Papel higiênico: Problemas no consumo e na produção, meios para reduzir e alternativas
De acordo com o Word Wildlife Fund (WWF – ONG internacional com o objetivo de conservar, investigar e recuperar o meio ambiente), todos os dias, cerca de 270 mil árvores são encaminhadas para aterros sanitários e lixões na forma de papel de limpeza (papel toalha, guardanapos e papel higiênico). Desse total, 10% é formado por papel higiênico, o que representa cerca de 27 mil árvores desmatadas e enviadas para aterros e lixões todos os dias após o uso. Isso que muita gente ainda não tem acesso ao papel higiênico, principalmente em comunidades carentes. Com a melhora nas condições sanitárias, principalmente em países pobres, a tendência é de aumento do uso do papel.
Desmatamento
O papel higiênico é responsável por 15% de todo o desmatamento, um contribuinte significativo para o aquecimento global. O pior é que a cada 3,5 toneladas de fibra bruta são feitas apenas duas toneladas de rolos higiênicos.
Só em 2010, no Brasil, foram consumidos 4,708 bilhões de rolos de papel higiênico. Na produção são utilizadas cada vez mais técnicas de secagem que demandam grandes quantidades de energia para deixar o produto macio. E os processos de branqueamento à base de cloro poluem fontes locais de água.
Vida animal e indígena
Muitas vezes, para iniciar o cultivo de espécies ricas em celulose há o deslocamento de vida animal e indígena para dar lugar às novas árvores.
Água, agrotóxicos e pesticidas
Com a pressão para reduzir o uso de florestas antigas na produção, há uma tendência ao plantio de novas árvores para serem destinadas a esse fim.
O problema é que essas novas plantações, ao contrário ao que muita gente pensa, podem trazer problemas significativos.
Na esmagadora maioria da vezes, esse tipo de plantação é formada por monoculturas que, além de prejudicarem a biodiversidade animal por serem “desertos verdes” e não sustentarem diversas formas de vida, são formadas por eucaliptos. Essa espécie demanda quantidades exorbitantes de água, pesticidase fertilizantes, trazendo impactos significativos ao meio ambiente. Para se ter uma ideia, o eucalipto é utilizado para drenar regiões de pântanos.
Poluição
Produtos químicos utilizados na fabricação do papel acabam sendo descartados no ambiente aquático e até mesmo no ar. Os agentes braqueadores como o cloro, por exemplo, que compõem 30 quilos a cada tonelada de papel higiênico produzido, são na maioria das vezes, descartados em águas locais.
Como evitar ou reduzir esses impactos?
Para um item tão presente e necessário no cotidiano parece impossível haver alternativa, não é mesmo? Mas abaixo listamos as vantagens e desvantagens de algumas delas:
Redução
O passo mais básico para começar a reduzir a pegada ambiental do uso de papel higiênico é parar para pensar se a quantidade de papel que está sendo utilizada é realmente a necessária.
Atualmente ha, nos mercados, uma série de marcas que fazem rolos de papel higiênico na versão folha dupla e até tripla.
Se você usa as versões com folha dupla ou tripla atente-se para não usar quantidades desnecessárias de papel. É importante dobrar os picotes de forma harmoniosa para que aumente a superfície de contato, em vez de fazer um montinho de papel em que metade irá para o lixo sem utilização.
Evitar embranquecidos
O cloro utilizado para embranquecer o papel higiênico, após descartado, acaba sendo um significativo poluidor das fontes de água locais. Por isso é importante não priorizar essa característica que não passa de um atributo estético e optar por produtos não embranquecidos.
Reciclado
Outra alternativa que vem sendo utilizada é o papel higiênico reciclado.
De acordo com o Centro Ambiental da Universidade do Colorado, nos EUA, em publicação pela World Watch, uma tonelada de papel reciclado economiza 3.700 quilos de madeira, 90.849 litros de água e usa 64% menos energia e 50% menos água na produção em comparação ao papel comum. Além disso, cria 74% menos poluição do ar, poupa 17 árvores e cria cinco vezes mais empregos do que uma tonelada de produtos de papel de celulose de madeira virgem.
O problema é que, no que diz respeito ao papel para uso higiênico, o papel reciclado é perigoso. Um estudo publicado pela Environmental Science & Technology mostrou que muitos produtos de papel reciclado – como papel higiênico, guardanapos de papel e toalhas de papel são frequentemente contaminados com BPA, substância que atua como disruptor endócrino e têm sido associada a problemas de câncer, diabetes, fígado, tiroide e defeitos congênitos, doenças cardíacas e ainda mais. Essa substância é comumente encontrada no papel feito para impressoras térmicas que imprimem recibos de vendas e no jornal como melhorador de cor e, após a reciclagem, continua presentes no papel higiênico reciclado e passa diretamente para a corrente sanguínea após entrar em contato com a pele.
Bagaço
No processo da fabricação de cana-de-açúcar é gerado bagaço, um subproduto que de qualquer forma seria descartado.
Como a cana-de-açúcar é a produção mais abundante no mundo, biodegradável e uma das fibras não arbóreas mais facilmente disponíveis, o papel higiênico produzido a partir desta fibra poderia ser uma alternativa com uma pegada ambiental menor. Entretanto, não é uma alternativa totalmente livre de impactos e normalmente não é fácil encontrar marcas que façam este tipo de produto, apesar de existirem.
Água
Em muitas culturas no mundo não faz sentido usar papel para limpar fezes. Essas culturas estão corretas. Utilizar água para higienização no lugar do papel higiênico além de mais saudável é mais viável para o ambiente.
De acordo com Bill Worrel, gerente da Autoridade de Gerenciamento de Resíduos Integrados do Condado de San Luis Obispo na Califórnia, nos EUA, se o papel higiênico fosse substituído pela água na higienização, o consumo de produtos de papel poderia ser reduzido de 50% a 90%. De acordo com o mesmo, é um dado significativo, pois se esta medida fosse adotada somente nos EUA, por exemplo, haveria redução de desmatamento de 54 milhões de árvores por ano. A economia também seria de água, pois para produzir cada rolo são utilizados em média 140 litros de água. O americano médio usa 57 folhas de papel higiênico por dia, cerca de 3,7 litros de água por dia, apenas para o processo de fabricação. Isso se compara a cerca 0,01 litro de utilização de duchas conectadas a privadas, também presente em bidês.
Em relação às vantagens à saúde, Rose George, autora de The Big Necessity: The Unmentionableas, afirma que houve diminuição na ocorrência de doenças de origem fecal principalmente em países em desenvolvimento em que a cultura de higienização é úmida, ou seja, que utilizam água na higienização.
De acordo com a mesma, é ilógico utilizar algo seco para limpar a parte mais suja de nosso corpo quando utilizamos água para limpar todo o resto.
Pano
Para a higienização da urina também seria mais indicado utilizar a lavagem, entretanto, como é uma necessidade mais frequente, uma alternativa seria utilizar toalhas de pano para substituir o papel higiênico. Primeiramente porque a urina em condições normais é estéril, então usar pano higiênico não apresentaria problemas em relação à questão de micro-organismos, seria apenas uma forma de neutralizar os odores da amônia.
E os panos higiênicos podem ser reutilizados após a lavagem. Nesse sentido, temos o exemplo dos usos de fraldas e absorventes de pano que são utilizados sem trazer risco à saúde, pelo contrário, normalmente são os produtos descartáveis que prejudicam a saúde por conterem substâncias agressivas como fragrâncias, e no caso do papel higiênico reciclado, o BPA.
Se ainda não dispomos de papel higiênico reciclado seguro, existem outras alternativas, inclusive as que já eram utilizadas por nossos antepassados, como a água e pano. Portanto, escolha qual opção combina mais com você e deixe sua pegada mais leve, começando por evitar desperdícios e os papéis embranquecidos.