Cientistas acompanham pela primeira vez evento gerador de ondas gravitacionais

Cientistas das principais instituições de pesquisas físicas e astronômicas do mundo anunciaram no início da tarde desta segunda-feira um feito inédito na história da ciência: a observação direta de um poderoso evento cósmico gerador de ondas gravitacionais. Provocadas pela fusão de duas estrelas de nêutrons em uma galáxia a cerca de 130 milhões de anos-luz de nosso planeta, estas distorções no espaço-tempo foram detectadas em agosto inicialmente pelos equipamentos da colaboração científica Ligo, nos EUA, e sua contraparte europeia, Virgo.

Esta detecção levou à pronta mobilização de observatórios astronômicos na Terra e no espaço na busca por sua fonte no espectro eletromagnético, com os pesquisadores identificando-a tanto por meio de raios gama quanto em emissões de raios-X, luz visível e infravermelho.

Alvo do recém-concedido Prêmio Nobel de Física de 2017, as quatro detecções de ondas gravitacionais anunciadas até agora tinham sido resultado da fusão de buracos negros em galáxias muito mais distantes. Estes objetos, no entanto, são tão maciços que nem a luz consegue escapar de sua enorme gravidade, o que impossibilita sua observação direta no espectro eletromagnético.

No caso das estrelas de nêutrons, porém, isso não acontece. Embora também sejam maciços o bastante para gerarem ondas gravitacionais detectáveis com os equipamentos atuais, estes restos superdensos de estrelas que explodiram em supernovas não entram em completo colapso a ponto de se transformarem em buracos negros. Com isso, sua fusão foi seguida dois segundos depois pela detecção de uma explosão de raios gama, e logo alvo de escrutínio no resto do espectro eletromagnético.

Segundo os cientistas, as observações confirmaram algumas antigas previsões sobre este poderoso evento e forneceu pistas para a compreensão de diversos mistérios cósmicos. Em diversos artigos publicados simultaneamente nas revistas “Nature” e “Nature Astronomy”, eles relatam que além da explosão de raios gama, de início o fenômeno brilhou intensamente em azul para depois se avermelhar.

As assinaturas de radiação observadas também indicam que a fusão provocou a ejeção de material radioativo num tipo de explosão de baixa luminosidade conhecida como “quilonova”. Os estudos sugerem que este tipo de fusão de estrelas de nêutrons provavelmente é a principal fonte de alguns dos elementos mais pesados que o ferro existentes do Universo. Por fim, os cientistas usaram as informações do evento para estimar a chamada “Constante de Hubble”, uma medida da expansão do Universo. Segundo os cálculos dos pesquisadores, nosso espaço-tempo está se expandindo a uma taxa de 70 quilômetros do segundo por megaparsec (medida de distância equivalente a 3,26 milhões de anos-luz), em linha com estimativas anteriores.

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