Anchor Deezer Spotify

Bactéria que vive na boca humana pode se replicar em 14 células de uma só vez

Bactéria que vive na boca humana pode se replicar em 14 células de uma só vez

Pesquisadores analisaram comportamento reprodutivo da Corynebacterium matruchoti, tipo de bactéria que existe na placa dentária. Suas colônias microbianas podem crescer até meio milímetro por dia

Cientistas descobriram que as bactérias Corynebacterium matruchoti, que vivem na placa dental que se acumula na boca humana, fazem um processo raro de divisão celular, chamado fissão múltipla. Esse processo permite que elas se repliquem em 14 células de uma vez — ao contrário da maioria das bactérias, que se dividem em duas.

A informação aparece em um estudo Marine Biological Laboratory (MBL), e do Instituto ADA Forsyth, dois centros de pesquisas dos Estados Unidos. A pesquisa que fala mais sobre a descoberta foi publicada na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences.

A boca humana abriga mais de 500 espécies de bactérias, que se estruturam de forma diferente umas das outras. Certas delas vivem em comunidades denominadas biofilmes — como é o caso da Corynebacterium matruchoti, que cresce nas placas dentárias. Uma das suas formas reprodutivas é por meio da divisão celular, em que uma célula-mãe origina duas células-filhas.

Um novo estudo analisou a divisão celular feita pelas bactérias Corynebacterium matruchoti que conseguem, em uma única vez, se dividir em 14 células diferentes, a depender do tamanho original da célula-mãe. Veja mais no vídeo abaixo.

“Os recifes têm corais, as florestas têm árvores e a placa dentária em nossas bocas tem Corynebacterium. As células de Corynebacterium na placa dentária são como uma árvore grande e espessa na floresta; elas criam uma estrutura espacial que fornece o habitat para muitas outras espécies de bactérias ao redor delas”, disse Jessica Mark Welch, coautora do artigo, em comunicado.

A descoberta levanta alguns questionamentos, como por exemplo como esses microrganismos conseguem se proliferar em abundância e se eles competem por recursos com os outros microbianos existentes na boca.

“Esses biofilmes são como florestas tropicais microscópicas. As bactérias nesses biofilmes interagem conforme crescem e se dividem. Acreditamos que o ciclo celular incomum de C. matruchotii permite que essa espécie forme essas redes muito densas no núcleo do biofilme”, afirma Scott Chimileski, cientista do MBL que liderou o estudo.

Para fazer esse estudo, os pesquisadores fizeram uma espécie de timelapse a nível microscópico, que permitiu ter imagens em tempo real do crescimento bacteriano e de estudar como as células crescem.

Ao escovar os dentes, as placas bacterianas são removidas e os dentistas recomendam que a ação seja feita duas vezes ao dia. Entretanto, não importa quantas vezes a escovação seja feita, o biofilme bacteriano sempre volta para a placa dentária. Além disso, cientistas descobriram que por dia, essas colônias microbianas podem crescer até meio milímetro.

As espécies de C. matruchotii também podem ser encontradas na pele e na cavidade nasal. Porém, nesses casos, essa bactéria está em forma de bastonete, sendo mais curtas. Nessa região, elas não conseguem se dividir muito.

Hipóteses sobre a divisão celular excessiva

Boa parte das bactérias se locomovem através de flagelos. Não é o caso das C. matruchotii, uma vez que elas não possuem essa estrutura. Por isso, a hipótese levantada pelos cientistas é de que esses micro-organismos se alongam pela divisão celular para conseguirem se mover e explorar o ambiente. As bactérias Streptomyces e os fungos que vivem no solo se comportam de forma semelhante, usando suas redes miceliais.

“Se essas células têm a capacidade de se mover preferencialmente em direção a nutrientes ou a outras espécies para formar interações benéficas, isso pode nos ajudar a entender como ocorre a organização espacial dos biofilmes de placas”, explica Chimileski.