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Calor da superfície de Vênus pode alimentar fortes ventos acima das nuvens

Calor da superfície de Vênus pode alimentar fortes ventos acima das nuvens

O perfil mais completo já produzido dos ventos de Vênus, que sopram paralelos ao equador no lado noturno do planeta, pode ajudar a esclarecer uma possível relação entre o forte efeito estufa da atmosfera venusiana e os ventos violentos acima da atmosfera.

A conclusão vem de um novo estudo liderado por Pedro Machado, da IAstro and Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, que reuniu as medidas mais detalhadas e completas já coletadas da velocidade dos ventos em Vênus.

Para o estudo, os autores trabalharam com um observatório em solo para coletar medidas da velocidade dos ventos zonais no planeta, ou seja, aqueles paralelos ao equador, junto da altitude da parte inferior das nuvens de lá.

Um dos resultados obtidos foram as medidas simultâneas da velocidade do vento em duas diferentes alturas, com 20 km de diferença. A equipe registrou uma diferença na velocidade dos ventos de quase 150 km/h maior na parte superior das nuvens.

Sequência que mostra o processo de reduzir o brilho do lado diurno de Vênus, para os pesquisadores conseguirem analisar os detalhes do lado noturno (Imagem: Reprodução/Pedro Machado, et al. 2022)

Isso sugere processos de transferência de energia do calor das camadas inferiores, que alimentam a super-rotação (devido aos ventos zonais, a atmosfera de Vênus circula o planeta 60 vezes mais rápido que sua velocidade de rotação), para a circulação geral da atmosfera. “Os ventos aceleram conforme vamos a altitudes maiores, mas ainda não sabemos o porquê”, observou Machado.

Para entender melhor como isso acontece, os autores investigaram o componente vertical do vento, ou seja, como a energia das camadas inferiores e mais baixas da atmosfera vai até o topo das nuvens, onde acelera os ventos. Ao acompanhar as nuvens em intervalos de uma hora com uma nova técnica de rastreamento aprimorada por Javier Peralta, da Universidad de Sevilla e coautor do estudo, os pesquisadores identificaram a velocidade dos ventos empurrando as nuvens.

Lado noturno de Vênus observado na luz infravermelha, com marcações que indicam formações específicas das nuvens; o rastreamento delas permite que os pesquisadores descubram a velocidade do vento que empurra as nuvens (Imagem: Reprodução/Pedro Machado, et al. 2022)

Eles concluíram que a velocidade do vento chega a 216 km/h na parte inferior das nuvens e a latitudes médias, e cai conforme se aproxima dos polos venusianos. Ao fim do processo, os pesquisadores conseguiram coletar as primeiras medidas das diferenças na velocidade dos ventos entre duas altitudes, a partir de observações simultâneas; eles concluíram que, no lado noturno e em apenas 20 km, o vento paralelo ao equador é acelerado em 150 km/h.

É possível que o calor da superfície seja o mecanismo responsável por sustentar as altas velocidades dos ventos no topo das nuvens. Com o sucesso do método utilizado, a equipe expandirá a pesquisa para analisar o componente vertical dos ventos em novas observações em solo, coordenadas com a sonda Akatsuki, da agência espacial japonesa JAXA. Além disso, o estudo demonstrou que as observações feitas da Terra podem, assim, complementar os dados coletados simultaneamente por missões espaciais.

O artigo com os resultados do estudo foi publicado na revista Atmosphere.