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Brasil só atingirá meta climática se investir em preservação, diz estudo

Brasil só atingirá meta climática se investir em preservação, diz estudo

Ações de preservação e restauração em larga escala teriam impacto imediato por uma fração do custo das tecnologias com carbono negativo

Um estudo publicado pela Universidade de Oxford mostrou que a promessa brasileira de zerar as emissões líquidas de gases de efeito estufa até 2050 seria mais facilmente cumprida por meio da implementação de soluções baseadas na natureza, com ações envolvendo o fim do desmatamento e a restauração da vegetação nativa. Os pesquisadores concluíram que a interrupção do desmatamento é a medida mais importante que o Brasil poderia adotar no atual cenário, contribuindo não só para anular as emissões de gases poluentes, como também para a preservação da biodiversidade. Embora a conclusão não seja propriamente uma novidade, ela esbarra em estruturas políticas que impedem sua aplicação ideal.

Os especialistas projetaram as emissões de gases de efeito estufa previstas para o Brasil até 2050, considerando diferentes cenários políticos e comparando os índices potenciais de redução de emissões a partir de soluções baseadas na preservação da natureza com soluções de engenharia, como a produção de bioenergia com captura e armazenamento de carbono (BECCS, na sigla em inglês), cuja ideia geral é retornar o carbono para onde ele estava estocado, embaixo da terra, e assim evitar que ele seja lançado na atmosfera. A pesquisa também considerou os custos envolvidos em cada uma dessas soluções.

As projeções indicaram que as soluções que privilegiavam a preservação da natureza poderiam atingir quase 80% da promessa brasileira de emissão líquida zero de gases do efeito estufa, com o bônus de reduzir e retirar até 781 milhões de toneladas de dióxido de carbono (CO²) da atmosfera anualmente pelos próximos 30 anos. Para isso, o Brasil deveria zerar os índices de desmatamento legal e ilegal e promover a restauração de áreas devastadas em larga escala. A adoção dessas medidas poderia levar o Brasil ao cumprimento de sua meta até dez anos antes do prazo determinado, em 2040.

Tudo isso com um custo inferior aos envolvidos na implementação de tecnologias de engenharia, que não atingem o potencial garantido pela preservação e reflorestamento, que além dos benefícios climáticos, ainda contribuem para a movimentação da economia local e para a manutenção da biodiversidade, fator importante para o país que abriga 20% das espécies do mundo.

Embora esta solução seja amplamente conhecida e cumpra todos os requisitos para a imediata implementação, ela esbarra em entraves políticos. O estudo aponta que o atual Código Florestal brasileiro é insuficiente para o cumprimento da meta apresentada. Os dados indicam que a aplicação ideal da atual legislação, sem qualquer medida adicional, reduziria apenas 38% das emissões de gases de efeito estufa até 2050. O artigo sugere, no entanto, que os esforços econômicos necessários para ir além do que é possibilitado pelo atual código florestal ainda seriam três vezes menores do que os previstos para a aplicação de soluções associadas aos BECCS, por exemplo.

Segundo os pesquisadores, o plano de emissões líquidas zero do Brasil deve considerar a urgência de deter o desmatamento, a necessidade de aumentar os investimentos em práticas agrícolas sustentáveis ​​e fontes de energia renováveis, a importância de promover projetos de alta integridade para compensar as emissões residuais e a consistência com uma transição justa e equitativa.