Dormir menos que oito horas pode ser prejudicial à saúde. Entenda a seguir

Um terço da vida. É o tempo, em média, que o ser humano passa dormindo. Mas, com a atual vida corrida – marcada pelo movimento frenético nas redes sociais, a comodidade dos fast-foods e a armadilha do sedentarismo – o brasileiro anda dormindo bem menos do que precisa para ter uma vida saudável. As evidências desses hábitos prejudiciais são muitas, boa parte delas já comprovadas por pesquisas.

De acordo com o Instituto Brasileiro do Sono (www.institutobrasileirodosono.com.br) um das principais funções do descanso noturno é a restaurativa, ou seja, trazer o organismo de volta à condição em que iniciou o dia, após a jornada de obrigações que se tem no decorrer dele. É como se a reserva de substâncias químicas que regulam o funcionamento do organismo fosse reabastecida durante o sono.

A privação do sono está, ainda, diretamente ligada à consolidação da memória e do aprendizado. Afinal, toda informação que recebemos ao longo do dia, seja estudando, trabalhando ou na vida social, é consolidada durante a noite de sono. Tanto que quem atravessa a noite estudando para fazer uma prova, por exemplo, tem grande chance de, no dia seguinte, não se lembrar bem do que estudou. E ao tentar resgatar esse mesmo estudo dias depois, a chance de não se lembrar de mais nada será ainda maior.

Adolescentes são alvo – Repouso essencial ao organismo humano, é durante o sono normal que ocorre a redução da pressão arterial, a diminuição dos batimentos cardíacos, o relaxamento muscular e a queda da produção de urina. Os hormônios também são fortemente influenciados pelo tempo que se passa nos ‘braços do Morfeu’. Em especial a insulina, responsável por controlar as taxas de glicose no sangue.

Entre os adolescentes os riscos são maiores. O alerta vem de pesquisas da Universidade de Campinas (www.unicamp.br). “Dormir menos que oito horas diárias pode ser um fator de risco para doenças cardiovasculares futuras. O start de tudo é a resistência à insulina. Depois vêm o ganho de peso, o diabetes e outros fatores”, enumera o professor e endocrinologista Bruno Geloneze, que lidera um grupo de pesquisa multidisciplinar chamado Brazilian Metabolic Syndrome Study (Brams).

“Alguns adolescentes estão ficando acordados de madrugada, porque inacreditavelmente estão estressados, e não porque estão felizes. E dormir menos leva a uma piora da ação e da resistência à insulina, independentemente do ganho de peso. As oito horas não são apenas para descanso, mas para que o metabolismo funcione adequadamente”, ressalta.

A importância do sono para a saúde

 Bruno Geloneze: “Dormir menos leva a uma piora da ação e da resistência à insulina” – Imagem: Antonio Scarpinetti

Recentemente, o Brams fez uma publicação na revista Jama Pediatrics, uma das mais importantes da área de pediatria, questionando se dormir pouco seria uma das causas do aumento da obesidade infanto-juvenil. “O adolescente passa a noite interagindo com o computador, tablet e smartphone. Come errado e, no dia seguinte, como está cansado, não pratica atividade física.”

Modelo comprovado – De acordo com os estudos, num grupo de mais de mil adolescentes, alguns que não tinham obesidade já apresentavam resistência à insulina. Como o diabetes é precedido de obesidade, que por sua vez é precedida de resistência à insulina, isso significa que as pessoas terão resistência à insulina antes mesmo de ficarem obesas. Esse modelo de privação do sono já havia sido descrito em experimentos com animais e agora se confirma em humanos.

Do ponto de vista biológico, o mamífero primata tem hábitos diurnos e, originalmente, são duas as situações em que ele fica acordado à noite: quando tem de buscar comida fora da situação normal e quando precisa fugir do predador. Sendo assim, desenvolver resistência à insulina parece ser uma forma de adaptação ao estresse, para evitar a hipoglicemia da luta e o consumo de energia nessas situações. É o que acontece com o organismo do adolescente.

“A diferença é que ele fica acordado à noite por opção própria. Fica tranquilo, curtindo seus programas noturnos e conversando nas redes sociais. No entanto, sua célula interpreta aquela situação como sendo de extremo estresse, promovendo adaptações biológicas, mesmo sem sua vontade”, salienta o pesquisador.

A boa notícia é que as alterações precoces de sono podem ser interceptadas com aconselhamento e a adoção de novos hábitos. Entre eles, dormir na hora certa e pelo menos em quantidade mínima. “Em termos de saúde pública, a higienização/revisão dos hábitos de sono pode ser mais importante até do que incentivar exames para detectar a resistência à insulina, que aciona o aviso para o desenvolvimento do diabetes e de doenças cardiovasculares, como o infarto e o acidente vascular cerebral (AVC)”, conclui.

A importância do sono na adolescência

Estresse faz com que adolescentes fiquem acordados de madrugada – Imagem: Reprodução

O resultado desse e de outros dois estudos do Brams, financiados pelo CNPq, lançam novas luzes sobre a investigação dos efeitos da obesidade infantil sobre a resistência à insulina. Eles foram desenvolvidos no Laboratório de Investigação em Metabolismo e Diabetes (Limed) e contam com o suporte de mais cinco subinvestigadores e outros 30 colaboradores.

Também participam desse esforço outros centros, tais como a Universidade Federal do Ceará (UFC), a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e os municípios de Três Corações (MG) e de Itu (SP).

Entre os principais distúrbios diurnos relacionados à má qualidade de sono estão: falta de atenção, concentração reduzida, diminuição da produtividade física e intelectual, além do aumento do risco de acidentes.

Transtornos como depressão e ansiedade também são relacionados ao sono ruim.

* Com informações do Portal/Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp.

 

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