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Calor extremo causa dano ao DNA de filhotes de pássaros, fazendo com que procriem menos

Calor extremo causa dano ao DNA de filhotes de pássaros, fazendo com que procriem menos

Muito já tem se falado sobre o impacto dos chamados extremos climáticos – furacões, secas extremas, enchentes ou ondas de frio intensas -, ao meio ambiente, a fauna e a flora. Vários incidentes já foram registrados associando a morte de mamíferos e pássaros com altas temperaturas, como por exemplo, a morte de centenas de milhares de aves migratórias por causa dos incêndios na costa oeste dos Estados Unidos em 2020.

Mas um novo estudo alerta que, mesmo aqueles que sobrevivem ao calor atípico e o clima muito seco podem ser afetados, especialmente, filhotes em ninhos nos primeiros dias de vida. E as consequências serão percebidas na vida adulta.

Em artigo científico divulgado na publicação Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS), cientistas da Monash University, na Austrália, detalham um estudo feito com uma espécie específica de pássaros, o Malurus coronatus, endêmica da Austrália. Eles descobriram que a combinação de condições climáticas quentes e secas está relacionada ao encurtamento de uma região do DNA conhecida como telômero, que funciona para manter a integridade dos cromossomos. Quando eles se tornam muito curtos para fazer seu trabalho, eles aceleram o processo de envelhecimento.

“Nosso estudo de longo prazo acompanhou as aves desde a eclosão e observou tudo o que pudemos sobre seu comportamento reprodutivo até a morte. O comprimento dos telômeros dos filhotes é um biomarcador da expectativa de vida e do número de descendentes que eles têm ao longo da vida”, explica Anne Peters, uma das co-autoras do artigo.

Calor extremo causa dano ao DNA de filhotes de pássaros, fazendo com que procriem menos e  envelheçam e morram mais cedo, revela estudo inédito
Um exemplar do Malurus coronatus
(Foto: Graham Winterflood/Creative Commons/Flickr)

Belíssimo, o macho da espécie Malurus coronatus possui um rabo com penas azuis e a cabeça em tons de lilás. Mas a ave já está ameaçada de extinção e teme-se que o impacto provocado pelo aquecimento global torne ela ainda mais vulnerável.

“Notamos que, mesmo sob cenários de aquecimento climático relativamente amenos, os efeitos não letais apenas no comprimento dos telômeros dos filhotes podem resultar em declínio populacional”, diz Justin Eastwood, principal autor do artigo. “Mas, em contraste, a matemática também mostrou que a reprodução em condições mais úmidas ou a evolução de telômeros mais longos poderia mitigar o efeito”.


Suzana Camargo
Jornalista, já passou por rádio, TV, revista e internet. Foi editora de jornalismo da Rede Globo, em Curitiba, onde trabalhou durante 6 anos. Entre 2007 e 2011, morou na Suíça, de onde colaborou para publicações brasileiras, entre elas, Exame, Claudia, Elle, Superinteressante e Planeta Sustentável. Desde 2008 , escreve sobre temas como mudanças climáticas, energias renováveis e meio ambiente. Depois de dois anos e meio em Londres, vive agora em Washington D.C.