O aumento das temperaturas globais está corroendo o bem-estar emocional das populações em todo o mundo, com um impacto desproporcional sobre os habitantes de países mais pobres. Esta é a conclusão central de um estudo de larga escala que analisou 1,2 bilhão de publicações em redes sociais para medir, em tempo real, a relação entre o calor extremo e o humor humano. A pesquisa, publicada na revista One Earth, utilizou técnicas de processamento de linguagem natural para decodificar sentimentos em 65 idiomas, abrangendo 157 países.
A análise revela um ponto de inflexão crítico: quando os termômetros ultrapassam a marca de 35°C, o tom emocional das postagens on-line torna-se significativamente mais negativo. O efeito, porém, não é uniforme. Em nações de renda mais baixa, o sentimento negativo aumenta aproximadamente 25%, enquanto em países mais ricos a alta é de cerca de 8%. A disparidade econômica triplica a vulnerabilidade emocional ao calor.
A metodologia inovadora atribuiu uma pontuação de sentimento a cada postagem, variando de 0,0 (extremamente negativa) a 1,0 (extremamente positiva). Esses dados foram depois agregados geograficamente a quase três mil localidades e cruzados com informações meteorológicas. Esta abordagem oferece uma janela sem precedentes para as emoções humanas em escala planetária, superando as limitações de pesquisas tradicionais.
Projeções de longo prazo, baseadas em modelos climáticos globais, preveem uma piora de 2,3% no bem-estar emocional da população mundial até o ano de 2100, considerando apenas os efeitos das altas temperaturas. O estudo integra o Global Sentiment Project, do MIT Sustainable Urbanization Lab, e sua base de dados está publicamente disponível para auxiliar na formulação de políticas públicas.
Os pesquisadores admitem nuances, como o fato de os usuários de redes sociais não representarem perfeitamente toda a população, já que idosos e crianças muito pequenas têm menor presença on-line. Justamente esses grupos, no entanto, estão entre os mais vulneráveis aos choques de calor, sugerindo que o impacto real pode ser ainda maior do que o captado pela análise. A construção de resiliência emocional emerge como um componente vital da adaptação societal a um mundo mais quente.