para esclarecer ela prevenção do suicídio e cedeu os direitos autorais da obra para o Centro de Valorização da Vida (CVV), do qual já foi voluntário. O livro foi escrito com o apoio de sua esposa, Ana Claudia Guimarães.

Hoje, no programa online ‘Papo das 9’ (que criou logo no início da pandemia e transmite pelo YouTube e Instagram; antes todos os dias, agora às quartas, sextas e domingos), o jornalista se comprometeu a falar sobre a campanha de prevenção ao suicídio durante este mês, em especial nas lives de domingo.

Nesse dia da semana, o formato do Papo é diferente. Como não dispõe do apoio de um profissional que recebe e seleciona questões dos espectadores, que ele responde no mesmo programa (reserva meia hora para isso), aos domingos Trigueiro discorre sobre um único tema de sua escolha.

Este mês, então, os programas dominicais devem ser dedicados à prevenção do suicídio e à relevância da campanha da Associação Brasileira de Psiquiatria e do trabalho desenvolvido pelo CVV (assista, abaixo, no início da live de hoje, que reproduzo abaixo).

Posso dizer que Trigueiro, na verdade, ‘está em campanha’: no programa de ontem, 1/9, ele também comentou sobre o Setembro Amarelo, como você pode ver no vídeo mais abaixo.



Mônica Nunes
Jornalista com experiência em revistas e internet, escreveu sobre moda, luxo, saúde, educação financeira e sustentabilidade. Trabalhou durante 14 anos na Editora Abril. Foi editora na revista Claudia, no site feminino Paralela, e colaborou com Você S.A. e Capricho. Por oito anos, dirigiu o premiado site Planeta Sustentável, da mesma editora, considerado pela United Nations Foundation como o maior portal no tema. Integrou a Rede de Mulheres Líderes em Sustentabilidade e, em 2015, participou da conferência TEDxSãoPaulo.