Bactérias de ilhas do litoral paulista são testadas no combate a doenças da soja

Microrganismos identificados nas ilhas de Alcatrazes e Palmas permitirão realizar o controle de pragas dos cultivos de forma sustentável
Nas Ilhas de Alcatrazes e Palmas, litoral de São Paulo, pesquisadores da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP, em Piracicaba, identificaram bactérias com potencial para combater pragas dos cultivos de soja. Os estudos incluem o emprego de compostos sintetizados pelos microrganismos no controle de doenças de forma sustentável e o uso das bactérias em produtos biológicos inovadores que complementam o manejo das doenças.
O trabalho surge em um contexto de crescimento acelerado do mercado de bioinsumos agrícolas no Brasil, que nos últimos cinco anos registrou expansão superior a 10% ao ano. “A demanda por produtos biológicos, especialmente para grandes culturas como a soja, tem estimulado empresas e produtores a buscar soluções inovadoras para integrar ao manejo fitossanitário”, afirma o engenheiro agrônomo Juan Lopes Teixeira, mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Microbiologia Agrícola da Esalq, que pesquisou o tema sob orientação da professora Simone Possedente de Lira do Departamento de Ciências Exatas.
A pesquisa realizou a triagem de 20 cepas de Streptomyces spp., isoladas das ilhas de Alcatrazes e Palmas, situadas próximas à cidade de São Sebastião, no litoral paulista, com potencial antagonista a importantes fitopatógenos da soja. Entre as doenças-alvo estão a mancha-alvo (Corynespora cassiicola), a podridão seca da haste e da vagem (Phomopsis sojae), a podridão de carvão da raiz (Macrophomina phaseolina) e a mancha púrpura da semente (Cercospora kikuchii).

Juan Lopes Teixeira – Foto: Reprodução de vídeo
Controle de doenças
Segundo Juan Teixeira, duas inovações se destacam no projeto. “Na primeira geração, a utilização de células vivas de Streptomyces spp. no desenvolvimento de produtos biológicos, presente em menos de 15 produtos no mundo”, detalha. “Na terceira geração, o emprego de metabólitos secundários desses microrganismos para o controle de doenças, com resultados promissores de eficácia.”
Dos testes realizados, quatro cepas foram selecionadas para avançar no desenvolvimento de fungicidas de primeira geração, e uma cepa foi escolhida para a produção de um produto de terceira geração. Os resultados in vitro indicaram níveis de controle superiores a 53% em cultivos paralelos (feitos com diferentes culturas numa mesma área) e acima de 88% em cultivos cercados (em um espaço confinado). Para os metabólitos secundários, o controle ultrapassou 84%.

Quatro cepas de bactérias do gênero Streptomyces spp foram testadas como fungicidas de primeira geração, e uma na elaboração de produto de terceira geração; resultados in vitro indicaram níveis de controle acima de 88% em cultivos cercados – Foto: Divulgação Esalq
Segundo o engenheiro agrônomo, esses resultados contribuem para uma agricultura mais regenerativa e ajudam a reduzir a pressão de seleção de patógenos resistentes a fungicidas químicos. “Os biológicos podem atuar de forma complementar, proporcionando maior sustentabilidade no manejo de doenças e preservando a eficácia das moléculas sintéticas”, conclui.
O estudo contou com financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e bolsa de mestrado concedida pela Capes (Processo nº 88887.822602/2023-00). Neste vídeo, gravado para o projeto Construindo Ciência, o pesquisador fornece mais informações sobre o projeto.
*Assessoria de Comunicação da Esalq, adaptado por Júlio Bernardes