Setembro Dourado: o mês de conscientização sobre o câncer infantojuvenil

Por Alexandre Nunes

Uma campanha de conscientização quer chamar a atenção para os sinais e sintomas do câncer infantojuvenil e para a importância do diagnóstico precoce da doença, por meio de ações preventivas e educativas. Trata-se do Setembro Dourado, uma campanha nacional que teve início dia 1º e segue até o dia 30 deste mês.

Segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca), pelo menos 12,6 mil crianças e adolescentes devem ter câncer nos próximos dois anos, mas o momento também é de esperança e as famílias com crianças diagnosticadas com câncer não devem desanimar, já que 70% dos casos de câncer infantojuvenil tem cura. “Os avanços de pesquisas e tratamentos já podem curar os jovens pacientes, principalmente quando o diagnóstico é feito a tempo, ou seja, precocemente”, comenta a médica Andréa Gadelha.

Andréa, que é especialista em cancerologia infantil e que chefia a Unidade de Pediatria do Hospital Napoleão Laureano, explica que o tratamento é mais eficaz em relação à criança do que ao adultos, que apresentam índices menores de cura. “Não é possível se falar em prevenção ao câncer infantojuvenil, porque diferente do que ocorre com os adultos, nos quais 80% dos casos são de origem ambiental, as crianças têm tumores embrionários e dependem de uma boa avaliação médica, desde o nascimento até a fase da adolescência, para que tenha sempre a chance de um diagnóstico precoce da doença”, detalha.

A médica recomenda que é muito importante a criança ser levada ao pediatra para ser examinada sempre que se apresente alguma situação de anormalidade. Ela destaca a importância da campanha Setembro Dourado porque alerta as famílias que o câncer infantil existe e que ele não é só uma especulação da televisão. “O nosso Setembro Dourado vem para mostrar às pessoas que o câncer existe, tem cura e que para isso é preciso apenas um diagnóstico precoce. É só levar a criança ao pediatra, que solicitará os exames necessários”, complementa.

Segundo informa a pediatra, os cânceres mais comuns na infância e na adolescência são as leucemias. “O maior pico de incidência da leucemia é dos cinco até os dez anos de idade. Repito: quanto antes a doença for descoberta, maiores são as chances de vencê-la”, reitera Andreia Gadelha.

Além das leucemias, outras neoplasias também frequentes na infância são os tumores do sistema nervoso central e os linfomas que atingem o sistema linfático. Também acometem as crianças o neuroblastoma, que é o tumor de células do sistema nervoso periférico, frequentemente de localização abdominal, o tumor de Wilms, que é o tumor renal, a retinoblastoma, que é o tumor da retina do olho, o tumor germinativo, que é o tumor das células que vão dar origem às gônadas, o osteossarcoma, que é o tumor ósseo, e os sarcomas, que são tumores de partes moles.

Sintomas – Um dos objetivos da Campanha Setembro Dourado é orientar a população no sentido de aprender a identificar os sintomas do câncer infantojuvenil e com isso aumentar as possibilidades de cura com o diagnóstico precoce. Se a criança começar a apresentar palidez, dor óssea e hematomas ou sangramentos pelo corpo, caroços ou inchaços, especialmente se forem indolores e não acompanhados de febre – além de outros sinais de infecção, procurar imediatamente um pediatra, ou até mesmo o serviço ambulatorial de referência no tratamento do câncer, a exemplo da Unidade de Pediatria do Hospital Napoleão Laureano.

Outros sintomas que devem acender o sinal de alerta dos pais são perda de peso inexplicável, febre e sudorese noturna, tosse persistente ou falta de ar, alterações oculares, com embranquecimento da pupila, estrabismo recente, perda visual, hematomas ou inchaço ao redor dos olhos. Também devem ser observados a ocorrência de inchaço abdominal, dores de cabeça, sobretudo se forem incomuns e contínuas, além de vômitos frequentes pela manhã ou com piora ao longo do dia, dores nos membros, inchaços sem nenhum sinal de infecção ou trauma. A observação desses sintomas e a procura dos centros de referência, em caso de suspeita, tem caráter preventivo, não significa necessariamente que a criança tenha a doença.

A médica Andréia Gadelha reitera a importância da descoberta precoce do câncer infantojuvenil para se alcançar a cura da doença. “Os pais podem fazer contato direto com o serviço de pediatria do hospital, ligando para o telefone 3015-6256. Na hora que liga para esse número é agendado uma consulta, e não demora muito. É uma consulta rápida. É importante que, em caso de suspeita, os pais liguem, porque a gente quer alcançar um diagnóstico mais precoce. A gente quer evitar que essa criança demore muito para fazer a primeira consulta, pois na hora que demora a doença assume outras proporções e a gente tem mais dificuldade no tratamento”, observa.

Hospital é referência no tratamento do câncer infantojuvenil

O Hospital Napoleão Laureano é referência no tratamento do câncer infantojuvenil na Paraíba. De acordo com o Relatório de Governança Corporativa 2015 daquela casa hospitalar, o hospital realizou, na Pediatria, 2.561 consultas, 1.001 quimioterapias e 772 internações.

Resultado de imagem para hospital napoleão laureanoEm 2015, de um total de 772 internações na Pediatria, 713 pacientes receberam alta (92,36%) e 59 foram a óbito (7,64%). Só na faixa etária de zero a 12 anos, o hospital atendeu, entre 2013 e 2015, um total de 11.558 pessoas.

De acordo com o Sistema de Registro Hospitalar de Câncer (SisRHC) do Inca, além do Hospital Napoleão Laureano, outras instituições hospitalares também prestam atendimento às crianças e adolescentes com câncer na Paraíba, a exemplo do Hospital Escola da Fundação Assistencial da Paraíba (FAP), em Campina Grande.

As estimativas para o ano de 2016 é que a Paraíba apresente uma incidência de 4.110 novos casos de câncer, referentes a todas as neoplasias e que podem atingir qualquer faixa etária de idade, ou seja, da criança ao adulto.

Crianças alcançam a cura com o diagnóstico precoce

O diagnóstico precoce do câncer em crianças e adolescentes tem sido o responsável por casos de pessoas que alcançaram a cura ou o controle da doença e hoje tem uma boa qualidade de vida, como comprovam alguns depoimentos.

Antonia Francisca de Souza tem uma filha de 14 anos que faz tratamento contra o câncer há um ano e sete meses. Ela mora na cidade de Sousa, no Sertão da Paraíba e traz a filha a cada 25 dias para o trabalho de manutenção do tratamento em João Pessoa, no Hospital Napoleão Laureano.

Segundo Antonia, os médicos dizem que sua filha tem 80% de chances de cura, já que a doença foi diagnosticada precocemente e porque se trata de uma leucemia comum. “Está tudo sob controle. Ela ainda não está estudando e só volta à escola no ano que vem, se Deus quiser”, confia.

Antonia Francisca relata que sua filha tinha 12 anos quando a doença foi descoberta. “Ela era uma criança normal e saudável. Só havia feito uma cirurgia de adenoide quando tinha nove anos. De repente, a menina sentiu uma febre de três dias, que não era virose nenhuma. Levei para o hospital infantil de nossa cidade, onde foi feito um hemograma e o encaminhamento dela direto para João Pessoa, com a suspeita de Leucemia. Em seguida veio o tratamento”, complementa.

Ela explica que, no início do tratamento, a filha chegou a ficar alguns meses internada no Hospital Napoleão Laureano. “Depois a gente ficou vindo toda semana e, agora, comparecemos ao hospital a cada 25 dias. O importante é que tudo está dando certo e se Deus quiser contaremos com uma vitória”, afirma, mostrando otimismo. Antonia é professora, casada, tem outro filho com 12 anos, que fica sobre os cuidados da avó, em Sousa, e está grávida, à espera de mais uma filha. A filha de Antonia Francisca, Isabele, se sente encorajada e enfrentando a doença destemidamente. Ela diz que já passou pela parte mais difícil da doença e que agora se sente feliz e considera-se praticamente curada.

Outro relato que mostra a importância do diagnóstico precoce é o caso da menina Joane, 8 anos, e que quando tinha um pouco mais de dois anos apresentou um quadro estranho de febre, sendo levada pelos pais ao atendimento pediátrico do Hospital Regional de Guarabira. Na ocasião, a pediatra suspeitou de leucemia e encaminhou a paciente imediatamente para o Hospital Napoleão Laureano, onde o diagnóstico foi confirmado e Joane fez o tratamento.

Atualmente, segundo depoimento do seu avô materno, José Freire Macedo, a menina, agora já com oito anos, vem a cada três meses a João Pessoa para uma manutenção de rotina no Hospital Napoleão Laureano. “Somos de Guarabira e agora mesmo ela está aqui no hospital sendo examinada e a expectativa é que a médica diga qual o novo período para a revisão, ou até que venha a dar a alta definitiva do tratamento, já que minha neta encontra-se muito bem, totalmente saudável e até estudando, Graças primeiramente a Deus e ao fato da doença ter sido descoberta logo”, conclui.

Casas de apoio ajudam famílias de crianças e adolescentes com câncer

Duas iniciativas são hoje referência no trabalho voluntário de apoio extra hospitalar às mães e crianças com câncer, ajudando na humanização do tratamento.

A primeira é a Casa da Criança com Câncer, fundada em setembro de 1997, em João Pessoa, nascida do sonho do médico hematologista, Gilson Espínola Guedes, que, ao longo de vários anos, conviveu com a angústia e sofrimento de mães e crianças que não tinham um local adequado para descanso, durante o tratamento de quimioterapia e radioterapia recebido na capital paraibana.

A segunda é a Associação Donos do Amanhã, fundada em 2005, também em João Pessoa, por iniciativa da médica Andréa Gadelha, atual chefe da Unidade de Pediatria do Hospital Napoleão Laureano, que mobilizou colaboradores que se propusessem a fazer doações e prestar trabalho voluntário, com o objetivo de oferecer apoio material e afetivo, necessários para boa qualidade de vida das crianças e adolescentes com câncer.

Geraldo Vicente, coordenador geral do Núcleo de Apoio à Criança com Câncer (NAC), cujo nome de fantasia é Casa da Criança com Câncer, explica que a casa funciona em regime de hotel e com certa rotatividade, acolhendo uma clientela mensal de 92 crianças, com acompanhantes, geralmente as mães. Desde a fundação, até agora, a Casa da Criança com Câncer já atendeu aproximadamente 20 mil crianças. “O lema da casa é atender. Aqui nunca foi recusado um paciente”.

Ele acrescenta que na casa é oferecido todo um serviço de apoio. “Acolhemos as crianças e elas têm aqui o seu apartamento, material de limpeza, de higiene pessoal, tudo fornecido pela casa. Também são oferecidas seis refeições diárias, ou seja, café, almoço, jantar e três lanches alternados. Quando a criança retorna para casa tem direito a uma cesta básica mensal. É um apoio a mais para a família, porque a criança precisa estar bem alimentada para fazer um tratamento agressivo como é quimioterapia e a radioterapia”, justifica.

Geraldo Vicente revela ainda que a casa oferece o apoio de transporte para levar a criança da instituição para o hospital e também para a rodoviária. “Hoje já existe um decreto do governador Ricardo Coutinho que garante o passe livre para o portador de câncer, ou seja, a mãe e a criança têm o passe livre nos ônibus para se deslocar a qualquer cidade do Estado da Paraíba”, informa.

Segundo o gerente, a casa conta com a colaboração de 36 voluntários em diversas áreas, incluindo dentistas e psicólogos, que atendem os pacientes e acompanhantes nos consultórios instalados na instituição. “Também temos o Anexo Valderedo Monteiro, onde funcionam oficinas de corte e costura, cabeleireiro, manicure e pedicure, além da parte de culinária, na qual as mães treinam toda as quartas-feiras e muitas delas quando saem já tem um meio de vida para atender às suas necessidades. Quando elas chegam em suas cidades certificadas com um curso feito na Capital, isso ajuda muito na vida delas”, assegura.

Já a gerente administrativa da Associação Donos do Amanhã, Cristiane Lemos, explica que, no período pós-consulta e a espera do carro para retornarem às suas cidades, as crianças e seus familiares ficavam perambulando em volta das dependências do Hospital Napoleão Laureano, embaixo de árvores, sentados nos bancos aguardando o transporte, sem apoio nenhum, às vezes até sem recursos pra comer. Então, vendo essa necessidade, a oncopediatra Andreia Gadelha resolveu criar a “Donos do Amanhã”.

“A nossa finalidade é ser a extensão da casa dessas pessoas, enquanto estão aqui. Não é uma casa de hospedagem, mas apenas de passagem. Então, as pessoas chegam aqui, tomam café da manhã, almoçam e lancham. Tem um banheiro para as crianças tomarem um banho, uma cama para mães descansarem, uma televisão com videogame para as crianças jogarem, ou seja, é como se você estivesse na sua própria casa, sem precisar ficar ao relento, enquanto espera o carro da prefeitura vir buscá-lo”, detalha.

O atendimento da casa funciona de 7h às 17h, de segunda a sexta-feira. Aos sábados, abre às 7h e fecha às 11h. Nesse período, as famílias que trazem crianças e adolescentes para exames ou consultas no Hospital Napoleão Laureano podem contar com a assistência da Associação Donos do Amanhã.

Atualmente, a casa tem 227 crianças cadastradas vindas de todo o Estado da Paraíba para tratamento do câncer em João Pessoa. “Os pacientes cadastrados recebem mensalmente uma cesta básica, seis latas de Leite Ninho, duas latas de suplemento alimentar, que é para equilibrar a alimentação, já que nesse período de 11 anos dos “Donos do Amanhã” ficou comprovado que, com uma boa alimentação, as crianças aceitam melhor o tratamento e tem uma resposta mais efetiva”, constata Cristiane Lemos.

Ela acrescenta que para agilizar um diagnóstico precoce do câncer nas crianças com sinais da doença, a Associação Donos do Amanhã paga à vista, em clinicas particulares, todos os exames que essas crianças necessitam. “O Sistema Único de Saúde (SUS) também paga esses exames, mas entre o agendamento e a realização do exame o período é muito longo e a criança não pode esperar, pois quanto mais rápido for o diagnóstico, mais chance a criança tem de cura. A criança chegando no Laureano e constatando vestígio da doença, a primeira coisa que a gente faz é pagar o exame à vista. A gente paga exames de R$ 500 até R$ 3.900, e isso porque as clínicas cobram um valor especial e diferenciado. Tem meses que a gente passa de R$ 30 mil em gastos com exames”, revela.

A Associação Donos do Amanhã é composta, em sua a maior parte, por voluntários, inclusive sua diretoria. A casa conta com psicólogo e fisioterapeuta que atuam em atividades de apoio, já que o atendimento médico dos pacientes é feito exclusivamente no Hospital Napoleão Laureano. A casa também dispõe de monitores que aplicam oficinas de terapia ocupacional para as mães ou acompanhantes das crianças em tratamento contra o câncer. “A ideia é que essas mães possam desopilar e tirar um pouco o foco da situação porque passam, no enfrentamento da doença que acometem seus filhos. Tem uma senhorinha que ensina fazer fuxico, uma das atividades ocupacionais desenvolvidas”, concluiu.

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Serviços de atendimento aos portadores de câncer infantojuvenil e familiares

Hospital Napoleão Laureano – Unidade de Pediatria

Avenida Capitão José Pessoa, 1140, Jaguaribe, João Pessoa

Telefone: 3015-6256

Casa da Criança com Câncer

Rua Deputado Odon Bezerra, 215 – Tambiá, João Pessoa

Telefone: 3241-3233

Associação Donos do Amanhã

Avenida 12 de Outubro, 777, Jaguaribe, João Pessoa

Telefone: 3242-2710

Hospital Escola da Fundação Assistencial da Paraíba (FAP)

Rua Dr. Francisco Pinto Oliveira, S/N – Bodocongó, Campina Grande

Telefone: 2102-0300

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