Cada vez mais conectados: confira 5 cuidados para proteger seu filho na internet
Em toda data comemorativa que envolva presentes, mais e mais crianças e adolescentes receberão um smartphone ou passarão de alguma forma a ter acesso à internet de forma regular.
Os efeitos — e os riscos — de uma geração conectada desde o berçário ainda estão sendo estudados, mas um estudo apoiado pela Unesco, pela Unicef e entidades nacionais e estrangeiras acende alguns alertas.
Segundo o relatório “Infância e adolescência na era digital“, produzido pela TIC Kids Online Brasil, entre 30% e 40% dos usuários de 9 a 17 anos relatam terem sido expostos a conteúdos que os deixaram chateados ou fizeram que se sentissem mal.
Além disso, de 10% a 40% acessaram ou foram expostos a conteúdos delicados ou sensíveis, como os relacionados a suicídio, anorexia, drogas ou violência.
Mesmo não sendo possível rastrear se esses jovens chegaram nesses conteúdos prejudiciais por conta própria ou se lhes foram enviados — via pop-up ou e-mail, por exemplo —, no caso dos entrevistados para a pesquisa, uma coisa é certa: é preciso acompanhar o que as crianças estão acessando no mundo virtual. Para o bem delas.
Pensando nisso, separamos 5 dicas que vão auxiliar no convívio saudável entre crianças e adolescentes e seus respectivos responsáveis com a internet.
Defina tempo de utilização
O celular é, de fato, muito útil. Quando o responsável compra para a criança um aparelho, muito provavelmente ele está pensando que, no caso de uma emergência, ela o usará para entrar em contato com ele. Porém, apesar dos benefícios, possuir um celular requer responsabilidade, e de ambas as partes.
Em um relatório divulgado em fevereiro deste ano, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) recomenda que crianças até 2 anos não devam ser expostas a nenhuma atividade com tela, seja celular, tablet ou qualquer outro aparelho similar. De 2 a 5 anos, apenas uma hora por dia, e de 6 a 10, no máximo, duas horas. Para adolescentes, o limite recomendado é de três horas, sendo que para todos os casos, em qualquer idade, devem estar sob a supervisão de um adulto.
Na contramão dessas recomendações, uma pesquisa realizada pela revista Crescer em 2018, mostrou que, no Brasil, 38% das crianças até 2 anos já têm um celular, tablet, computador, videogame ou TV. Assustador? Sim, mas fatores na rotina dos adultos resultaram nesse dado alarmante.
Em entrevista à mesma revista, o psicólogo Cristiano Nabuco, coordenador do Grupo de Dependências Tecnológicas do Instituto de Psiquiatria da USP, falou que além do barateamento dos aparelhos, o que deixou-os mais acessíveis, “outro fato é que, cansados ao final de sua jornada de trabalho, os pais acabam utilizando a tecnologia para entreter as crianças”.
Alguns responsáveis podem argumentar que as crianças de hoje em dia, inclusive as mais novas, como as de até 2 anos mencionadas pela SBP, são mais familiarizadas à tecnologia e, por isso, aprendem a manusear rapidamente e com facilidade os mais diversos gadgets. Bem, para Alicia Blum-Ross, líder em políticas públicas para crianças e família no Google, não é bem assim.
Em entrevista ao UOL, no começo deste ano, Alicia afirmou que “as crianças são rápidas para aprender a usar aplicativos, mas não necessariamente entendem o que estão fazendo” e que “pais muitas vezes subestimam a importância que eles têm na hora de ajudar as crianças a entenderem o real significado por trás do que elas estão fazendo [na internet]”.
Resumindo, antes de se preocupar em como restringir o acesso das crianças e adolescentes a certos conteúdos on-line, uma outra opção, talvez, seria repensar o acesso deles aos aparelhos eletrônicos, seja totalmente, para os menores de 2 anos, conforme recomendado pela SBP, ou limitando “tempo de tela” para os mais velhos.
Ative modos seguros em sites e aplicativos
Gadgets, plataformas, softwares e eletrônicos no geral (inclusive videogames), todos têm a opção de controle parental, ou seja, você pode limitar o que as crianças podem acessar.
No YouTube, por exemplo, é possível ativar o ‘modo restrito’, outra opção é criar uma conta para as crianças no YouTube Kids, com conteúdo selecionado para a faixa etária e totalmente passível de monitoramento pelos responsáveis.
Já nos celulares, no menu ‘configurações’ (‘ajustes’ no iPhone) há como bloquear o acesso a aplicativos — muito útil também financeiramente, porque você já deve ter ouvido ao menos uma história de crianças comprando coisas online, de jogos a objetos que um dia chegam em casa.
Nos serviços de streaming, há a opção de criar perfis exclusivos para crianças, onde somente o conteúdo apropriado para a idade será acessível, e colocar senha para o restante do catálogo.
Até no site de pesquisa do Google é possível ativar restrições. Para isso, na página, vá em ‘configurações’ e selecione a opção ‘SafeSearch’. Lembrando que nem tudo é perfeito, algumas buscas podem apresentar resultados impróprios, por isso, é sempre bom monitorar, mesmo com as ferramentas de bloqueio parental ativadas.
Observe a idade mínima para redes sociais
Cada rede social define uma idade mínima para o seu uso. O Facebook, Instagram, Snapchat e YouTube, por exemplo, permitem a criação de perfis a partir dos 13 anos, já o WhatsApp é aos 16.
Mas, atenção pais e responsáveis: de acordo com os termos e condições das plataformas, mesmo que permitido usuários nessas idades, vocês ainda são responsáveis por aquilo que eles compartilham nas plataformas, então, mais uma vez, acompanhar de perto as crianças é preciso.
Brincar (e estudar) é preciso
Se os adultos já estão preocupados com o tempo de tela no dia a dia, imagina como essa regra é importante para crianças e adolescentes terem uma vida saudável. Mas antes de definir e estipular um período, converse e negocie com a criança e o adolescente.
Com a pandemia da Covid-19 e as aulas on-line, o tempo de tela dos jovens aumentou, óbvio, por isso é preciso ponderar, afinal, a internet também é fonte de conhecimento, se usada corretamente. É preciso reservar tempo para estudar e, também brincar, fora das telas.
Uma regra importante de ser estabelecida é proibir o uso de aparelhos eletrônicos pouco antes de dormir, pois pesquisas indicam que a luz emitida pelos aparelhos, chamada de “luz azul”, é prejudicial para o sono — inclusive, essa regra vale para os adultos também.
Durante as refeições, bloquear igualmente o uso. Um estudo da Universidade de Surrey, na Inglaterra, divulgado no Journal of Health Psychology, afirma que prestar atenção na comida durante as refeições aumenta a sensação de saciedade e leva a pessoa a comer menos. Sendo assim, quando estamos de olho na tela e não no prato, não reconhecemos os sinais do nosso próprio corpo quando ele avisa que a comida que ingerimos já é suficiente. Aliás, pais e responsáveis, talvez seja uma boa ser exemplo aqui também e adotar essa regra, pelo bem das crianças e adolescentes, e de vocês.
Diálogo
A SaferNet Brasil, uma organização não governamental e sem fins lucrativos que tem a missão de defender e promover os direitos humanos na Internet, em seu site, lista medidas de segurança que pais e responsáveis devem ter com crianças e adolescentes que possuem acesso à internet, assim como orientações a elas de como se manter seguro on-line. Mas, uma coisa é certa: o controle parental mais eficiente ainda é o diálogo.
Conversar sobre os perigos da internet com as crianças e adolescentes, e fazê-los com que se sintam seguros em pedir ajuda caso necessário, é a melhor forma de evitar que eles sejam expostos a conteúdos prejudiciais.
É necessário ter habilidade para falar, e não fazer com que eles se sintam reprimidos, mas dialogar de forma que um vínculo de confiança seja formado. Essa relação é muito mais eficaz, principalmente a longo prazo, do que qualquer outra medida que tenha como objetivo proteger crianças e adolescentes dos riscos on-line.