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Brasil assume liderança climática na Climate Week em Nova York

Brasil assume liderança climática na Climate Week em Nova York

A Climate Week em Nova York confirmou o protagonismo brasileiro na agenda climática internacional. O anúncio do governo federal de um aporte de US$ 1 bilhão no Tropical Forests Forever Facility (TFFF) foi recebido como um divisor de águas, estabelecendo um novo patamar de ambição para países do Sul Global. O gesto reforça a relevância estratégica do país como anfitrião da COP30, em Belém, e posiciona o Brasil como liderança na conservação florestal e no financiamento climático.

O TFFF nasce como uma proposta inovadora de remuneração pela manutenção de florestas tropicais em pé, com forte conexão ao mercado de carbono. Diferentemente de modelos baseados em doações, o fundo opera sob a lógica de mercado: para cada dólar de recurso público investido, espera-se alavancar até quatro dólares de capital privado. Países que comprovarem anualmente, por meio de monitoramento via satélite, a conservação de suas florestas receberão pagamentos proporcionais, em um arranjo semelhante aos mecanismos de créditos de carbono.

Segundo o Ministério do Meio Ambiente, o TFFF integra-se ao movimento de estruturação do mercado regulado brasileiro, aprovado em 2024 com a criação do Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões (SBCE). A implementação está prevista para julho de 2025, quando grandes emissores passarão a ser obrigados a compensar suas emissões, criando demanda robusta por créditos ambientais certificados. A sinergia entre o fundo e o mercado regulado coloca o Brasil na vanguarda de soluções climáticas híbridas, unindo políticas públicas, capital privado e inovação financeira.

O avanço do arcabouço regulatório interno reforça a credibilidade do país. O SBCE cria um sistema de precificação obrigatória das emissões, alinhando o Brasil às principais economias globais. A combinação do TFFF com o mercado regulado abre espaço para que iniciativas estaduais e jurisdicionais de REDD+ se conectem a fluxos financeiros internacionais, ampliando as oportunidades de monetização da conservação.

A presença brasileira em Nova York também se fez sentir no setor privado. O Banco do Brasil anunciou duas iniciativas de peso: a captação de US$ 100 milhões, em parceria com o Crédit Agricole, para o programa Eco Invest Brasil, que financia projetos de transição ecológica; e a assinatura, junto à Natura, de um convênio de R$ 50 milhões para apoiar sistemas agroflorestais na Amazônia, com meta de recuperar 12 mil hectares e gerar renda para agricultores familiares. Já a Vale informou ter alcançado 50% de sua meta voluntária de proteção florestal até 2030, o que representa cerca de 200 mil hectares já conservados. A mineradora também se prepara para lançar créditos florestais e reforçou sua adesão à iniciativa global 1t.org, que busca restaurar 1 trilhão de árvores até 2030. Outras empresas, como Vivo, Nestlé e Votorantim, ampliaram projetos de restauração e proteção florestal, consolidando um ambiente corporativo cada vez mais engajado com metas de neutralidade climática.

O evento também destacou o papel crescente da tecnologia para dar escala e confiabilidade ao mercado de carbono. Empresas como Space Intelligence e CTrees apresentaram metodologias para estabelecer linhas de base em programas jurisdicionais de REDD+, enquanto soluções de inteligência artificial começam a ser aplicadas para interpretar regulações e integrar registros de carbono. Embora ainda incipientes, essas ferramentas prometem acelerar a convergência entre os mercados voluntário e regulado.

A combinação de compromissos financeiros, inovação regulatória e engajamento empresarial fortalece a posição do Brasil às vésperas da COP30. Em Belém, o TFFF deverá ser oficialmente lançado, com expectativa de adesão de países como Noruega, China, Reino Unido e Emirados Árabes Unidos. Num cenário global ainda marcado pela desconfiança entre países desenvolvidos e em desenvolvimento, o Brasil mostrou em Nova York que não apenas cobra ação climática, mas está disposto a liderar com entregas concretas. A COP30 tem tudo para se consolidar como um marco histórico na governança climática mundial — e o Brasil, pela primeira vez, chega ao centro do palco com credenciais sólidas.

Pedro Plastino – Especialista em negócios climáticos e crédito de carbono, cofundador da Future Carbon e um dos nomes de referência no setor. Graduado em Administração Pública pela Fundação Getúlio Vargas, construiu carreira nos mercados de carbono e financeiro, tendo liderado a área de créditos de carbono e negociações estratégicas na Future Climate Group, além de atuar em frentes como Equity, DCM e Asset Management. Foi Head de M&A na Potenza Capital, boutique afiliada ao BTG Pactual, e recentemente participou do Leadership Development Program da Harvard Business School, onde foi o único executivo de clima convidado mundialmente.

Pedro Plastino - Foto: Divulgação, autor do artigo Primeiras impressões da Climate Week em Nova York: o potencial do crédito de carbono azul e o papel do Brasil
Pedro Plastino – Foto: Divulgação