Café sustentável feito em laboratório tem cheiro e sabor da bebida de verdade
Cientistas do Centro de Pesquisas da Finlândia (VTT) desenvolveram um tipo de café sustentável utilizando células vegetais fermentáveis, colhidas a partir de pedaços de folhas de plantas de verdade. O processo de produção é semelhante ao usado para fabricar carnes cultivadas em laboratório.
O objetivo é diminuir o impacto ambiental causado pela produção de café convencional. Segundo a ONU, o cultivo das plantas requer um gasto muito elevado de água — cerca de 140 litros por xícara de café. Além disso, fertilizantes e pesticidas usados nos cafezais podem contaminar o solo a longo prazo.
“A ideia é usar a biotecnologia em vez da agricultura convencional para a produção de alimentos, fornecendo rotas alternativas que são menos dependentes de práticas insustentáveis de cultivo”, afirma o chefe do laboratório de biotecnologia do VTT Heiko Rischer, autor principal do estudo.
Café de laboratório
O processo de produção do café cultivado em laboratório começa com a escolha das folhas e outras partes das plantas. Os pesquisadores utilizam diferentes meios de crescimento e ambientes variados com nutrientes específicos para estimular a fermentação e a replicação das células vegetais.
“Simplificando todo o processo, as células são transferidas para um biorreator de onde a biomassa resultante é então colhida”, explica Rischer. “As células então passam por um sistema de secagem e depois são torradas para que o café possa ser produzido da maneira mais sustentável possível”.
Segundo os cientistas finlandeses, o cheiro e o sabor do café produzido em laboratório são muito semelhantes ao café comum, com a vantagem de não utilizar fertilizantes ou pesticidas e ter um consumo de água infinitamente menor para cultivar a mesma quantidade de bebida.
Mais do que uma xícara
Os pesquisadores acreditam que estão a cerca de quatro ou cinco anos de aumentar a produção do café sustentável e garantir a aprovação regulatória necessária para comercializá-lo em escala industrial. A ideia não é substituir totalmente o cultivo convencional, mas minimizar os danos ambientais.
Nos Estados Unidos, por exemplo, o café de laboratório precisaria da aprovação do FDA (órgão sanitário semelhante à nossa Anvisa) para ser vendido aos consumidores. Já na Europa, o produto deve primeiro ser aprovado como “novo alimento” antes de ser comercializado.
“O verdadeiro impacto desse trabalho científico acontecerá por meio de empresas que desejam repensar a produção de ingredientes alimentícios e começar a impulsionar suas aplicações comerciais. O que fizemos até agora prova que o café cultivado em laboratório pode ser uma realidade viável”, encerra Heiko Rischer.