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Calau-de-bico-amarelo está em grave risco de extinção devido à seca e ao calor

Calau-de-bico-amarelo está em grave risco de extinção devido à seca e ao calor

O calau-de-bico-amarelo (Tockus leucomelas) é uma das aves mais imponentes da África e habita áreas de savana aberta no deserto de Kalahari, sul do continente.

Seu longo bico amarelo e curvado para baixo é sua ‘marca registrada’, assim como acontece com seu ‘primo’, o calau-de-bico-vermelho, que inspirou o personagem Zazu, de ‘O Rei Leão’, da Disney: o pássaro mordomo e conselheiro de Mufasa, o vilão a história. No entanto, parece que o futuro das duas espécies será bem distinto.

Pesquisadores da Universidade da Cidade do Cabo analisaram a influência do aquecimento rápido do clima sobre a reprodução do calau-de-bico-amarelo, ao longo de uma década: de 2008 a 2019.

O resultado foi divulgado na revista Fronteiras em Ecologia e Evolução, em maio deste ano, e aponta que o primo de Zazu já está sendo exterminado pelas mudanças climáticas, o que pode levar a seu completo desaparecimento até 2027.

Quanto mais calor, menos reprodução
A crise climática está agravando as condições adversas de climas extremos, como as altas temperaturas e a frequência e a intensidade dos períodos de seca associados às regiões áridas. Assim, a seca e o aumento da temperatura do ar têm afetado de forma drástica a reprodução da espécie, bagunçando seus ciclos.

Este é um estudo pioneiro sobre o impacto da crise climática na reprodução “em nível populacional em uma escala de tempo mais longa”.

Pesquisas anteriores já apontavam que espécies que vivem no deserto de Kalahari sofrem com as consequências do aquecimento global: os primos de Zazu têm se reproduzido mais cedo e por um período mais curto de tempo.

No último estudo, os cientistas analisaram a reprodução de casais em ninhos de madeira instalados na Kuruman River Reserve. Descobriram que a ocupação dos ninhos caiu de 52% para apenas 12%.

Também detectaram que a criação de um filhote (pelo menos) caiu para 41% e a média de filhotes foi de 1,1 para 0,4. E, nos momentos em que a temperatura do ar ultrapassou 35,7°C, as aves não conseguiram se reproduzir.

Ou seja, a reprodução entrou em colapso com o aumento de temperatura do ar. E, se a tendência se mantiver assim, o período de reprodução – com temperaturas mais adequadas – pode deixar de existir até 2027. Ou seja, daqui a apenas cinco anos!

Morte em massa
“Há evidências crescentes dos efeitos negativos das altas temperaturas no comportamento, fisiologia, reprodução e sobrevivência de várias espécies de aves, mamíferos e répteis em todo o mundo”, declara o principal autor do estudo, Dr. Nicholas Pattinson.

Ele conta que estão cada vez mais frequentes os registros de morte em massa relacionados ao calor durante alguns dias, o que “representa uma ameaça à persistência da população e à função do ecossistema”.


Mônica Nunes
Jornalista com experiência em revistas e internet, escreveu sobre moda, luxo, saúde, educação financeira e sustentabilidade. Trabalhou durante 14 anos na Editora Abril. Foi editora na revista Claudia, no site feminino Paralela, e colaborou com Você S.A. e Capricho. Por oito anos, dirigiu o premiado site Planeta Sustentável, da mesma editora, considerado pela United Nations Foundation como o maior portal no tema. Integrou a Rede de Mulheres Líderes em Sustentabilidade e, em 2015, participou da conferência TEDxSãoPaulo.