Biogel desenvolvido em parceria com a USP promove cicatrização de feridas graves
Produto da startup In Situ Terapia Celular, desenvolvido em colaboração com a Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto da USP, foi testado em modelo pré-clínico de feridas graves em anemia falciforme e poderá, no futuro, beneficiar pacientes do SUS
Um biogel terapêutico desenvolvido pela startup In Situ Terapia Celular, em colaboração com a Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto (FCFRP) da USP, apresentou resultados promissores no modelo pré-clínico de feridas de pele graves associadas à anemia falciforme. A anemia falciforme é uma doença hereditária, caracterizada por inflamação crônica e consequente disfunção imunológica e no processo de cicatrização.
A formulação de uso tópico, que está em fase de patenteamento pela startup, contém pequenas partículas chamadas de vesículas extracelulares, que são liberadas por células estromais mesenquimais e atuam como mensageiras biológicas, regulando o sistema imunológico e auxiliando na regeneração de tecidos lesionados.
As avaliações pré-clínicas iniciais em camundongos sadios mostraram que o biogel acelera em cerca de 50% o processo de cicatrização. “A ferida se fecha em metade do tempo do que fecharia sem o uso do biogel”, explica Adriana Oliveira Manfiolli, pesquisadora-sócia da startup, egressa de pós-graduação na USP. A startup conta com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e está incubada no Supera Parque de Inovação e Tecnologia de Ribeirão Preto e no Hospital Albert Einstein.
Para viabilizar o uso clínico do biogel futuramente, será necessário produzir essas vesículas em larga escala, já que inicialmente as células mesenquimais eram cultivadas em sistemas 2D estáticos, em frascos plásticos, um método trabalhoso e de difícil escalonamento. “Essa limitação foi superada com o desenvolvimento, pelo grupo da professora Kelen Malmegrim de Farias, da FCFRP, de um bioprocesso nacional de produção dessas vesículas em biorreator de tanque agitado, livre de componentes de origem animal e compatível com boas práticas de fabricação”, conta Adriana.
Segundo a engenheira química e pesquisadora do grupo da FCFRP, Paula Bruzadelle Vieira, “o biorreator de tanque agitado é um equipamento que se assemelha a um vaso fechado e permite o cultivo controlado de células animais ou microrganismos, com temperatura, pH e oxigenação regulados, de modo a otimizar o crescimento celular e a produção desejada”.

Adriana Manfiolli, CTO (Chief Technology Officer), e Carolina Caliári Oliveira, fundadora e CEO, ambas da In Situ Terapia Celular – Foto: Divulgação/In Situ
A recém-doutora Natália Cristine Dias dos Santos, responsável pelo desenvolvimento do bioprocesso durante seu doutorado no Programa de Pós-Graduação em Biociências e Biotecnologia da FCFRP, completa: “Com o biorreator, foi possível cultivar as células em suspensão, reduzindo etapas manuais e garantindo lotes reprodutíveis e estáveis de vesículas”. Os resultados obtidos e apresentados na tese de Natália, desenvolvida em parceria com a In Situ Terapia Celular, estão em análise para publicação na revista Biotechnology and Bioprocess Engineering.
Para a professora Kelen, o potencial terapêutico das células estromais mesenquimais e de suas vesículas extracelulares está “na vanguarda das terapias avançadas” e “tem sido investigado em diversos estudos clínicos para tratamento de doenças inflamatórias, autoimunes e degenerativas”.

Potencial para uso no SUS
O biogel contendo as vesículas produzidas em escala ampliada foi testado com sucesso em modelo pré-clínico de feridas de pele graves em camundongos Townes, que mimetizam a anemia falciforme humana.
Nos experimentos realizados pelo biomédico Waldir César Ferreira de Oliveira, durante seu doutorado orientado pela professora Kelen também pelo Programa de Pós-Graduação em Biociências e Biotecnologia da FCFRP, foram comparados três grupos de camundongos: sem tratamento, tratados com a formulação original e tratados com o biogel contendo vesículas produzidas em escala ampliada. “O último grupo apresentou cicatrização completa das feridas, com menos inflamação e melhor qualidade do novo tecido”, relata Oliveira.
Com a eficácia terapêutica comprovada em modelo pré-clínico, a próxima etapa será liderada pela startup In Situ, com estudos complementares de custo, escalabilidade e viabilidade regulatória do produto. A perspectiva, segundo a professora Kelen, é que a startup disponibilize o biogel, no futuro, como um produto de terapia avançada acessível pelo SUS. “A ciência feita na universidade, quando conectada ao setor produtivo, pode gerar soluções reais para desafios da saúde pública”, conclui a professora Kelen.


Natália Cristine Dias dos Santos e Paula Bruzadelle Vieira no biorreator ; na sequência Waldir César Ferreira de Oliveira, Kelen Malmegrim de Farias, Paula Bruzadelle Vieira e Natália Cristine Dias dos Santos – Foto: Divulgação/FCFRP
A fundadora e CEO da startup, Carolina Caliári Oliveira, também egressa de pós-graduação na USP, destaca o impacto social do produto: “A ciência tem um papel fundamental na melhoria da qualidade de vida. Com inovação, dedicação e colaboração, estamos cada vez mais perto de oferecer um tratamento eficaz para as feridas de pele crônicas”. Além da startup, as pesquisas também tiveram apoio financeiro da Fapesp e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
Mais informações podem ser obtidas pelos e-mails kelenfarias@fcfrp.usp.br (Kelen) e adriana@insitu.com.br (Adriana), pelos perfis no Instagram @labterapiacelular e @insitu.terapiacelular, ou pelo site https://www.insitu.com.br
*Estagiária sob supervisão de Rita Stella e Rose Talamone
