Anchor Deezer Spotify

Brasileiros criam lâmpada segura que esteriliza ambientes automaticamente

Brasileiros criam lâmpada segura que esteriliza ambientes automaticamente

Cientistas da Unesp patentearam tecnologia que utiliza radiação UV-C para matar germes como o Sars-CoV-2 e pode ser utilizada em todos os lugares

Com a pandemia, ficou evidente a importância da higienização de ambientes e objetos para a nossa saúde. Mas não é fácil manter tudo limpo e esterilizado o tempo todo. Pensando nisso, pesquisadores da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp) em Ilha Solteira, no litoral de São Paulo, criaram uma ferramenta que executa essa tarefa automaticamente.

Chamada de Lâmpada Esterilizadora Automática, a tecnologia utiliza raios ultravioleta tipo C (UV-C) para matar qualquer tipo de microrganismo — incluindo o Sars-CoV-2, causador da Covid-19, e até germes que ainda não foram descobertos.

Isso ocorre porque a radiação UV-C causa danos irreparáveis ao material genético existente em todas as formas de vida. Esses raios são capazes de romper ligações timina-timina, que estão amplamente espalhadas no DNA e RNA de animais, plantas, fungos, bactérias e vírus. Felizmente, a camada de ozônio filtra os raios UV-C emitidos no espaço, impedindo que eles cheguem à troposfera, parte da atmosfera onde habitamos, e permitindo que haja vida no planeta.

A UV-C, no entanto, pode ser produzida industrialmente e é utilizada há décadas na esterilização de objetos e ambientes — em salas de cirurgias ou em cadeias de produção, por exemplo. Por sua alta atividade antisséptica, engenheiros eletricistas da Unesp trabalharam, então, no desenvolvimento de um sistema elétrico baseado em UV-C que fosse seguro e prático para ser usado em lugares diversos.

“A reflexão que fizemos foi: como nós, da universidade, podemos contribuir para mitigar não só essa como também as próximas pandemias?”, explica Edvaldo Assunção, professor adjunto do Departamento de Engenharia Elétrica da Unesp em Ilha Solteira e orientador do projeto. “Por isso, desenvolvemos uma lâmpada de funcionamento automático que pode diminuir a circulação e, portanto, disseminação de vírus e outros microrganismos. É um equipamento que não deixa rastros de contaminação.”

A lâmpada foi patenteada pelos pesquisadores e está à espera de empresas que se interessem em produzir e comercializar em larga escala o produto, que pode ser usado em prédios comerciais e residenciais, escolas e veículos

Para atestar a segurança e eficiência do projeto, os engenheiros construíram um protótipo em um elevador do Departamento de Engenharia Elétrica da Unesp. O sistema desenvolvido não envolve apenas lâmpadas, mas também sensores que captam se há alguém (ou algo) no recinto.

Humanos, animais e plantas não devem se expor à radiação UV-C, por isso, o sistema elétrico só entra em funcionamento quando todos estão fora do ambiente. “Utilizamos sistemas de inteligência artificial envolvendo machine learning e deep learning para detectar esses elementos e garantir a segurança de todos”, afirma Ricardo Taoni Xavier, doutor em engenharia elétrica pela Unesp e idealizador do projeto.

Lâmpada Esterilizadora Automática em funcionamento no elevador do Departamento de Engenharia Elétrica da Unesp, em Ilha Solteira (SP)) (Foto: Divulgação)
Lâmpada Esterilizadora Automática em funcionamento no elevador do Departamento de Engenharia Elétrica da Unesp, em Ilha Solteira (SP)) (Foto: Divulgação)

Segundo Xavier, a esterilização por radiação UV-C não é utilizada durante todo o tempo em que um ambiente está vazio. São necessários apenas alguns segundos, a depender da área a ser esterilizada, para que os microrganismos sejam inativados pela exposição a esses raios. Caso o ambiente seja acessado no meio desse processo, as lâmpadas são automaticamente apagadas. “Nossa linguagem de programação garante que essa interrupção seja tão rápida que a pessoa não passe nem milésimos de segundo exposta à luz quando a porta abre”, garante o pesquisador.

Além disso, apesar do contato direto com a luz UV-C ser prejudicial, observá-la através de vidros não é perigoso. “Se você passar perto de uma janela onde algo está sendo esterilizado por UV-C, não há risco algum”, assegura o professor Evaldo Assunção. “Nós esperamos que, com o amplo uso dessa tecnologia, possamos assegurar que eventos como uma pandemia possam ser prevenidos com rapidez.”