Asas de abelhas podem indicar o estado de saúde do planeta

O formato e a simetria das asas das abelhas podem revelar muito sobre as condições do meio ambiente. É o que demonstra um estudo publicado na revista internacional Sociobiology, realizado com a participação de especialistas do Centro de Conhecimento em Biodiversidade (INCT/CNPq/MCTI). A investigação identificou que pequenas variações nas asas de abelhas africanizadas (Apis mellifera) funcionam como indicadores biológicos de estresse ambiental, oferecendo uma nova forma de monitoramento ecológico em tempos de mudanças climáticas.
O trabalho teve início a partir da pesquisa de mestrado do professor da rede municipal de Dom Joaquim, Benoni Santos, sob orientação do professor Geraldo Fernandes, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), e em colaboração com a Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes). Foram examinados 1.050 indivíduos criados em apiários de Dom Joaquim, município mineiro reconhecido pela produção de mel silvestre. Os resultados mostraram que colmeias em áreas com pouca vegetação nativa e baixa diversidade floral apresentavam maior diferença entre as asas esquerda e direita — fenômeno chamado “assimetria flutuante”. Já em regiões com cobertura vegetal abundante, as asas das abelhas eram mais simétricas e saudáveis.

As condições internas das colmeias também se mostraram decisivas. Ambientes úmidos e quentes aumentaram a mortalidade e provocaram alterações nas asas. Isso porque a umidade elevada dificulta a regulação da temperatura corporal dos insetos e favorece doenças como a cria giz, além de potencializar os efeitos negativos do calor intenso.
Outro fator preocupante foi a elevada infestação pelo ácaro Varroa destructor, considerado o principal parasita das abelhas. Em algumas colmeias, o índice chegou a 42%, oito vezes acima da média nacional, que varia entre 4% e 5%. Esse parasita contribui para a assimetria das asas, reduz o peso dos indivíduos, prejudica o voo e a orientação, e ainda transmite vírus que comprometem a colônia.
Asas que são radares
Os cientistas identificaram que três pequenas venações (suportes que dão fimeza às asas) respondem de forma particularmente sensível às mudanças no ambiente, tornando-se marcadores eficientes para detectar alterações e situações de estresse no ecossistema. Com isso, avaliar a simetria das asas surge como um método viável e de baixo custo para monitorar a saúde das colmeias, beneficiando tanto apicultores quanto pesquisadores.
A pesquisa propõe uma alternativa inovadora para diagnósticos ambientais e reforça a importância de preservar a vegetação nativa, adotar boas práticas de manejo e manter um acompanhamento constante das colmeias. Essas ações são fundamentais para a sobrevivência das abelhas, peças-chave para a polinização e para o equilíbrio dos ecossistemas.
Apesar de seu papel indispensável na produção de alimentos, as abelhas têm sofrido um aumento alarmante nas taxas de mortalidade em todo o mundo, resultado de fatores como a destruição de habitats, o uso intensivo de agrotóxicos e o aquecimento global. Ao demonstrar que mudanças mínimas nas asas podem sinalizar o estado de saúde ambiental, o estudo oferece uma ferramenta estratégica para antecipar riscos e proteger esses polinizadores essenciais em um cenário de incertezas climáticas.